Com apenas 22 anos, a paulista Georgia está dando aulas de representatividade e sabedoria em suas rimas misturadas com melodias que carregam sua personalidade e vivência nas linhas. Em contato com a música desde criança, por ter uma família muito musical, a cantora afirma que começou a compor com seus 8 anos, cuja letra é de amor e até hoje existe. “Eu sempre cantei, quando era pequena já fazia aula de música – teoria musical e aula de piano –, e o canto veio junto com o piano, isso quando eu tinha 6 anos”, relembra.
A artista conta que sua inspiração para escrever é bastante relativa e varia bastante. “A música pra mim é como uma cura. A dor se transforma em poema, a minha luta se transforma em música”, afirma. Georgia ainda completa, que na sua opinião, a música só é considerada arte a partir do momento em que é compartilhada com outras pessoas, é algo que deve ser dividido para fazer sentido. “A mensagem que espero passar com as minhas músicas para o mundo é um sentimento de verdade, em que o outro que for captar essa mensagem, se identifique e cause reflexões. Seja música sobre amor, sobre sistemas, para gerar onda, eu gosto de gerar reflexões.”
A cantora destaca que uma das suas maiores influências dentro do Rap, é o trabalho do Criolo, desde sua personalidade, como artista. “Ele consegue unir diversos gêneros musicais, mas sempre mantendo o flow, a verdade e a militância, que é o que o Rap traz. Pra mim o Rap é um movimento educativo e político. É a música, mas engloba muito mais que isso”. Outra inspiração para Georgia é a Bia Ferreira, por suas composições, melodias e expressões. Além disso, a paulista complementa sua lista de referências com a vibe do Funk Como Le Gusta.
Em parceria com a produtora musical Diresponsa, recentemente Georgia lançou seu EP nomeado “Sucata”, que teve seu processo de produção bastante rápido em consequência da boa relação e sintonia que a artista construiu com a equipe do estúdio, que desde o início receberam de braços abertos todas as suas ideias que buscavam expressar sua real essência através das músicas. “Eu não consigo desvencilhar a Georgia da minha música. Muitos artistas conseguem, até criam um pseudônimo, um vulgo. Eu não consigo separar o que eu sou, a menina que trabalha terra, que é o significado do meu nome, e eu gosto de retribuir pra terra tudo isso, e não tem outra maneira de fazer a não ser como Georgia”, explica.
Ao escutar suas músicas, é perceptível a presença da militância e representatividade do feminismo nas rimas. Para Georgia, mesmo que seja um assunto bastante delicado a ser abordado, é algo necessário, já que o machismo ainda é algo comum em nosso cotidiano, principalmente no meio musical, que é predominante por homens. A cantora ressalta algumas contradições em relação a liberdade da mulher e o que a indústria consome. Para ela, pode ser ilusório as artistas terem que exibir seus corpos e sensualizarem para demonstrarem que são livres, pois isso é o que mais vende em consequência do machismo. “Eu também venho com muito cuidado nessa questão. Por exemplo, eu sei que eu sou uma menina ‘padrão’, o que eu estaria ganhando em mostrar o meu corpo para o mundo, sendo que possivelmente eu seria uma referência para algumas meninas que não são ‘padrão’… O que eu causaria nessas pessoas? Eu quero ser referência pelo meu corpo ou pelas minhas ideias? É uma questão de representatividade. Se o meu corpo não vai representar a maioria, eu não quero expor ele, e isso ainda é uma problemática dentro da indústria, que causa uma falsa sensação de liberdade”, critica. Para ela, exibir o corpo, poderia ser considerado uma forma de manifestação vindo de mulheres fora dos padrões, que encaram o preconceito por serem quem são, como as negras, as gordas, lésbicas, etc.
Georgia destaca que é um desafio ser mulher no meio musical, por achar que carrega uma grande responsabilidade, principalmente por sua militância dentro do feminismo, no qual busca se expressar da melhor forma possível para poder trocar conhecimento e educação dentro do movimento. “Ser mulher no mundo é desafiador, em qualquer lugar, qualquer profissão. E o que temos que fazer é resistir”.
Em ano de eleições, a cantora salienta que os resultados podem impactar diretamente no Rap, que é um movimento que desde sempre deu voz às minorais e questões sociais. “O Bolsonaro, e os outros políticos que foram eleitos, não dão importância alguma para a cultura”, diz. Porém, ainda fala que, isso pode ser uma motivação a mais para os jovens se manifestarem, já que a arte tem um poder de transformação social, emocional e financeiro. “Arte une, é uma troca de educação. Por exemplo, você pega um texto do Marx, e dá pra uma menina de 15 anos de periferia e sem acesso à educação, ela não vai entender nada. Mas se você dá uma letra da Dina Di, ela vai compreender melhor e possivelmente se identificar, já que essa menina aprendeu luta de classes na vivência empírica. O Rap chega muito mais fácil, é muito mais acessível”.
Para 2019, Georgia pretende continuar com seus trabalhos, propagando ainda mais sua música, Quando questionada sobre visibilidade, a artista diz que sucesso não significa número de plays e views nas plataformas digitais, e sim quem absorve sua ideia da melhor forma possível.
Em uma incrível mistura de Rap, Samba, MPB e Pop Rock, aprecie o EP “Sucata”:
Conheça mais sobre Georgia em: https://www.instagram.com/yallgeorgia/