Salve rapa! Hoje o assunto é novamente os últimos sons lançados pelo Makalister. O Daniel já iniciou a análise destas faixas do Jovem, mas eu pedi permissão para falar de dois destes sons. No entanto, antes da análise, eu quero falar um pouco sobre o “mistério” que envolve as suas letras.
Talvez você não entenda por que tanto alvoroço em torno do trabalho dele. Não se preocupe. Makalister não é para todos. O som dele é restrito. Talvez você não se encaixe no tipo de público visado por ele. Talvez ele não vise nenhum público, apenas escreve sobre o seu íntimo e expõe para quem desejar apreciar.
Maka é um rapper com uma visão totalmente diferente da que nós observamos no cenário atual. Ele não faz questão que o entendam na primeira barra. Muitas vezes ouvi uma faixa duas, três vezes sem se quer entender sobre o assunto que permeava as rimas (por ignorância minha).
Isso me instiga. No trajeto que percorro para ir à faculdade (80 km ida e volta) costumo ouvir alguns álbuns, mas eu geralmente durmo (o cansaço é maior que a qualidade lírica dos trampos). Isso não acontece quando coloco os EPs do Maka ou suas faixas avulsas. A cada barra surge a dúvida.
Tive um professor que dizia que a obra “Crítica da Razão Pura” de Immanuel Kant era difícil, mas nossa função era somente ler e entender, enquanto a função de Kant foi formular toda a teoria. Deveríamos nos sentir inúteis por não ter a capacidade de decodificar seus escritos. Esse sentimento é um pouco do que sinto com o trabalho do Makalister (guardadas as devidas proporções).
Bom, finalizada a babação de ovo, vamos ao review da faixa “Ponga, Espanha” do Jovem Maka. Esse som não é tão difícil de entender, segue a análise.
A primeira questão que surge é “Por que Ponga na Espanha?”, “Por que não Madri, Valência, Barcelona?”. Essa resposta eu deixo para o final, pois essa faixa é, talvez, a primeira storytelling do Jovem Frozen (qualquer dia explico esse apelido também). Põe a faixa para tocar ae.
Gustavo só queria um cigarro
Marlboro Gold é o principal culpado
Passamos por várias lojas, mas paramos ali
Madre Benvenuta, Posto Iguatemi
Na conveniência foi que eu te vi
Com seu novo romance tentando me esquecer
O Gustavo citado nessa faixa é o Goss, autor de um belo EP lançado em 2015 e produtor de três faixas do primeiro EP do Maka. Marbolro Gold é o cigarro e ele é o motivo pelo qual eles pararam na loja de conveniência. Madre Benvenuta é a Avenida na qual fica o Posto Iguatemi. Essa passagem pela conveniência do Posto Iguatemi proporcionou um encontro com uma velha conhecida de Makalister.
Que os meus olhos não vejam mais
Mas minha mente ainda capt
Ele preferiria não ver a garota com outro cara. Assim, por mais que ele queira que os olhos dele não vejam mais aquela cena, sua mente ainda irá lembra-lo, ou seja, mesmo não a encontrado, ela ainda permanece nos seus pensamentos.
E se tu me chamar, eu te busco aí na UFSC
Vem dar um rolê com o Jovem Maka
Preto Onix
Podemos lembrar como nós faziamos
Naquela cama de solteiro
Apê na Ivo Silveira
Sempre, sempre nus ao se tocarem
UFSC é a Universidade Federal de Santa Catarina. O campus de Floripa fica a 2 Km do Posto Iguatemi (citado em uma rima anterior). Nessa região em torno do campus da UFSC são comuns os bares onde os estudantes fazem o happy hour. Onix é o carro da Chevrolet. Ivo Silveira pode se referir a uma Avenida de Florianópolis ou, o mais provável, uma Rua em São José, cidade da região metropolitana de Floripa, onde Makalister mora. Nessa rua ficaria o apartamento onde eles se encontravam.
Porra, gata / Horas à fio, tramando algo / Tipo viagens que não fizemos ainda / México / Logo ali / Argentina / Shows gringos em Curitiba / Coisas simples tipo compras sábado lá na feirinha / Artesanato, raridades / Tipo aquele Belchior que eu te dei / Posters gringos
Aqui ele cita vários planos que eles tinham, como viagens, shows e coisas mais simples. Belchior é um cantor nordestino de MPB. Ao que parece o que ele deu a ela foi um vinil raro deste cantor.
Se falam em Tropicália eu assimilo à garota Mae West
Tropicália foi um movimento cultural brasileiro. Este termo, segundo Caetano Veloso, “tem a marca do acaso significativo, do acercamento inconsciente a uma verdade” . Makalister diz que ao ouvir sobre tropicália associa à garota meio-oeste. Essa associação pode ocorrer em virtude do conceito que envolve o termo ou por esta garota ser fã dos artistas que participaram deste movimento. Garota meio-oeste deve ser um apelido interno, talvez se relacione à região meio-oeste de Santa Catarina.
Eu não minto pelo menos dessa vez
Ele ressalta que não mentirá dessa vez, ou seja, ele mentiu ou costumava mentir. Talvez essa seja a causa do rompimento.
Garota, eu tenho um plano pra nós dois
Vamos morar em Ponga, na Espanha
“Por que Ponga na Espanha?”, “Por que não Madri, Valência, Barcelona?”: Ponga é um município, localizado no noroeste da Espanha. É uma espécie de “cidade-fantasma”. Para atrair moradores é oferecido 3 mil euros para cada casal jovem que passe a morar lá, mais um extra de 3 mil euros por criança nascida na cidade.
Fiquem atentos, em breve o quarto capítulo dessa saga.