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Carregado de referências e negritude, Rimas & Melodias lança clipe do single ‘Origens’, confira

A música faz parte do disco que será lançado por Alt Niss, Drik Barbosa, Karol de Souza, Stefanie, Tássia Reis, Tatiana Bispo e DJ Mayra, que são as mulheres a frente do coletivo.

Laroyê, Esú!!! “Origens” veio com tudo! Tássia Reis falou: “Eu sou do fogo que venta que te queima e cê nem vê”. A música inteira é carregada de referências, não só ao Orixá Esú, que abre caminhos, aquele que é o mensageiro entre o Òrun (céu) e o Àiyé (terra), mas também a Oyá, dona dos ventos e tempestades, que divide o domínio do fogo com Xangô, aquela que se transforma em búfalo, mas é borboleta, rainha dos raios, Epa Hey, muito bem lembrados por Tássia, mas também por Karol de Souza, ao falar do caçador, citando Oxossi no fim dos seus versos.

Mas o que é “Origens”? É o primeiro clipe do Rimas & Melodias, além de ser o primeiro single do disco de estreia do coletivo de rap e R&B. O som celebra as origens de cada uma, desde ancestralidade e espiritualidade a memórias de infância e referências musicais herdadas da família.

Alt Niss, Drik Barbosa, Karol de Souza, Stefanie, Tássia Reis, Tatiana Bispo e DJ Mayra não vieram pra brincadeira, esse trampo é só uma amostra do que vem por aí, o disco, que terá sete faixas, tem previsão de lançamento para agosto.

Ainda sobre as referências yorubás, elas também foram trazidas por Drik, ao mencionar Olódùmarè, que na religião tradicional yorubá é considerado Deus supremo, mas que, pensando bem, pode ser referência ao grupo baiano “Olodum“, que tem forte representatividade, principalmente na Bahia, por ser um simbolo da resistência do povo negro.

E Drik ainda disse: “Meu pai baterista, baiano, axé / Sou pérola negra, Olodum maré / Mãe nascida em Recife, porreta, afiada tipo peixeira, então bota fé / Nordeste me trouxe minhas rima é arrocha, arrocha”, fazendo questão de exaltar a raiz nordestina que traz em suas veias. Da mesma forma, veio Tatiana, reafirmando isso e falando de sua família: “Neta de nordestino / E na história dela tem uma mistura de preto com índio / Infância humilde, mas fizeram um corre” […] “Nunca vi na vida faltarem com a fé, foram dois guerreiros a me ensinar / Se eu tô aqui (é por eles é) / Tenho que ser forte (é por eles é)”.

Foto: Reprodução

Karol deu o papo: “Ancestralidade que emana, nosso tamborzão bate forte / Sou índia, sou preta, sou branca / Trabalho pesado e um pouco de sorte”. Quem bem conhece a cena sabe o quanto que as minas ralam, na maioria das vezes triplicado, só para mostrar que, de fato, são boas, buscando oportunidades e a cada dia ganhando espaço, justamente por todo o esforço que fazem, batendo de frente e não se deixando abater pelo machismo e misoginia que vemos sempre.

“Música de preto nós todos somos amantes / Na quadra da Vila Alice ensaio da bateria / Minhas tias no porão costurando as fantasias / Meu vô Milton presidente, eu vim do berço do samba”, disse Stefanie, dando ainda mais força a sua origem no samba, retratando situações vividas por ela nas suas linhas, completando: “No quintal o Alê cortava os black power da função / Ver os preto na estica dava mó admiração / E pra minha autoafirmação foi fundamental / Rappin’ Hood sou negrão, me fez sentir especial”.

Alt Niss, que há poucos dias lançou videoclipe da faixa “Zona Sul 89”, veio fortalecendo ainda mais a ideia da música, com sua voz suave e deixando bem escurecido de onde veio: “Zona Sul é paz no caos / Família preta tradicional / Samba-rock, melodia, coisa e tal / Sobrevivendo no inferno em estado racional / Aos oito correndo na rua de terra / O que tinha de sonho não tinha na mesa”.

Finalizando, Dj Mayra chegou com um instrumental baseado em música armênia, com sample de “Duduk“, flauta típica da região. Em abril deste ano, o grupo esteve no Red Bull Studios, em São Paulo, para gravar as faixas do disco. Em entrevista ao Red Bull, ela disse que, quando se reuniram para alinhar as coisas, surgiu a ideia de fazer uma música que falasse justamente das origens de cada uma e funcionou muito bem, nas linhas é possível captar a essência de cada artista. “Desde ancestralidade e espiritualidade a memórias de infância e referências musicais herdadas da família. Passamos as ideias para o DIA e o Grou que vieram com um beat incrível. As letras foram criadas basicamente dentro do estúdio da Red Bull e quando saímos de lá já sabíamos que essa seria a primeira a ser lançada”, afirmou.

Juntas desde 2015, as manas do Rimas & Melodias desconstroem moldes e fortalecem a presença feminina, sobretudo a negra, no hip-hop, na música, na sociedade. O primeiro disco está em reta final, sendo mixado e masterizado no FlapC4. Enquanto não sai, confiram o excelente clipe que foi produzido pela AWLAWD e teve a direção, filmagem e edição de Samukera e Brombini Dois G. A produção musical é de Dia Musiq, Grou e DJ Mayra Maldjian.