Na última quinta-feira (19) um comentarista da ESPN americana, Doug Adler, chamou a tenista Venus Williams de gorila durante a disputa de seu jogo no Australian Open — um dos quatro principais torneios de Tênis do mundo, conhecidos como Grand Slam — que acontece em Melbourne e estou acompanhando fielmente. Como todo racista que destila publicamente seu ódio, foi até suas redes sociais e escreveu que “não foi isso que queria dizer“, alegando que não a chamou de gorila e sim que “seus movimentos são de guerrilha“. A conduta do mau-caratismo é sempre essa, faz e depois de forma sínica fala que não fez. A emissora afastou o comentarista de seus trabalhos, o que é pouco por se tratar de um crime e que foi cometido ao vivo em uma rede de televisão na transmissão de uma das maiores competições esportivas do mundo. Caso parecido aconteceu recentemente com a cantora Ludmilla, onde foi chamada de macaca durante um programa de TV aberta. A indagação que fica é: Quando essas pessoas nos deixarão em paz? O sequestro, o açoite, o massacre e a solidão não foram suficientes?
É triste, especificamente neste caso da Venus, acontecer esse episódio, pois agora em fevereiro completa um ano da volta da mesma para o torneio de Indian Wells — torneio que acontece nos Estado Unidos — onde ficou ausente da competição durante 15 anos por sofrer ataques racistas de parte do público na enquanto jogava. Isso aconteceu em 2001, no jogo da semi-final, onde enfrentara a irmã Serena. Venus sofreu uma lesão e teve de abandonar a partida. Ao sair da quadra recebeu as ofensas. A irmã mais nova também não ficou imune aos ataques. Não foi fácil para as, até então, jovens tenistas no circuito com seus 20 e 19 anos de idade respectivamente, digerirem o acontecido. Desde então não jogaram mais a competição. Serena decidiu perdoar e voltou a jogar o torneio em 2015, já Venus continuava irredutível, mas a participação da irmã mais nova a fez refletir. Em uma carta, Venus anunciou sua participação no ano de 2016 e falou o porquê de sua decisão inspirada na atitude de Serena. Esses são alguns trechos:
— Quando Serena optou por jogar Indian Wells no ano passado, eu fiquei muito orgulhosa dela. Ela não tinha pisado naquele torneio desde 2001, nenhuma de nós tinha. Perto de sua decisão, Serena me disse que estava lendo bastante sobre Nelson Mandela. Ela estava aprendendo sobre ele, pensando sobre ele, processando todas essas perguntas complexas sobre a jornada dele e seus princípios…
— Quando Serena se torna emotiva com algo, você pode ver que os olhos dela brilham. E eu pude ver que aprender sobre o Sr. Mandela era algo que ela estava levando muito a sério. Então não me surpreendeu quando ela disse que poderia ser uma oportunidade única para ela em Indian Wells não só aprender com a experiência do Sr. Mandela, mas aplicar o que ela aprendeu.
E por tal atitude Venus Williams foi calorosamente aplaudida em seu retorno ao Indian Wells, o que mostra o quão importante é a sua presença e influência como atleta e principalmente como pessoa no mais genuíno dos sentimentos.
Quando falo em sermos inteligentes é justamente usando o exemplo de Venus, que por ser influente, formadora de opinião, ter fama, seguidores, ser vista, exposta e se comunicar com milhares de pessoas foi exemplo e referência humana, ao contrário de quem tem isso com o poder de multiplicar sua voz através de meios de comunicação e acaba por preferir disseminar e propagar seu ódio gratuitamente e sem necessidade alguma.
A força das palavras doem tanto como a força empunhada nas chibatadas. Seja lá ou seja aqui, seja com famosos ou com anônimos, não podemos nos silenciar! E que sigamos os caminhos de Mandela e Venus.
A ultima nota sobre Venus: Enquanto revisava o texto, na madrugada de segunda para terça-feira, Venus Williams estava em quadra e acabava de se classificar para a semi-final do torneio e batia mais dois recordes, o de ser a mulher mais velha do circuito a chegar numa semi-final de Grand Slam desde 1994 e a sua 50ª vitória no Australian Open.