Você já ouviu falar em ASMR?
A ASMR (Autonomous Sensory Meridian Response), ou em português, Resposta Sensorial Meridiana Autônoma, ou em bom português Sons Gostosinhos de Ouvir, estão ganhando cada vez mais adeptos e o soteropolitano Fiteck intitulou o seu mais novo EP com este nome.
Eu nunca tinha ouvido falar no assunto e sem saber o que a sigla significava fiz o que todo grande detetive faria: pesquisei no Google. O resultado foram vários vídeos de uma moça chamada Sweet Carol, especialista em reproduzir barulhinhos sussurrantes e estímulos que levam ao relaxamento.
Ouvindo o ASMR de Fiteck, conseguimos entender o termo da melhor forma possível.
Composto por quatro faixas, o EP trabalha sonoramente em cima de uma estética pluggz – como o próprio Fiteck chama, fazendo referência ao coletivo Pluggz Beats, criador do genêro que ficou conhecido no Brasil por “plug“. A obra conta com a voz de Luiza de Alexandre na faixa “Quando Ela Passa” e a colaboração de dois produtores: o soteropolitano Madashawtyy e o paulista Young Hades. “ASMR” foi gravado nos estúdios Toca do Urso e @Cassio_NH.
No Spotify, os registros sonoros de Fiteck começam com o single “Lisergicos“, de 2019, e passa por tracks deliciosas como “Tem Asas na minha Kenner“, “Demoradinha“, “Escurecemos o Sul” e projetos que não devem em nada para o seu artista favorito como “Vontade de Potência“, “Não me Ame“, “Mar Grande” etc.
Todas as músicas massagens para os ouvidos. Os criadores do ASMR ficariam orgulhosos do que Fiteck é capaz de cantar e produzir.
Abaixo, converso com Fiteck sobre algumas coisitas.
Primeiramente, a pergunta mais difícil do ano até agora: qual é a track mais viciante de ASMR?
– “Quando Ela Passa”, sem dúvida… É um refrão muito bom.
Eu não sabia o que significava ASMR até que conversando com um brother sobre o seu EP eu conheci o conceito… Como veio a ideia de colocar esse nome como título do trabalho?
– A ideia de colocar esse nome no projeto veio da minha estética de rimar, que andei explorando no período que eu tava trancado em estúdio. Ela sempre vem de uma forma sussurrada, perto do mic, como todas as faixas do EP foram gravadas dessa forma surgiu a ideia.
E Fiteck é mais romance ou mais putaria?
– A mistura dos dois. Risos.
A gente tava conversando sobre a estética “plug” e as dezenas de subgêneros que você usou para criar ASMR, mas também da importância do artista colocar a sua identidade na parada e criar “o seu próprio estilo”, além do talento necessário para tal. É assim que os diferentes se sobressaem, né?
– Creio que a maneira mais eficiente de se sobressair é nadando contra a maré, e isso vem se comprovando cada vez mais pra mim.
É plug, plugg ou pluggz? rs
– É plugg e também é Pluggz. Risos.
E essa química com os beatmakers que participaram de “ASMR”? Como foi esse processo de confecção do EP ao lado de Madashawtyy e Young Hades?
– Eu gosto de trabalhar com pessoas que me surpreendem, que sempre tem algo novo na manga… Eu sou esse tipo de pessoa e esse é um dos motivos de eu ser fã do trabalho de Mada e do Hades. Eu apenas confiei neles.
O único feat. do projeto é com a Luiza de Alexandre. A participação dela é um dos pontos fortes de ASMR. Como foi essa ideia de encaixar uma voz feminina ali?
– O feat. com a Luiza aconteceu de uma forma muito espontânea. Eu já era fã da voz dela antes da gente se ver pessoalmente, até que um dia ela fez uma passagem aqui por Salvador e consequentemente a gente gravou algumas faixas. “Quando Ela Passa” foi uma delas, logo joguei no EP porque estava muito boa.
E essa técnica de rimar sussurado?
– Na real minha forma de cantar em muitas faixas é meio sussurrado, liberando bastante ar. Num momento de internação no estúdio em 2021 eu decidi explorar isso de maneira mais firme.
O que toca no fone de Fiteck?
– Minhas guias, as guias dos meus amigos, tudo que vai virar moda e coisas bem antigas.
“Sua baby é nerd. Ela é potterhead”. E Fiteck, curte um Harry Potter? Quais as suas referências e gostos fora do lado musical?
– Na real, eu escrevi essa música em um momento em que eu estava afim de ficar com uma mina meio nerd KKKkk. Mas sim, HP foi um dos primeiro filmes que assisti no cinema, quando eu era bem pequeno, desde então eu assisti todos. Em relação às minhas referências fora da música, eu gosto muito de moda, fico boa parte do tempo vendo styling no instagram… Gosto muito de cinema, da parte dos bastidores, de saber como funciona, como foram feitas cenas. Artes visuais em geral é algo muito forte pra mim.
Suas músicas possuem alto potencial de virarem hits, mas você ainda é um cara do underground. Como você enxerga esse processo de “virar mainstream”, ser mais conhecido pelo grande público baiano, etc?
– O processo de sair do underground é sempre um mistério pra qualquer artista. Muitos até nem querem sair, pois conseguem se manter e viver bem no underground, até porque o underground é bastante relativo, apesar de ser associado à falta de recursos, falta de profissionalismo, tem artistas underground com projeção mainstream e isso vem acontecendo cada vez mais.
O mercado hoje é baseado em nichos, no meu caso, eu tento me profissionalizar cada vez mais para poder ter uma projeção de fato mainstream, mas o que vai determinar se sou um artista underground ou mainstream mesmo é a forma que o público vai me ver. Eu percebo que minhas músicas mais levezinhas cativam pessoas fora do meio do hip-hop no qual eu sou classificado. No meu caso eu tento não pensar muito sobre ser underground ou mainstream, eu foco mais na minha projeção.
Vi que Vandal comentou ótimas palavras sobre o ASMR. Muito foda, né?
– Muito mesmo. Vandal é uma grande referência em vários aspectos pra mim, principalmente no sentido de sempre trazer algo novo e se manter atualizado.
Além do trampo musical, você também lançou um drop de camisas com a estética de “Mar Grande”. Existe um plano desse para “ASMR”?
– Pensei muito sobre isso, talvez aconteça. Vamos ver no que o EP vai se tornar.
Próximos projetos de Fiteck?
– Enquanto eu estava finalizando “ASMR”, eu também gravava outro projeto. Não posso falar muito, mas posso dizer que é diferente.
Manda um recado para todos os fitecketzetes desse Brasil.