Fala ai, seus fumador de Derby! Menino Hussein de volta nas resenhas nacionais, e dessa vez, o alvo é o novo EP de um dos caras que eu mais admiro na nossa cena: o Mensageiro da Verdade Bill. Desde que me entendo por gente ouço as crônicas da favela escritas e performadas por esse cara, e fiquei bem animado quando soube de coisa nova dele na rua. O extended play traz 9 faixas, e entre estas 6 são inéditas, e são essas que vão contar na nota do trabalho. Vou fazer aquele esqueminha faixa a faixa pro bagulho ficar maneiro. Então vamo, caralho!
O Alex já chega pesado na 1ª track, a “Incursão Policial”. Diante de um boombap sujão (no melhor dos sentidos), ele vem demonstrando aquele storytelling pica, que te dá a impressão de estar na situação, pelo qual ficou conhecido, descrevendo uma cena bem rotineira nas comunidades cariocas. O problema dessa faixa é só um: ela é grande demais! São cerca de seis minutos sem refrão nem massagem, o que te tira um pouco da atenção do meio pro final da música, ainda mais por se tratar da primeira. Se a faixa fosse dividida em duas, ou houvesse uma troca de beat, a atenção do ouvinte à letra seria mantida, já que a história e as rimas do MV são envolventes. Fica a nossa dica pra próxima ai Billzão!
A faixa 2 era uma das que eu mais esperava, porque eu sabia que o beat era assinado pelo Beni (sim, o que soltou um dos melhores álbuns desse ano que vos fala). O nome da track resumiu minha reação ao ouví-la: “Cê é Louco”. Em cima de um trap suave, com um sample que massageia as orelhas, o Bill encarnou um traficante que enche a high society carioca de pó. Além do ponto de vista pouco retratado, o refrão bem apresentado, a variedade de flows picas e a lírica (pra mim, a melhor do EP) tornam essa música especial e minha fan favorite. Aqui vai um trechinho:
Eu tenho, eles me chamam, eu venho
O filme premiado quando vê o pó vira desenho
Quando vê a trilha já batida esticada
Diploma acadêmico pra mim vale de nada
Mina na perdição pra mim é cena corriqueira
Perde a linha, vende o corpo por conta de uma carreira (“Cê é Louco”)
A terceira faixa, “Meninos do Tráfico”, era outra que eu tava hypado, mas infelizmente essa não superou minhas expectativas. É uma track boa, com a Kmilla CDD (uma das rappers mais subestimadas do Brasil, irmã do Bill e figurinha carimbada nas músicas dele) e o próprio Emivi soltando versos num nível bom. A parada é que a track prometeu ser uma “Falcão” (faixa antológica dos dois) contemporânea, mas ficou aquém na inovação. Pareceu que eles falaram as mesmas coisas trocando as palavras. O refrão é bem escrito, mas a voz aguda do Bill não caiu muito bem: talvez se ele o cantasse num tom mais grave soaria melhor. Ah, o beat é interessante, um boombapzinho bem no compasso que te faz prestar bastante atenção na narrativa dos irmãos da CDD.
Após o skit “Primo Matando Irmão”, chegamos à 5ª faixa, “Guerra de Facção”, uma ótima track, na qual o beat bem jazzy até pode fazer você relaxar, mas as letras reais e cruéis do MV pendem pro efeito contrário: pra mim, essa é a track no EP onde ele conseguiu registrar com precisão mais fatos comuns ao cotidiano das favelas cariocas. O refrão e o flow são de qualidade, mas indiscutivelmente o ponto alto dessa faixa é a realidade gritante dos versos.
A última das inéditas é a “Egresso”. Que música foda, mes amis. Em mais um boombap, mas dessa vez num clima nostálgico, o Alex agora versa na perspectiva de um detento reincidente escrevendo pra sua mina de fé. Essa mistura de temas, a junção dos pensamentos do preso ao passar pela sentença com o tom sonhador e esperançoso que ele dá ao escrever pra amada são sensacionais. Junto com a “Ce é Louco”, essa track tá bem acima da média das demais (e dos raps em geral). Fechou com chave de ouro, já que as 3 tracks seguintes já haviam sido lançadas em trabalhos anteriores e, portanto, não vão entrar no pente fino da review.
Num apanhado geral, o Bill mostrou que ainda tá na ativa e com muita lenha pra queimar. Das 5 tracks inéditas de fato, 2 são espetaculares e as outras 3 mantém o bom nível dos trabalhos anteriores, mas sem trazer muita inovação, o que era um ponto bem esperado num EP chamado de “Contemporâneo”. Mesmo tratando de perspectivas diferentes, senti que o MV ficou muito preso a falar da comunidade, e poderia ter se estendido em mais temáticas. Ainda assim, o extended play é bem satisfatório tecnicamente, e vale a pena apertar o play pra conferir o que o Mensageiro da Verdade tem a nos falar. E é isso bonde, não fechem a aba do blog porque tamo vindo com mais texto quente aí! Até!