Recentemente, o sexteto Quebrada Queer participou do quadro de perguntas sobre rap do canal Planeta Novo, no Youtube, onde os artistas devem responder 10 questões sobre o gênero musical, ao menos essa é a ideia passada.
Contudo, o entrevistador leva em consideração apenas a visão limitada e conservadora que ele tem do que é rap ao fazer a entrevista, excluindo assim todo o contexto de vivência e discurso do QQ. O conteúdo das perguntas é baseado em artistas que, num modo geral, não fazem parte da vida do grupo.
Uma das respostas, por exemplo, era a famosa diss do ex-NWA Ice Cube, onde ele chega com linhas tanto misóginas quanto homofóbicas nos versos. Agora, pergunto eu, você consegue imaginar um possível cenário onde quatro homens gays e uma mulher lésbica iriam curtir essa música a ponto de estar preparados(a) para falar sobre a mesma em uma entrevista? Não é impossível, porém muito improvável.
O despreparo do entrevistador é tamanho a ponto de excluir inúmeras formas de se fazer rap, fazendo assim com que o Quebrada parecesse totalmente ignorante no assunto, e isso é gravíssimo. O grupo já é fortemente estigmatizado dentro da bolha chamada “cena do rap” desde a sua estreia no Rap Box, assim como o movimento LGBT+ dentro do Hip-Hop como um todo. A aceitação do público já não é das melhores e, vendo os comentários alienados dos seguidores do canal, vê-se que não melhorou muito após o vídeo.
Um episódio como esse atrasa todo um movimento que vem lutando o dobro que o seu rapper favorito, e isso só pra conseguir cantar de graça em um barzinho pouco movimentado. Apenas reforça estereótipos retrógrados e faz a cena inteira retroceder. A vítima não foi apenas o grupo Quebrada Queer, mas cada mc gay que não consegue alavancar por conta do preconceito, cada trava que sequer é aceita no estúdio e cada lésbica que não vira porque devia estar fazendo refrão.
O que o público geral precisa entender é que não existe só um tipo de vivência, que nem todo mundo das favelas e das quebradas que faz um som, necessariamente é hétero, e que mesmo que seja o caso, não são melhores ou piores que um ou uma LGBT+. Você pode tirar sarro, pode ameaçar, mas cá entre nós, a gente sabe que você não aguenta sozinho contra uma mana, tanto no rap quanto na vida.
Enquanto uns fazem drama nos versos porque foram estúpidos e engravidaram precocemente, por exemplo, e agora precisam correr atrás do sustento, outros são expulsos de casa simplesmente por serem quem são, e na rua o tratamento não melhora. Isso é o rap, e essa informação não tem na sua cartilha.