Fenômeno das redes sociais, o rapper lançou o segundo álbum com uma explosão de hype na internet
É impossível você navegar nas redes sociais – principalmente no Twitter – e nunca ter visto algo relacionado ao Fabrício, ou melhor, ao FBC.
Cria das Batalhas de Rima e ex integrante da DV Tribo (extinto grupo de rap formado por Djonga, Clara Lima, Hot & Oreia), em 2018 com o lançamento de S.C.A (Sexo, Cocaína e Assassinatos), o rapper mineiro simplesmente dominou as redes sociais com apenas uma frase: “Ouça Meu álbum“. Na ocasião, o RND fez uma matéria para falar dessa divulgação orgânica feita pelo Mc, leia aqui.
Se o barulho causado no ano passado foi grande, este ano conseguiu ser ainda maior. Mas ao invés de pedir para as pessoas “ouça meu álbum“, o rapper vendeu um produto que se quer tinha sido lançado, alcançando um nível de repercussão surreal.
Mandando para todas as pessoas possíveis o “15/11 confia!“, data em que seria lançado seu novo cd, pedindo para que as pessoas colocassem no nome do usuário a data, a adesão a campanha do FBC foi abraçada pelo público, que fez muito barulho, fazendo com que grandes nomes da cena do Rap Nacional, como: Mano Brown, Filipe Ret, Emicida, e vários outros postassem o famoso “15/11”.
Mas apenas a cena do rap não foi o bastante para Fabrício, que alcançou o comediante Whindersson Nunes, o youtuber Felipe Neto, a cantora Marilia Mendonça, a jovem apresentadora Maísa, o fast food Burguer King, o Senai, o aplicativo Ifood, a funkeira Ludmilla, a cantora Marília Mendonça, enfim, muita gente.
O sucesso foi grande e atingiu muita gente, levando muitas pessoas que não conheciam o trabalho do FBC a conhece-lo, e isso é bom não apenas para o artista, mas para todo o movimento do rap. Tanto que muitos artistas aderiram ao “jeito FBC” de se comunicar, anunciando seus próximos trabalhos através do nome de usuário, como FBC fez e pediu para seu público, causando a febre do “15/11” nas redes sociais.
Completando um mês desde o lançamento, “Padrim” atingiu grandes números em pouco tempo, sendo considerado por muitas pessoas um dos melhores álbuns do ano, mesmo sendo totalmente comercial, como o artista disse que seria desde o inicio.
Por isso, conversamos com FBC para falar um pouco sobre como tem sido a carreira do artista. Confira:
RND: É impossível falar de “Padrim” sem falar do movimento que fez na internet. Você esperava que seu álbum ia tomar essa proporção?
FBC: “Essa proporção eu não esperava que meu álbum ia tomar não, mas eu sabia que muita gente ia ouvir. Porque o grande diferencial deste álbum é que no S.C.A eu divulguei algo que já existia, e no “Padrim” era algo que as pessoas não conheciam, as pessoas não tinham ouvidos nem singles, ta ligado? Pra mim, foi aceito de uma forma muito positiva, a grande maioria do público, a maioria esmagadora do público gostou, compartilhou, curtiu, meus números aumentaram demais. Agora, entre algumas páginas especializadas do twitter o pessoal não gostou muito não, falou que foi fraco, teve rima vazia, mas é isso, a gente trabalha pra isso mesmo, para que as pessoas visualizem e consumam, tá ligado? Mesmo as pessoas que não gostaram, em algum momento consumiram meu trampo, e isso pra mim é sucesso.” (sic)
RND: S.C.A foi algo revolucionário na sua carreira e na maneira como os artistas usam as redes sociais, e o “Padrim” conseguiu ser ainda maior. Quais caminhos você espera que esse álbum te leve?
FBC: “Eu espero que ele me leve a fazer muitos shows pelo Brasil, e realmente criar novas conexões com outras pessoas, e eu acho que isso é muito importante.”
RND: Como surgiu a ideia para “Padrim“?
FBC: “A ideia pro artista independente é essa: a falta de dinheiro. A falta de dinheiro faz a gente criar coisas, né véi? Faz a gente ter ideias para vender nossa arte. A gente quer trabalhar com a arte, a gente não quer ficar atrás de um balcão ou num escritório usando terno e gravata. A gente quer trabalhar na rua, quer trabalhar com as pessoas, ta ligado? A ideia do “Padrim” surgiu porque eu queria uma coisa que todo mundo ouvisse, principalmente as pessoas que estão a minha volta, que são as pessoas da periferia, os homens e mulheres da periferia, ta ligado? que gostam de determinados estilos parecidos em todo o brasil, não importa aonde você vai, as pessoas da periferia gostam de coisas que são populares, entendeu? Pagode, Funk, Axé, Tecno brega, então é isso que eu quis ser nesse disco: popular. E a ideia partiu desse pensamento.” (sic)
RND: Qual a sua faixa favorita?
FBC: “Pô, minha faixa favorita é “Deus abençoa“, né cara. Porque é uma faixa que eu converso com a minha irmã Flavia, falando sobre o aniversário do meu irmão mais velho, o Flavio. Então isso é muito emocionante pra mim. Eu tava gravando algum outro skitch para o disco, não ia ser aquele, e no momento que eu estava gravando o skitch que ia ser uma parada relacionada a free fire, a minha irmã me liga, e pra mim ficou perfeito e emocionante, eu acho que foi um mandado de Deus pra mim.” (sic)
RND: O que mais te marcou nesse 1 mês do álbum?
FBC: “O que mais me marcou, tá ligado, nesse 1 mês, é que realmente os números foram melhores, mas eu acho ainda que o pessoal me prefere fazendo boombap, e fazendo mais músicas como “tudo são negócios” e “cimento e lagrimas”, tá ligado? E realmente o público que veio com o álbum “Padrim” é um público que ta mais presente na internet do que consumindo rap na rua, indo em show, comprando mac, mas é um publico também em crescimento. E eu acho que o que mais me marcou é que eu sai da bolha do nicho do rap e atingi outras camadas, ta ligado? Tanto na internet quanto na rua.” (sic)
RND: Em “Ode a tristeza” você expõe os pontos fracos do Fabrício como ser humano. Como foi a construção desta faixa?
FBC: “Em ‘Ode a tristeza‘ eu quis fazer uma música em homenagem a tristeza, já que foi ela que me fez enxergar o meu potencial, e quando eu tava lá no fundo do poço, eu só tinha uma companhia, e era minha solidão, a minha tristeza. Eu acho que a gente precisa dosar os sentimentos, quem olha muito pra cima, quem fica muito de cabeça em pé, as vezes pisa na merda. Às vezes é preciso olhar para baixo para não pisar em algumas merdas.”
RND: A música ‘$enhor‘ é obviamente criada com duplo sentido. Como surgiu a ideia? Ela foi criada para encaixar na realidade das pessoas, tipo: do cara que cresceu sem grana e do cara que cresceu sem pai?
FBC: Sim mano. Quando eu fui escrever a letra ‘$enhor‘ eu ouvi o beat e pensei: ‘Pô, eu já fiz uma música para tristeza, uma música para a música, no caso “Se eu não te cantar”, uma música que eu fiz para a música, ta ligado? E também fiz músicas para empoderar alguns temas, algumas pautas, ta ligado?‘ Aí eu pensei: ‘Pô, vou fazer uma música pro dinheiro, ta ligado? Só que as pessoas vão achar que eu to fazendo para o meu pai. Eu ia colocar o nome da música de ‘Senhor S‘, mas aí eu mostrei pro Djonga e ele falou: “Mano, por que você não coloca só o S cifrão no S do Senhor? ” Aí veio esse cifrão no S do Senhor. E foi isso, fiz para que tivesse mesmo esse duplo sentido, e as pessoas pudessem visualizar como se eu tivesse falando do pai e visualizar como se eu tivesse falando do dinheiro, mas na verdade eu to falando do dinheiro sempre, ta ligado? (sic)
O disco do FBC está entre os melhores do ano não apenas pelo conteúdo lírico envolvido nele, mas por fatores extras que compõe todo o trabalho que o artista realizou.
Uma boa obra vai muito além daquilo que é apresentado ao público, ela também se esconde nos detalhes, e em “Padrim” eles são enriquecedores. Talvez você não tenha gostado de todas as faixas, afinal, existem gostos diferentes para tudo, mas uma coisa não podemos negar: Todas elas possuem um fator extra que vai além do musical, e que poderíamos abordar aqui e deixar este texto enorme, mas acredito que seja melhor deixar para o próximo.
Com a benção de FBC, apreciem o “Padrim” sem moderação.