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O mal e a cura no lançamento ‘Selfies’ do mineiro Tsic

Essa necessidade de reparar na vida, no seu curso, de olhar pra dentro de espiritualizar mais, é uma vontade e uma necessidade pro Tsic, que enxerga em mc’s como o Victor Xamã e o Neto (Síntese) um equilíbrio artístico que ele quer atingir.

O mineiro Tsic volta ao RND com mais uma de suas composições surpreendentes. O Mc costuma trazer doses de crítica à sociedade e ao próprio cenário do rap, o lançamento “Selfies, que foi disponibilizado nas plataformas digitais no último dia 11, vai além disso. Com produção completa do próprio Tsic, as linhas rimadas em cima de um trap falam também sobre questões interiores, existenciais, uma necessidade do próprio Mc.

Essa ampliação é consequência também da fase vivida por ele. Depois do lançamento da sua primeira mixtape, “1995, um projeto experimental que inspirado pelo estilão lo-fi  ̶̶  de quem que nem nós memo: liso de grana e se virou nos 7 pra fazer  ̶̶ , os horizontes do Tsic parecem ser bem maiores:

̶̶  A mixtape 1995 foi uma vibe muito experimental. Eu chapo pra caramba nos sons da IAMDDB, de Manchester, tenho curtido muito os caras da Blah Records, que são da Inglaterra também, e esse time tem uma vibe de fazer uns trabalhos mais lo-fi por causa de limitações financeiras e tal, trabalhar independente é melhor e foi uma puta vibe de superação. Nunca fiz curso de produção, então fui aprendendo enquanto produzia, uma coisa nova aqui, outra ali, e rendeu esse trampo ai [mixtape]. Depois que soltei essa tape, cara, parece que meus horizontes expandiram mil. Tô mais seguro de mim em relação ao rap, mesmo que as vezes nossa fé seja abalada. Sigo firme.

Esse é o terceiro single que foi lançado depois que os horizontes se ampliaram com os aprendizados e as certezas que a mixtape trouxe, e essas conquistas são claras. Selfies traz esse nome em uma analogia com o ego e como ele se porta no mundo moderno, um mal que atinge todo mundo, inclusive o próprio compositor:

̶̶  É foda falar sobre isso, ainda mais pra um cara que tem problema com isso como eu. Muitas das vezes, nos meus problemas diários, deixo o ego falar mais alto, e isso sufoca qualquer tentativa de encontrar o equilíbrio. É uma parada que tenho em mente também. Quando vou compor, procuro sempre por algo que tenho problema pra resolver, pra ouvir, ler, ler de novo e ir tentando mudar, não só nessa, mas em todas as composições que fiz, dá pra perceber que sempre fico nessa dicotomia, de falar no geral x íntimo. Tem gente que já falou que meus sons vão salvar vidas. Tenho certeza disso, porque tem salvado a minha.

https://www.youtube.com/watch?v=mzM9WmcM-rg

E é na música que o Mc mineiro encontra a oportunidade de externar esse mal e também de achar o antídoto pro veneno:

̶̶  O mundo sufoca a gente demais, muita cobrança, muita pressão, e tudo isso é forma de controle sobre a gente. E as vezes o ego te cega a ponto de você esquecer que tem uma vida mesmo, que precisa dar andamento nela, ser feliz, sonhar, conquistar objetivos. Fica preso só naquilo do ‘eu eu eu, eu sou o mais, eu sou o melhor’, e a vida passa, e passa por cima. Através da música, tenho tentado encontrar uma forma de ser o mais livre que posso. Porque no fim das contas, ninguém é livre. Nem os barões, os ricos. São escravos do próprio reino.

Essa necessidade de reparar na vida, no seu curso, de olhar pra dentro de espiritualizar mais, é uma vontade e uma necessidade pro Tsic, que enxerga em mc’s como o Victor Xamã e o Neto (Síntese) um equilíbrio artístico que ele quer atingir. E daqui pra frente os projetos se encaminharão pra isso. Até o fim desse mês o EP “Distorções”, com quatro faixas, e em setembro o primeiro CD do mc mineiro chega as ruas, “Nó no cérebro vol. 2”.