Muitos dizem conhecer a personalidade do C4, definem-o como um rapper pop que faz basicamente som para o entretenimento, sem uma mensagem conscientizadora ou algo relevante socialmente. Muitos o julgam por isso, rotulam-o como falso, mas fato é que C4bal foi um dos únicos rappers na última década que se manteve fiel ao seu discurso. Além disso, em seus últimos sons, trouxe algo que pouco existia no hip-hop nacional: conhecimento filosófico.
Algumas notas escritas por Daniel no facebook já demonstravam o seu interesse pela Ética – um dos ramos da filosofia que consiste basicamente na inteligência compartilhada a serviço do aperfeiçoamento da convivência humana – mas isso ficou claro para mim alguns anos após o lançamento de “A Força Dos Justos”, uma parceria com MadKutz, produtor português com quem C4 criou o projeto “Os Intoc4veis”. No referido som, o rapper faz algumas referências a René Descartes, que para muitos foi o “fundador da filosofia moderna”. É verdade que C4bal em outros sons também faz referência a outros pensadores, mas neste fica evidente a preferência de Korn pela filosofia cartesiana. Ele deixa claro que para buscar a verdade deve ter senso crítico, questionar tudo e a partir da dúvida construir a verdade pura.
Uma das mais conhecidas frases do livro “Discurso sobre o Método” de René Descartes é “penso, logo sou” (em latim “cogito ergo sum”) que consiste o ato de duvidar como indubitável, e as evidências de “pensar” e “ser” ligadas. Os ouvintes mais assíduos dos sons de C4 já se lembram da referência à frase em um dos primeiros versos de “A Força dos Justos”:
Metafísico, Aristóteles, Cogito Ergo Sum / Discurso cartesiano, tudo parte do plano / A prova do mestre, tudo parte da dúvida / Isso é maior que o RAP, isso é muito mais que música.
Eu não conheço o C4bal pessoalmente, as minhas conversas com ele restrigem-se a alguns replys no Twitter, nada mais que isso. Porém, eu posso afirmar pela trajetória do rapper, a qual eu acompanho aqui de Rondônia, que ele leva o senso crítico para a sua vida. E isso é muito bom para o Rap Nacional, graças a isso ele pôs todas as verdades que tinha conhecimento em Malleus Maleficarum (diss ao Emicida), que é basicamente um esclarecimento aos ouvintes do Hip-Hop nacional. Nesse som ele foge do senso comum e questiona o discurso de Emicida, pois este ia contra os seus ideiais a cada novo ato. C4 não se calou diante disso, teve senso crítico.
Outra frase que deixa claro a filosofia adotada por C4:
Iluminação, amor e fé na mente, cético / Sem religião, se a guerra é sagrada / A terra é quadrada, pastor que prega, mente / Homem mau caráter sem ética quebra a palavra.
C4bal deixa claro sua preferência pela razão e diz ser cético, ou seja, não crê em tudo que lhe é exposto, pois tem senso crítico. E ao fim deixa claro sua crença na Ética.
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Mais um pouco, não desista, valerá a pena:
Justos, fazemos a música que queremos / Pra fãs burros? Não, pra um público pequeno / Com um senso crítico, bons observadores / Essência, princípios, isso é sobre ter valores.
Platão acreditava que a filosofia era para poucos. Apenas uma parcela da população teria a virtude da compreensão da sua filosofia profunda. Isso justifica C4 dizer que seus sons são direcionados a um público pequeno, com senso crítico. E por último, mais uma vez, deixa claro que seu discurso envolve a Ética.
Há também uma referência a Nicolau Maquiavel, filósofo mal interpretado historicamente, autor da famosa obra “O Príncipe”.
Fins grandiosos justificam meus meios / Bem vindos à história sem fim / Sigo firme meus propósitos, não mudo, não desisto / Atreio, acredito, a vitória vem sim.
Por fim, C4 encerra sua música com um diálogo entre ele e um ser que o aconselha a buscar a verdade pura (as frases sublinhadas são as falas desse ser).
Assumo a responsa, eu questiono tudo / Encontro a verdade, pergunto / Sim? o que queres de mim? / – Daniel, você sabe (Sei) / Mergulhe no estudo (Okay) / Desce até o fundo (Okay) / Me orgulhe no estúdio (Okay) / Enxerga a luz no túnel? (Sim) / Segue até o fim…
E nisso a música acaba e o C4 dá um descanso em sua carreira (“A Força dos Justos” foi o último lançamento do rapper). Talvez para mergulhar no estudo, também em busca de evolução espiritual. Talvez por ter se cansado de ser rotulado apenas como Pop. C4bal é muito mais que isso. C4 despertou o meu interesse pela filosofia com suas notas no facebook que até hoje eu leio. Ele promete que voltará, e eu acredito que esse descanso será muito bom para o Rap Nacional, pois ele voltará ainda mais sábio e com senso crítico ainda mais apurado. O Hip-Hop precisa disso. Muitos que o criticaram veem hoje seus ídolos gravando com Anitta e Naldo Benny, não é um crítica minha, apenas uma constatação que os valores se inverteram. O rap nacional evoluiu, e essa constatação prova que Daniel Korn é um visionário.
Agora sim, finalizo minhas explanações sobre C4 e filosofia, mas deixo vocês com uma nota escrita por Daniel Korn em seu facebook:
“Pensando alto…
Você que adora apontar o dedo e julga a vida dos outros, consegue se olhar no espelho e ver os seus defeitos? Eu erro pra caralho, mas eu peço desculpas, reconheço meus erros e todo dia tento evoluir… Todo mundo erra, mas nem todo mundo enxerga e cada um tem um tempo diferente pra entender o que é evolução! Precisamos ser compreensivos, mesmo quando não concordamos e temos que tentar conviver da melhor maneira possível, se não por nós, pelo futuro das nossas crianças… Eu não cobro ninguém e se você me conhece, sabe que eu me cobro mais que qualquer cobrança de terceiros, mas é foda equilibrar tudo! O que importa, pra mim, é que eu sei que to no caminho do bem, tentando fazer o melhor que eu posso, mas com consciência que posso melhorar… Isso é humildade e não ficar pagando de sofredor! Evoluir espiritualmente, amar quem me quer bem, cuidar de quem corre do meu lado e trabalhar pra garantir o futuro da minha filha, isso é vencer na vida e esse é o meu compromisso!”
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(acessado 07/11/2015).
https://pt.wikipedia.org/wiki/Discurso_sobre_o_M%C3%A9todo
(acessado 07/11/2015).
(acessado 07/11/2015)
https://www.facebook.com/notes/daniel-korn/pensando-alto/217709394923716
(acessado 07/11/2015)
CLÓVIS, Somos Todos Canalhas, 2015, Casa da Palavra.
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