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Hip hop, política e Mano Brown no comício do PT

To aqui pra falar de coisa séria e coisa séria que incomoda. Ainda mais falar sobre política quando tá todo mundo SATURADO.

Primeiro de tudo, quero esclarecer que respeito a fala do Mano Brown, considero inclusive um grande exemplo de democracia o momento que um cidadão pode subir num palanque e lembrar um partido e toda uma população, de que o povo não se sente representado e a política não conversa com o trabalhador, com o povo, com a base. O candidato Haddad reconheceu os erros apontados, eles são inegáveis. Isso é democracia!

Preciso levantar uma questão importante sobre a fala do rapper do Racionais MC’s. A imprensa com sua agenda e a oposição ao candidato Haddad, hoje, tentou (e conseguiu) desvirtuar totalmente o discurso de um homem que tem influência direta na ideologia de milhares de pessoas, na periferia e fora dela!

https://www.youtube.com/watch?v=uVJJZ6xlSXI&fbclid=IwAR1gy-BKGoq6TxKMKdu_S6hzkUAFPDJv_rtDL33TTkBEC1Z6SKEs9J7nTmg&app=desktop

Quero registrar um momento da fala do músico para que ninguém esqueça:

“O que mata a gente é a cegueira e o fanatismo. Deixou de entender o povão já era! Se nós somos partido dos trabalhadores, partido do povo, tem que entender o que o povo quer. Se não sabe volta pra base e vai procurar saber”

Essa é uma mensagem extremamente válida. Se SOMOS À FAVOR DO POVO, TEMOS QUE VOLTAR PRA BASE E GOVERNAR PRO POVO. Foi o que ele disse, um ultimato pra um governo do PT que realmente priorize o trabalhador. De forma nenhuma isso significa que ele está prestando apoio à oposição.

Como imprensa, não posso compactuar com a desinformação e com uma mídia que deseja propagar inverdades. Divulgo então aqui o vídeo na íntegra:

Tenho 2 pontos ainda a tratar sobre essa fala. A fala do Mano Brown toca num ponto fundamental sobre a forma como devemos encarar quem tem opiniões contrárias à nossa:

“Eu não consigo acreditar que pessoas que me tratavam com tanto carinho, que me respeitavam, me amavam, que me serviam café de manhã, que lavavam meu carro, que atendia meu filho no hospital, se transformaram em monstros… Eu não posso acreditar nisso, essas pessoas não são tão más assim.”

Essa é uma mensagem forte sobre empatia, e me lembrou do vídeo recente do Djonga, sobre o voto consciente a favor do Haddad e da democracia:

Devemos compreensão com pessoas que ainda não puderam tirar a venda, por quem passa dificuldade TODOS OS DIAS e teve uma vida de direitos negados. Essas pessoas não são más, elas estão desesperadas e foram enganadas pela ideia de que o antidemocrata vai mudar o Brasil e melhorar suas vidas. Quem trabalha 14 horas por dia pra sobreviver e dar o que comer pra família nem sempre teve a oportunidade de ser tocado pelo entendimento e conhecimento que outros tiveram.

Representatividade é fundamental em um momento como esse, e está claro que há algum tempo a população não se sente representada.  E para isso a política deve voltar-se novamente para a base, para o trabalhador e com certeza, pela busca da permanência da democracia.

Esse é a mensagem que esperamos do hip hop resistência que luta e ensina, que tem sido um meio de protesto contra o impacto das instituições legais e governamentais sobre as minorias, como a polícia, há 50 anos. Que conscientiza sobre o racismo, que luta por emancipação.

Por isso, e já acostumada com o hip hop como expressão de rebeldia em relação ao sistema, não discordo da fala de Mano Brown em sua totalidade. No entanto, preciso abrir um parênteses para o momento em que ele diz: “Política não rima, não tem swing, não tem balanço e não tem nada que me interessa. Eu gosto de música.

Acredito que seja fruto da frustração e falta de representatividade que todo o brasileiro sente nesse momento, mas SERÁ MESMO QUE POLÍTICA NÃO RIMA E NÃO TEM NADA QUE INTERESSE? 

Roberto Camargos diz: “Por meio do rap e de seus interlocutores – pessoas comuns e trabalhadores – ganha corpo uma intrigante interface entre história, cultura, sociedade, protesto social e vida cotidiana”.

Eu vejo boa parte da cultura do rap como difusão de um discurso político que dá voz à população, muitas vezes marginalizada. E os rappers muitas vezes são a fonte de conhecimento da periferia. São educadores, são referências.

No rap brasileiro temos ativistas políticos como MV BillCelso Athayde  na CUFA;  Eduardo Tadeo (Facção Central) e suas ações na Fundação Casa. O movimento hip hop é, em si, uma instância de mobilização a qual “minorias” e muitos jovens tem acesso, talvez a única instância a que tenham acesso. O surgimento dos coletivos  também propiciou que atividades político-culturais se propagassem pelo nosso território nacional. Cito inclusive a Nação hip hop/Brasil e Movimento Hip Hop Organizado Brasileiro – MHHOB
com núcleos em diversas de cidades do país.

No mais, não posso deixar de citar o apoio de inúmeras Secretarias de Cultura ao movimento. Basta uma busca rápida no Google e você verá o quanto os assuntos encontram-se ligados. Sem falar na importância do Ministério da Cultura e do Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura.

Então, desculpa, MAS POLÍTICA RIMA SIM, POLÍTICA TEM SWING, TEM BALANÇO E TEM TUDO A VER COM O HIP HOP!  

Tem tanta relação que o Manifesto ‘Rap pela Democracia’ reuniu recentemente mais de 200 artistas do movimento Hip Hop contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) nas eleições presidenciais da próxima semana.

Se você apoia o movimento, entre na página http://rappelademocracia.com leia o manifesto e preste sua solidariedade.

Pode ser que você não concorde comigo, eu posso respeitar isso. E pode ser que algumas pessoas queiram me lembrar de todos os meus privilégios de mulher branca classe média. É VERDADE! De forma nenhuma pretendo negar isso ou falar sobre uma realidade que não é a minha, que nunca vivi. Espero que todos possam compreender. Meu único intuito com esse desabafo é lembrar que o Rap e a política estão muito próximas. E que elas devem importar a todo o cidadão, mesmo que estejamos desesperançosos. Pois política deve ser feita pelo povo para o povo. É nisso que acredito.

Antes que inquisidores comentem sobre minha falta de autocrítica em relação à esquerda: O messianismo em relação ao Lula (assim como o Bolsonaro) é uma ameaça grave, que vemos muito em regimes autoritários, a devoção cega a um governante. Acredito que questões básicas de representatividade popular não aconteceram e nos governos passados as estatais foram usadas como fomento da corrupção… Mas, durante o governo do PT, coisas positivas ocorreram em relação aos direitos dos trabalhadores, programas sociais, fomento à educação, diminuição da desigualdade e políticas de cotas. E essa é a posição que mantenho. Um próximo governo, se democrático como o que o Haddad propõe, é o único caminho (nesse momento e na condição que nos encontramos) para maior participação popular.

São tempos difíceis… Em meio aos ataques à diversas minorias, intimidações e a violência dessa eleição, eu gostaria de pedir “respeitem-se“. E caso você se sinta ameaçado, denuncie.

Ligue 190 em caso de emergência ou, para denúncias, ligue 100 (direitos humanos) e 180 (central de atendimento a mulher). Você não está sozinho!