Hoje eu vou falar sobre o “S.C.A“, que significa “Sexo, Cocaína e Assassinatos”, já considerado pelo público como um dos melhores discos do ano. Para mim, com certeza está no top 5 do rap nacional do ano de 2018.
Fabrício FBC, ou apenas FBC, conhecido em beagá desde os primórdios do Duelo de MC’s como um ótimo MC de batalha, integrante da honrosa tribo mineira DV, fez história nos palcos da capital mineira durante vários anos. Ele tava lá quando o Duelo sofria represálias da prefeitura, quando o cenário do pixo sofreu uma guerra por parte das autoridades e também na fundação do DV Tribo, o grupo que viria a colocar Minas Gerais no mapa no rap nacional. Muita vivência e uma história de respeito pra transmitir pros ouvintes!
Bora pra análise do disco!
Em S.C.A., FBC aponta os dois lados da moeda do que é viver o hip-hop em si. “A intenção do disco é mostrar que eu sobrevivi ao cemitério de sonhos que é a cidade de Belo Horizonte”, disse FBC no discurso feito na audição do disco.
Os versos de S.C.A. oscilam entre a autoconfiança de “Frank & Tikão“:
“Eu tenho um plano e eu vou ficar rico, eu tenho um sonho e esse ano ele me deixa rico! Deixar a família bem, emprego pros amigo”.
Também de “Não Duvide“:
“Não duvide da minha fé, acredite no melhor que vai dar certo! Acredite sempre em você, só depende de você e do tamanho da sua fé, não duvide!”
Frank & Tikão, que conta com a participação especial de Chris MC e Não Duvide com a participação de Lord. Passamos para a crítica social contida em “17 anos“: “Fato: Todo pobre já vai nascer preso. E pra ser morto não existe idade e pra esses jovens militantes, estudantes, elegendo militares aos milhares. querem intervenção sem noção, imagine o que são idiotas se armarem”.
Podemos perceber influências do boombap dos anos 90 na faixa “Contradições“, que leva o ouvinte de volta a pagina anterior, a raiz do trabalho, e relembra bem o FBC expressado no disco “CAOS“, de 2013.
Na obra como um todo, percebemos influencias do trap e do drill americanos, na forma de usar Adlibs e o famoso auto-tune. Uma curiosidade interessante é que a faixa 17 Anos, faz referência ao som “17 wit a 38” do IDK que conta com o featuring de Chief Keef, e ambas abordam as problemáticas periféricas e a ambição de quem está no gueto.
“Superstar“, um dos sons mais técnicos, já vem retratando a ascensão por meio de muito trabalho conquistado por Fabrício. “Eu tenho, chegou pra mim na caixa, nem precisei tirar o ferro da calça”, ele canta falando sobre ter o tênis mais caro do bairro em que reside, fazendo referência ao clássico tênis SuperStar da Adidas no título.
Não podemos esquecer da emocionante participação do Djonga em “Itinerário de I.O“, onde ele retribui da mesma forma a participação do FBC no disco “Heresia“. Como se em uma conversa, Djonga relembrasse todas as dificuldades que os dois passaram até o momento atual. De quando ele não tinha nem o dinheiro da passagem, o FBC vendia água para sustentar a família e continuar correndo atrás do sonho. Fala também sobre a amizade e a força que um dá para o outro nessa caminhada, que a maioria das vezes não é muito doce. Nessa música não podemos esquecer o quão comovente, emblemática e contagiante é a instrumental, uma produção de DJ Spider & O Adotado.
O disco teve produção musical de Coyote Beatz e DJ Spider, feats com Chris, Lord, Doug Now, Hot e o próprio Djonga. Produção executiva de FBC e Rafael Barra.
Para finalizar, todas as faixas conversam entre si e FBC expressa a famigerada crise que todo pobre que tem um sonho para com a arte passa. Ter que dialogar entre as drogas, a violência, as faltas de oportunidade, a repressão do Estado, mas enfim, sair vitorioso.
Quem puder que sobreviva ao cemitério dos sonhos! O melhor disco do ano, ou melhor, um dos melhores discos do ano, melhor ainda, um dos melhores discos dessa década. Puta que pariu, Fabrício!