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Precisamos ser menos extremistas para falar de Baco

Alerta: Desconhecia os veículos e autores dos textos citados aqui. Deixo claro que aqui não há nenhuma intenção de atacar de nenhuma forma, tanto Baco, como os veículos de mídia ou atores. Embora em tom crítico, venho falar sobre o cenário de rap, não só mídia especializada, como também do público.

Semana passada, Baco Exu do Blues lançou seu segundo disco “Bluesman“, e por seu histórico conturbado, já era previsto e lógico que este álbum não passaria batido, ainda mais sem nenhuma polêmica.

Dois textos me inspiraram a fazer este aqui, ambos publicados no espaço de poucos dias após o lançamento do álbum. O primeiro, publicado no Reverb, chama-se “Tudo tanto: com ‘Bluesman’, Baco Exu do Blues muda o rumo do Rap Brasileiro” e tem um pedaço que diz:

Ele abala o prumo da música brasileira em vários sentidos: consolida o rap como gênero musical mais importante do Brasil hoje; desvia o eixo do rap brasileiro de São Paulo para o nordeste; lança o disco mais importante do gênero desde “Nó na Orelha” do veterano Criolo.

O título e esse parágrafos estão tão equivocados que me leva a crer que quem escreveu, das duas uma: não costuma ouvir rap ou não acompanha o rap nacional.

Nó na Orelha, foi lançado em 2011, e é um álbum importantíssimo para a chamada nova era do rap, inclusive, que permitiu a absorção do gênero dentre o público que aprecia MPB. Mas esse álbum saiu há 7 anos atrás! Não tivemos nada de importante de 2011 para cá?

Vou citar alguns trabalhos, não em ordem de importância, mas sim para elucidar o meu questionamento. Então temos “Vivaz” do carioca Filipe Ret, álbum lançado em dezembro de 2012; “O Glorioso Retorno De Quem Nunca Esteve Aqui…” lançado no segundo semestre de 2013, de uma das maiores lendas das batalhas de rima, Emicida, o primeiro álbum do artista, que anteriormente só tinha lançado EPs e mixtapes; “Cores & Valores, lançado no dia 26 de novembro de 2015, pelo grupo de rap mais importante da história do Brasil e após mais de uma década sem novos lançamentos; já em outubro de 2015 tivemos o lançamento de “” do paulista Rodrigo Ogi, este álbum esteve em primeiro lugar em todas as listas feitas no ano seguinte; para finalizarmos essa retrospectiva tivemos o “Castelos & Ruínas“, que para muitos, o melhor ou um dos melhores álbuns da década, e que eu particularmente considero um clássico contemporâneo.

Nada disso é mais importante que Bluesman??? Isso porque eu nem estou citando CDs que serviram para a popularização do movimento do rap teen, que mesmo sendo discutíveis, permitiram uma ascensão comercial dentro do hip hop.

Nenhum rumo do rap foi modificado com “Bluesman”, esse impacto ocorreu com outro trabalho de Baco: “Sulicídio“. Já fazem dois anos do lançamento da polêmica diss que literalmente dividiu o cenário do rap contemporâneo, fazendo inclusive com que artistas que estivessem fora de foco, como o próprio, ganhassem espaço. Djonga é a grande revelação que foi catapultada graças á faixa, que inclusive estimulou todos os atores do rap nacional mexerem na caneta para não perderem a relevância.

O outro texto, foi publicado no Oganpazan, e se chama “Baco exu do blues – Blvesman (2018) mas na rua né não!

Os boys agora não querem ser Tupac, eles se acham o próprio, e acendem velas para ideias como estado mínimo e para meritocracia, e votaram no nosso fascista eleito. Recentemente encontramos o bebê de Rosemary desse processo: o rap de direita. […] A classe média e os hipsters que ouvem Muddy Waters entre garrafas de vinho, não sabem o que é o Blues e nunca ouviram a verdade profunda do sul estadunidense. Eram os donos das nossas plantations, até pouco tempo, são os mesmos que pediram o fim dos Mais Médicos. Assistem Mississipi em Chamas e vestem a roupinha da KKK, na era do duplipensar.

Neste, o autor tem vários críticas positivas e que eu concordo, como por exemplo a identidade sonora do álbum puxar para “Te Amo Disgraça“, devido ao sucesso da faixa, mas se perde com facilidade nos ataques que, apesar de seu disclaimer, soam apenas como ataques pessoais ao artista, chegando ao cúmulo de compará-lo ao novo perfil de brasileiro que cada vez mais tem saído dos bueiros: o Conservador.

Calma lá, Baco não é o maior ator político do nosso cenário, mas basta olhar a camada mais superficial da nova direita brasileira (eca!), que conseguiremos perceber que todo esse discurso sobre ser um homem negro (discurso esse criticado com pontos que achei válidos) no mundo de hoje, receberia o mesmo adjetivo que dão para tudo que discordem ou que afete suas noções de mundo ideal: mimimi.

Perdão pela introdução enorme, mas era preciso contextualizar. Os textos citados são apenas exemplos do que vi durante todo o final de semana. De pessoas que se emocionavam à cada faixa, ás pessoas que acham que é um disco com 9 versões de “Te Amo Disgraça”, precisamos colocar a mão na consciência e entender que nada é tão preto no branco. Pelo contrário, o mundo no século 21 nos mostra que nunca vivemos em um momento tão cinza.

O disco não é em nada inédito, porém, é mais uma excelente obra de Baco. Não dá para conquistar tanto sucesso, principalmente fora do meio do rap, sem no mínimo uma pitada de talento. Com esse trabalho, continuo achando que ele tem uma sensibilidade incrível para falar de forma crua do amor, consegue ser romântico e não-romântico ao mesmo tempo. Porém concordo, que o disco usa e abusa dos mesmos timbres de seu antecessor “Esù“. O novo disco, poderia inclusive, facilmente, ser uma segunda parte de um disco duplo, se juntássemos os dois em um mesmo produto.

Não podemos esquecer dos que não resistem em chamá-lo de disco do ano. Não que eu ache que não mereça, mas quem fala isso, geralmente já falou a mesma coisa para outros cinco álbuns lançados esse ano.

Esse impacto grandioso que todos insistem em enxergar no olho do furacão, nós só verificaremos, no mínimo, daqui há um ano, quem sabe até mais. Até lá, podemos elogiar e criticar Baco e seu álbum sem cometer exageros pela emoção que o hip hop causa em nossas almas.