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Entrevista

Humanidade; introspecção; por fim, “Reflexo”.

Entidathe lança “Reflexo”: uma viagem de subjetividade, introspecção e reflexos.

Capa do álbum “Reflexo”, de Entidathe

“Reflexo” é um aspecto que assola a todos nós, mas de forma completamente subjetiva. Então, por esse motivo, eu não teria como empregar outra ferramenta na criação desse texto, senão a subjetividade. Portanto, essa é a minha experiência com o trabalho de Entidathe.

Certo dia eu estava melancólico – parecia deter a posse da tristeza mais vil e profunda do mundo, com a mente dominada por pensamentos amargos, cogitando um lugar de ação cruel em que nada que existe na vida importa. No entanto, essa desilusão quase completa veio acompanhada de um pouco de reflexão, e, num estado de completa vulnerabilidade, pude realizar algumas análises sobre mim. Mergulhei tão fundo que cheguei a pensar sobre aquela sensação única que me assolava – sabia que existia uma palavra para esse processo de autossondagem racional e emocional: introspecção. Quando me lembrei dessa palavra, me senti extremamente identificado, e isso me aliviou; era como se tivesse diagnosticado a minha situação, e então poderia ser curado, pois, se até essa sensação de aparência inédita tinha definição, as coisas faziam sentido de novo. Dessa forma, sob a necessidade de uma trilha sonora para embelezar esse momento, não consegui pensar em nenhuma música da minha playlist que transparecesse isso, e então escrevi “Introspecção” no Spotify, e foi quando encontrei o trabalho de Entidathe, tão único e inédito quanto a minha própria introspecção. Esse trabalho, então, se tornou a trilha sonora mais representativa dos meus momentos introspectivos.

Entidathe.

Eis que surge um novo lançamento de Entidathe. A ponta de sua caneta continua perfurando profundamente o ego do ouvinte – e certamente o seu próprio – no trabalho “Reflexo”.

No início da construção desse discoo nome do álbum era ‘Subterfúgio’, nome que leva a introdução deste novo trabalho. Analisando a perspectiva de uma menteque estaria sempre buscando subterfúgios, uma forma evasiva frente aos problemas, relações e situações da vida cotidiana, mesmo quando posta em estado de ação, o processo esmagador da descrençade si mesmo e o medo de falhar, transportando o indivíduo a um marde dualidades e pensamentos desconcertantes. Uma introspecção constante que desfiguratoda uma estrutura implantada e fundamentadadesde o nascimento. Observando o crescer e vir a ser de uma criançasendo a adaptada ao meio sociocultural em que vive, quase sempre caindo na mesma soma de personalidadesexistentes em torno de si.”.

Entidathe por e-mail.

Esse é um resquício da mensagem que Entidathe me mandou por e-mail, a qual nenhuma outra descrição poderia superar em assertividade sobre o álbum. É um trabalho que realmente transcende, não só as nossas convenções sobre o fato de ser um álbum, mas também as convenções sobre o mundo e a vida construídos social e historicamente sob medida para você – ou então te construindo sob medida para ele. Esse é o ponto exato da relação sociedade/indivíduo que Entidathe estuda. Esse momento intermediário de reflexões e indagações fundamentais nutre cada som de “Reflexo”.

Capa B do álbum “Reflexo”, de Entidathe.

A segunda música da obra, “Enfim”, pede que a minha imaginação conceba o clamar da minha avó Tereza, um dos meus maiores lutos: “[…] Onde me encontro é lindo! […]”; realmente sobre perdas e saudades, enquanto “O Saldo”, nona faixa de “Reflexo”, com feat de Dimi CL e Nnay Beats, “[…] Da extorsão da mente à extração do ópio […] Busão lotado encaro; / Sonhei com o meu patrão enforcado. […]” – palavras que absorvo dentro do ônibus, a caminho do trabalho -, me força a retomar momentaneamente a consciência de um mundo cujas relações são essencialmente explorações e convenções permeadas pelo ódio dos explorados – e eu finco as minhas relações, vontades e tarefas exatamente nesse mundo, e isso é louco!

Mais louco é esse aspecto tão abrangente de tão fundamental – assim, pois fundamenta todos os aquilos que transcendem a fisicalidade da vida: humanidade; introspecção; por fim, “Reflexo”.

Entidathe.

“Reflexo” é uma obra facilmente associada por palavras chave, e Entidathe as utiliza justas para dar os nomes às faixas do álbum:

  • Subterfúgio
  • Enfim
  • Autodidata
  • Espírito
  • Primavera
  • Quarta de Cinzas
  • Casa
  • Relativo
  • O Saldo
  • Vida Alheia
  • Desértico
  • 1994

Cada palavra, expressão e data resume certeiro cada música, e sua soma gera “Reflexo”. Empregando a primeira pessoa em muitos momentos do álbum, Entidathe, artista vindo da cultura do Skate e do Graffiti, canta o seu próprio reflexo, e cabe a mim captar o meu reflexo transposto e junto ao dele – e eu faço isso! Em outros momentos, porém, ele fala diretamente comigo, e são conselhos revigorantes e elucidativos.

O que eu faço com os conselhos e reflexos agregadores para a minha vida tem sido transformado na clareza em enxergar o que, aparentemente, importa de verdade. De repente, tudo se torna saudades do meu pai e da minha mãe, das minhas tias, dos avós; vontade de falar pra uma amiga que eu a amo e de poder apreciar tudo o que me envolve com a leveza de estar certo de apenas uma coisa: tudo aquilo é único por ser momentâneo.

“Reflexo”, portanto, para além das infinitas definições a que possa ser atribuído, simplesmente compõe de forma eficientemente completa os meus momentos mais diversos de profundidade, e, incluindo o leitor no texto, eu lhe aplico o discurso direto para dizê-lo que se eu tivesse relevância o suficiente para te dar um conselho, seria o seguinte:

Não apenas ouça, mas absorva o álbum “Reflexo” – e o máximo que conseguir de Entidathe, por completo em todas as plataformas!

Álbum “Reflexo”, de Entidathe, completo.