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Entrevista: Ju Dorotea, sua ‘Teoria do Caos’ e machismo no movimento

Ju Dorotea também respondeu perguntas sobre a crisa política ligada ao posicionamento dos artistas, falou da sua experiência como gestora cultural e ainda deu um papo reto sobre o machismo no Hip Hop.

Nos primeiros dias de março a rapper e agente cultural Ju Dorotea lançou seu EP de estreia sob a alcunha de “Sincronia“. O projeto nos chamou a atenção pela alta qualidade das rimas junto ao seu conteúdo lírico, onde a rapper se mostra uma artistas lúcida e engajada com os fundamentos do Hip Hop.

Ju Dorotea nasceu em São Jose dos Campos/SP e segue sua caminhada como rapper e agente cultural principalmente na fértil região do Vale do Paraíba. Hoje a rapper reside em Volta Redonda/RJ e trabalha em dois projetos sociais nos quais promove a integração da mulher no Hip Hop, o “Rima Sistah“, que da oficinas de rima e noções musicas para meninas iniciantes no Rap; e o “Rima Q Age“, que promove a participação da mulher nos quatro movimentos do Hip-Hop — a iniciativa foi premiada em 2015 pela Secretaria Estadual de Cultura RJ através do edital de Microprojetos Favela Criativa.

“Minha Teoria é que Rap não toca na radio
porque rap toca em assuntos indevidamente”
– Ju Dorotea, em Teoria do Caos

Quando perguntamos à Ju o motivo de ter escolhido o Rap e não outro estilo musical, a artista foi clara: “Acredito que cada um tem sua forma de comunicar aquilo que vem de dentro e isso está ligado à função na existência” disse, “(…) demorei alguns anos pra entender essa parada, mas o que sinto é muito forte: o Rap é a minha função. A música em geral me encanta, todo estilo musical mexe comigo, mas o Rap me sacode mesmo por dentro e por fora!“, completa a mina que tem influências certeiras de Rappin Hood, Sabotage, Mano Brown, Flora Matos, The Roots, KRS-One, Lauryn Hill e muitos outros.


[su_button url=”http://104.248.15.2.br/31715/ju-dorotea-em-seu-ep-de-estreia-sincronia/” target=”blank” style=”3d” background=”#cf4141″ color=”#ffffff” size=”5″ wide=”yes” center=”yes” radius=”7″ icon=”icon: download”]Ouça/baixe o EP “Sincronia”[/su_button]

Ju Dorotea também respondeu perguntas sobre a crisa política ligada ao posicionamento dos artistas, falou da sua experiência como gestora cultural e ainda deu um papo reto sobre o machismo no Hip Hop afirmando “O Hip Hop não é um movimento machista!”, confira:

Crise política nacional e posicionamento dos artistas

Foto: Diogo Carvalho

Foto: Diogo Carvalho

P: O que você acha do cenário político nacional? Porque você acha que alguns artistas não se posicionam sobre esse assunto? 

Na música Teoria do Caos abordei essa ideia de uma forma bem subjetiva. É complicado pensar em 2015 e 2016 sem olhar para o passado com muita atenção. Estamos vivendo uma instabilidade política e econômica ao mesmo tempo em que muita sujeira está vindo à tona. Tenho observado como as pessoas ao meu redor estão sendo afetadas e vejo desemprego e muita ansiedade tirando a paz do coração. Nosso dedo é muito rápido na hora de apontar um culpado e isso é mais forte quando temos a mídia mastigando opiniões pra gente. Não acredito que estamos seguros. Há muitos interesses que não incluem o povo em tudo o que está acontecendo.

Na verdade só é seguro confiar em Deus e não nos homens… Ele sim é justo!

Muitos artistas não se posicionam porque você se torna refém de tudo o que diz e nem todos estão dispostos a correr riscos. Essa omissão é muito incoerente com a função do Rap. Por outro lado, devemos tomar cuidado antes de emitir opinião sem profundidade apenas pra dizer que tem uma posição no assunto. Ser artista faz com que a gente tenha certa influência sobre as pessoas e isso é uma grande responsabilidade.

Gestão cultural feminina no movimento

Foto: projeto Rima Sistah

Foto: projeto Rima Sistah

P: Você desenvolve dois projetos culturais, o “Rima Q Age” (onde promove a participação da mulher nos elementos do Hip Hop) e “Rima Sistah” (oficinas de rima para as minas iniciantes no Rap). Como você se tornou uma gestora cultural? Qual a importância dessas ações para o movimento? 

Eu comecei atuar como gestora quando as ideias fluíram e senti que elas precisavam sair do papel. O fator definitivo foi quando participei de uma oficina de produção oferecida por um coletivo teatral sinistro chamado Sala Preta, de Barra Mansa/RJ. Depois disso busquei aprofundar os conhecimentos e ainda estou aprendendo! Os dois projetos são muito importantes pra mudar o contexto desigual do Hip Hop com relação à participação da mulher. No Rima Sistah, as meninas são encorajadas e no Rima Q Age, que é um evento cultural, rola a integração (cada vez mais necessária) dos quatro elementos do Hip Hop, com protagonismo de mulheres artistas.

Machismo no Hip Hop e voz ativa das mulheres

Foto: Diogo Carvalho

Foto: Diogo Carvalho

P: Cada vez mais as mulheres tem ocupado um grande espaço dentro do Rap, com letras fortes, quebrando paradigmas sociais, e atuando diretamente no movimento de empoderamento feminino, não só no Hip Hop, como em vários contextos da sociedade. Como é ser mulher com voz ativa em meio a um movimento machista? 

O Hip Hop não é um movimento machista! Ele é um movimento que ainda está cheio de gente reproduzindo machismo. As pessoas que tem comportamento opressor no hip hop estão muito equivocadas e distantes dos valores dessa cultura. As mulheres não chegaram agora no hip hop, sempre estiveram ali, mas a visibilidade e o respeito são conquistas recentes. Por isso ser mulher com voz ativa acaba sendo uma missão cheia de obstáculos. Mas é muito necessário que tenha cada vez mais mulheres nesse compromisso. Estamos em busca de um contexto em que não precisemos mais ficar lembrando às pessoas que hip hop se trata de união.

Próximos Passos

Foto: Diogo Carvalho

Foto: Diogo Carvalho

Estou estudando e compondo, pois pretendo lançar um novo trabalho e um videoclipe, mas tudo à seu tempo, com calma! As ideias de Sincronia ainda estão correndo e chegando às pessoas.

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