A organização mundial da saúde, define a depressão como um transtorno mental, caracterizado por: Tristeza, perda de interesse, ausência de prazer, oscilações entre sentimentos de culpa e baixa auto estima, além de distúrbios de sono ou apetite.
Quem acompanha a trajetória de Thebe Neruda Kgositsile A.K.A Earl Sweetshirt, percebe que desde seu internato em Samoa (Após sua primeira mixtape Earl – 2010) vem passando por dificuldades e por muito tempo conseguiu mesclar isso com uma atitude agressiva, característica direta dos artistas da Odd Future.
Doris, (2013) foi um marco e sua ascensão como um dos rappers mais bem falados da cultura, o suficiente para conseguir se manter por volta de dois anos sem disponibilizar um trabalho novo fechado, sendo apenas em 2015 o lançamento de I don’t like shit // I don’t go outside, marcando uma participação diferente da “mainstream” que a OF vinha carregando ao longo de seu tempo de atividade.
Nesse projeto, Earl buscou se reinventar, produzindo a maioria dos instrumentais, com letras ácidas, oscilando entre exposição de sua depressão, com assuntos como a vida após a fama, dinheiro, relacionamentos frustrados entre outros assuntos, com uma passividade, onde de fato ele não demonstrou interesse nenhum em fazer parte do caloroso jogo do rap.
Earl é consistente, a maior prova disso, foi ficar do mais 3 anos sem disponibilizar um projeto fechado, e, mesmo após as colaborações com Danny Brown, Kendrick Lamar e Ab-Soul em Really Doe – 2016, e outras participações com The alchemist e Knowledge, ele se manteve offline do mundo, tocando apenas um programa na Red Bull Radio e shows aleatórios, inclusive desmarcando uma turnê admitindo estar com transtornos de ansiedade e depressão.
Como se não bastasse, no início desse ano seu pai, Keorapetse Kgositsile (Bra Willie) um poeta Sul-Africano e ativista direto da política do país, tendo grande influência no congresso Africano por volta da década de de 70 faleceu, e, com isso, como o próprio rapper diz “Sua passagem para a vida adulta”, sendo um dos gatilhos para se afundar mais ainda em problemas inconstantes ou a possibilidade de tirar algo disso tudo.
Some Rap Songs- 2018 é mágico; Parte da introspecção de um rapper que assim como Kid Cudi em 2008 com seu renomado Man on The Moon dialoga abertamente sobre a depressão e problemas familiares, relacionamentos frustrantes e a necessidade de buscar ser melhor, Earl mescla um disco inteiro, composto por 15 faixas, todas variando entre 1 minuto e meio e 2, colecionando o que parece ser fragmentos desse período obscuro o qual seu corpo vagava, se mantendo criativo mas ainda sim buscando uma solução.
Não pense que ao tratar desses temas ele não consegue pôr uma qualidade em suas obras, os instrumentais produzidos pelo próprio, Adé Hakim, Black Noi$e, Booliemane, randomblackdude entre outros, dialogam com características que passeiam entre o Lo-Fi e uma coleção de samples e introduções que remetem a trabalhos clássicos como os de The Alchemist e MF DOOM, elevando o nível de suas rimas a outro patamar, este, que não necessariamente precisa estar entre o top 10 da Billboard, mas que dialoga abertamente com quem possui sensibilidade artística e acompanha sua carreira.
Se Earl está do lado de fora, ainda não sabemos, o disco termina com “Riot”, uma música instrumental que passa um alívio após as letras intensas como em Eclipse: Say goodbye to my openness, total eclipse // Of my shine that I’ve grown to miss when holding shit in; Ou, em Azucar: I only get better with time // That’s what my mom say to dodge Satan; Temas centrais do álbum, que soa em um feeling de tristeza, fumaça e doses de remédio para aliviar a dor, mas ainda sim se mantendo otimista.
Por fim, uma grande menção honrosa a faixa: Playing Possum com participação de sua mãe e seu pai, Cheryl Harris & Keorapetse Kgositsile em discursos falando sobre os negros refugiados, a esperança de buscar uma vida nova fora de seu país, a necessidade de sermos cada vez mais fortes, afirmando que: “To have a home is not a favor”.
Some Rap Songs – 2018 é um disco que apesar de recém lançado poderá marcar um grande passo para a evolução de Earl, dentro de seu próprio universo criativo.