Nesta última segunda-feira (16), saiu mais uma produção incrível do RapBox. Dessa vez foram os taubateanos Rato e Ralph que orgulhosamente, pra mim do Vale do Paraíba, e pra todo mundo que ama e respeita a cultura do hip hop underground deixaram sua marca com o clipe do single inédito o “O RAP é o OMMMMM”.
Numa pegada bem anos 90, até o cenário do clipe foi escolhido cuidadosamente pra locação. A fábrica abandonada na estrada entre Pindamonhangaba e Guaratinguetá traz a atmosfera perfeita pro clipe e pro pessoal do RapBox entender direitinho como é que a banda toca na nossa roça.
Não que o Léo Casa 1 já não esteja cansado de saber. O Ralph com seus 17, 18 anos de rap já conhece o Léo a milianos, já teve oportunidade de gravar algumas vezes, mas a novidade estava em trazer o Marcinho, irmão do Léo, e a equipe do Rapbox pro Vale. “Como ele tava vindo de São Paulo eu queria levar ele em um lugar representativo, pra ele sentir mesmo a energia do Vale, da natureza daqui. Essa antiga fábrica era um lugar legal pra gravar e tinha muito a ver com esse ambiente que a gente quer trazer, esse tom apocalíptico, um rap como se fosse pós fim do mundo”, explica Ralph.
As roupas de apicultores que os dois vestem no clipe fazem referência clara ao Coletivo Colmeia, a produtora e a família deles. Mas também à essa ideia intergalática, apocalíptica. O Rato sintetizou bem: “Pela fábrica ter cara de ruínas, é como se aquela roupa tivesse nos poupado do ‘armagedon'”.
Mas nós não seremos poupados do apocalipse. Não nesse mundo de muito cash pro que se limita na superficialidade e não foge da futilidade. Por aqui o vento que sopra é aquele que sai da caixa quando ela recita aquele boom bap underground anos 90 que faz até criança dançar. A referência bate forte nas linhas do Ralph que citam Speedfreaks e Slow do Esquadrão Zona Norte. Ou clipe que ficou a cara do trampo dos Beastie Boys. Ou então no instrumental do Rato, boom bap sujo do jeito que eles gostam com sample do He-Man, um desenho sensacional dos anos 90.
Nada é por acaso, a referência ao desenho não serve só pra enaltecer a cultura dos anos que foi referência pra galera do Vale, mas pra manter um costume que já é comum pro hip hop, o de juntá-lo com a história em quadrinhos, os personagens de desenho. “Nessa música em específico e no volume 2 do a “A Rima é Imã” essa linha dos gibis, do universo imaginário, das histórias em quadrinhos, dos desenhos animados, vai se manter. Bem influenciado também pelo que o Mf Doom faz lá na gringa, que a gente é muito fã, do Ghostface Killah também”, conta Ralph.
O que mais me intrigou foi em saber como esses caras com tanta experiência e tanto conhecimento enxergam a importância de enaltecer a cultura, de deixar esse rap real vivo. O Rato soube tratar com responsabilidade essa missão, “Nós observamos quem só se satisfaz da cultura, mas não deixa nenhuma contribuição. Não queremos ser assim”, pontua.
Ralph completa: “Quando a maioria das coisas que estão chegando nas pessoas são muito fúteis, a nossa cara é continuar sendo esse hip hop real. Sempre com esse quinto elemento, com o conhecimento presente nas letras, e ao mesmo tempo buscando fazer um som bom que bata no coração das pessoas.”
Dos planos futuros aguardamos ansiosamente esse CD que vem sendo fruto de tanta dedicação, “somos geograficamente privilegiados por nascer numa região que não esqueceu da luta. Então todas as nossas energias estão concentradas nesse disco, é muito difícil pensar em mais coisas. Embora esteja muita coisa adiantada, temos muitos trabalhos técnicos pra fazer ainda”, finaliza Rato.
Por enquanto a gente vai tentando absorver um pouquinho do conhecimento desses caras e curtindo esse som que faz arrepiar até a alma: