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Você sabe o que é o rap, mas, o que será o rap?

“Hoje agradece BK, Síntese e Sant
Cês são o futuro, porra
(Fala pra eles que é o rap!)”

Há 3 anos atrás Marechal esbravejava esses versos em sua música “Primeiro de Abril“. Desde então muita coisa mudou no rap nacional e outras permaneceram da mesma forma (cadê o álbum, Marechal?). Contudo, nem mesmo nas suas maiores ideias, o ex-Quinto Andar teria noção de como estaria a cena, hoje dia 02 de abril de 2019, e nem o caminho que esses três nomes citados percorreriam até aqui.

Você que está lendo isso agora já deve imaginar o que me motiva a escrever essas palavras, ontem, através do seu Instagram, Sant anunciou o fim de sua carreira no rap. Essa aqui (pelo menos espero) não vai ser apenas uma matéria usando a parada de um dos maiores, melhores e mais promissores nomes da nova escola do rap nacional para conseguir cliques e acessos. Aqui não há oportunismo, na verdade, existe até uma certa identificação com o artista. Mais do que um texto, isso aqui serve como desabafo, depoimento ou entenda da melhor forma, e Sant só me serviu como espelho.

O rap é bastante difícil de descrever ou simplesmente definir, é até assustador a proporção que ele tomou e tentar medir isso, é mais assustador ainda. Tem quem tente fazer isso, como o Marechal, e tivemos exemplos vivos que confirmam a impossibilidade de tentar executar essa ação.

Daqui uns dias o BK vai estar no palco do Lollapalooza, quem há 3 anos atrás iria prever não apenas isso, mas que ele seria um dos maiores nomes do rap nacional atualmente? Olha só o bagui virou, aconteceu e isso é inspirador por tudo que o MC, a arte e a vida representam, nada mais gratificante. Do outro lado da moeda, tem o Síntese, a clássica dupla formada por Leo e Neto, (e posteriormente apenas por Neto), no momento encontra-se num “limbo”. Os autores do clássico “Sem Cortesia” passaram por diversos caminhos não muito bons, Leo chegou a ser preso injustamente e hoje responde em liberdade e Neto participou de episódios de violência doméstica. Tudo isso você já deve estar mais do que ciente, mas sempre é bom lembrar do caminho até aqui, como sempre faz Marechal em suas músicas.

No meio de tanta histórias de sucesso ou “fracasso” nesse jogo do rap, sempre esquecemos que atrás do microfone e dos palcos, tem alguém igual a você e a mim. O MC é uma figura distante, ou melhor, o artista é distante e nas pequenas identificações que criamos com eles, temos a pequena ilusão de que sabemos a completude da personalidade/pessoa que escreveu e cantou alguns versos. Ser artista é mostrar-se humano, enquanto a visão externo te desumaniza todos os dias. Nesse momento que finalmente podemos falar do Sant e o ponto especifico aqui, que não é apenas a tal pausa em sua carreira, é algo um pouco maior.

Apesar dos motivos que o levam a tomar essa decisão ou se isso for apenas uma brincadeira de 1° de abril e eu estiver escrevendo isso em vão, essa situação só corrobora com tudo que falei até então. Estamos lidando com pessoas que estão brincando de ser deuses, que estão sendo eternizados, mas que não deixam de ser frágeis humanos. É difícil cravar uma resposta certa sobre o que é o rap, porque ele é feito de pessoas. Gente que tem vontades, anseios, dores, que erram e que param após carregar o fardo de ser “o futuro do rap”.

“Água pr’a passar o café enquanto aguarda o teu enterro
Acreditar é preciso, tanto quanto navegar
Sem juízo não dá, viver é a busca por motivo
Ser feliz pra ter motivação e coração pr’agir enquanto tá vivo” (Coragem – Sant)

Decisões como a do Sant só mostram que o rap é uma benção e tentar explicar esse milagre é impossível. Ele está livre, assim como tanto outros para tomar suas decisões, porque isso é a arte, o anseio de liberdade e a lembrança que estamos vivos. Pode ser só uma brincadeira ou uma decisão muito séria, mas serve para lembrar nem que seja nas entrelinhas, que o rap lida com vidas e viver é muito maior que a gente imagina.