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Pra quem já mordeu cachorro por comida, ele com certeza chegou longe

Toda grande história tem um ponto essencial que faz tudo acontecer, um acontecimento que move seus personagens e proporciona consequências. O rap nacional é cheio desses momentos, fazendo com que ele seja sempre uma grandiosa história de personagens reais e que fazem o roteiro dessa cultura funcionar. Por trás do nome de cada MC existe alguém que almeja alcançar algo através do rap. As motivações são das mais variadas e o ritmo e a poesia como ferramenta de empoderamento, serve para muita gente conseguir atingir seus sonhos. Cada rima é um grito que busca ser ouvido e reverberado. Alguns fazem tanto barulho, que no momento que escutamos, sabemos que essa manifestação é muito poderosa.

Sabendo disso, no dia 1° de maio é comemorado dia do trabalhador e coincidência ou não, também completam-se 10 anos do lançamento da Mixtape “Pra Quem Já Mordeu Cachorro Por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe”, do Emicida. Sinônimo de trabalho, assim que podemos definir essa obra do MC. Com 25 faixas, em 2009 ele estava prestes a definir o que aconteceria (acontece) no rap nacional a partir daquele momento. Muito do que pode ser dito aqui, com certeza já foi mencionado no decorrer desses 10 anos de existência desse clássico, logo, o risco de cair em discursos já feitos é muito grande. Porém existem vários pontos que sempre merecem ser mencionados quando falamos do Emicida e principalmente dessa Mixtape.

Vendo toda a proporção tomada pela música dele, chega ser um pouco irreal ver de onde tudo começou. A simplicidade e todo tom até meio “folclórico” que envolve a história de construção e produção dessa mixtape, era apenas um prenúncio de tudo que Emicida poderia fazer. 10 anos depois, até que essa história é bastante previsível, as 25 músicas lançadas naquele ano mostravam a maturidade de um jovem Emicida (ou Leandro se ele me permitir) e que tinha perfeita noção do que desejava alcançar. Apesar de ser um produto de seu tempo, o MC já estava anos e anos à frente de sua realidade e por causa disso, não é exagero nenhum dizer que Emicida é o maior acontecimento da música brasileira nos últimos anos.

Não demorou muito para ele tornar-se exemplo musical, empresarial e político. De repente, ele era referência em tudo e todo rap feito após Emicida, teria ele como exemplo. Isso tem uma carga representativa muito forte e Leandro tem perfeita noção de seu papel como representante de sua cultura. Tanto que que dentro do seu processo artístico, o elemento mais valorizado é sua própria história e vivência e a partir disso, ele traduz sua arte da forma que deseja.

Assiste esse vídeo para entender melhor o que eu tô querendo dizer:

Pra Quem Já Mordeu Cachorro Por Comida (…)” é uma coletânea não apenas musical, mas de histórias que são reais e talvez um dos trabalhos do rap nacional em que a pessoa do MC fica bem mais evidente que o seu vulgo. Gosto de considerar que é uma mixtape do Leandro, e não do Emicida, dessa forma ela se aproxima muito mais de quem ouve. Por isso que a experiência com essas músicas sempre é única, independente da realidade de quem escuta.

A grandiosidade dessa mixtape está em como ela atingiu a realidade da cena do rap na época, e atinge até hoje, (como já mencionei aqui no texto) mas também em como consegue ser uma exposição muito crua e verdadeira de alguém. Esse alguém parece como um velho conhecido e acompanhar a carreira do Emicida é ver esse conhecido progredir, evoluir e crescer. Amigável seria a palavra perfeita para definir Leandro.

Não posso dizer que acompanhei desde o início essa caminhada, quando ele lançou sua primeira mixtape eu tinha apenas 7 anos de idade e a música ainda era algo bem distante dos meus ouvidos. Porém, 10 anos depois, ouvir e ver que toda a relevância desse trabalho só aumentou, é impressionante e emocionante. Acredito que essa realmente é a definição de clássico, não algo que seja muito bom e soe bem em todas as épocas, mas sim algo que molda-se para cada vez mais crescer com o tempo. Acho que olhar para trás e ver toda a relevância disso tudo e que ela não diminuiu após tudo, é impressionante.

A história do Leandro com certeza é a maior que vamos ver em muito tempo e o mais legal de tudo, é que ela é contada por ele mesmo. Não é aquele filme “baseado em fatos reais”, é uma conversa sobre algo que aconteceu e continua acontecendo. “Pra Quem Já Mordeu Cachorro Por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe” é o convite do MC para esse diálogo, que não te deixa voltar para sua quebrada de mente vazia.