Na manhã desta sexta-feira (22), Diomedes Chinaski lança o clipe do seu polêmico single, lançado no dia (20), com o instrumental de Christ Concious de Joey Bada$$. Intitulado “Christ Concious Freestyle” o rapper diz ser o melhor depois de Mano Brown e Don L. O Clipe tem direção de João Pedro (JotaPê) e foi produzido pela Outra Vibe Records.
Aproveitando o lançamento do clipe, o RND fez uma pequena entrevista com Diomedes para falar sobre o freestyle e sobre a atual cena do rap na opinião dele. “O Brasil não ama os nordestinos“, afirma um dos poucos rappers nordestinos com visibilidade no cenário nacional — Confira:
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Entrevista
RND: Diomedes, você ainda colhe os frutos de um excelente trabalho, que foi o CD “O Aprendiz”. O rap do nordeste sempre foi muito regional e não conseguia abraçar todos os outros cantos do Brasil, mas você conseguiu levar o seu rap pra outras regiões. Como está sendo pra você essa receptividade fora do nordeste?
Chinaski: Pra mim tem sido irado saber que mesmo com o abismo cultural entre o nordeste e as demais regiões, alguns estão conseguindo me entender. Isso é fruto de um trabalho árduo e as vezes até frustrante, mas ao mesmo tempo inspirador. Ainda falta muito. Acho que vai levar algum tempo pra eu consegui viajar o país levando minha música e fazendo dinheiro.
RND: O rap cresceu muito como estilo musical nos últimos 20 anos, ganhou notoriedade e atenção da grande mídia, porém, ainda é gritante a diferença entre a popularidade do rap carioca e paulista por exemplo, em relação ao nordeste. Como você se sente e quais são suas expectativas?
Chinaski: Acredito que talvez nunca tenha um grande espaço pra nós no cenário nacional. O Brasil não ama os nordestinos. E o time dos grandes nomes do eixo SP e RJ também nunca vão se sentir confortáveis com a gente no game. Eles nos boicotam apenas com o silêncio. O silêncio deles é poderoso.
Don L é minha aposta esse ano, acredito e vejo muito talento nele. A participação dele no disco do Costa Gold prova isso. Considero a mixtape dele melhor que todos os discos de RJ e SP da geração atual. Também admiro vários grupos que estão na cena, e respeito. Não vou invejar quem está no game, mas acho Don L mais talentoso. Gosto pessoal, mas uma hora ou outra vai ser impossível esconder isso. O que coloca os grupos de SP e RJ na frente é o dom que eles tem de atrair gente nova. Isso é louvável, pois é rentável. Nunca serei um hater, Não quero crescer à custa de atacar alguém que conquistou mais que eu. Mas confio no meu trampo e estou satisfeito com o que consegui até aqui. Eu e minha gangue fizemos milagres. Sou ídolo de vários muleke doido nessas ruas (falo muleke doido de verdade, não jovens brancos que fumam maconha e se acham rebeldes). Sinto-me Moisés sobrevivendo e tendo bons resultados no deserto.
RND: Você acabou de lançar um remix de “Christ Conscious” de Joey Bada$$. Você inseriu alguns versos impactantes dentro desse remix, como “Na minha frente só vejo Brown e Don L”. O objetivo era realmente chamar atenção ou são versos sinceros?
Chinaski: Essa forma de escrever se chama “Ego Trip”. É herança das batalhas. É impossível afirmar quem é melhor que alguém, pois todo estilo é único (quer dizer, nem todos né…). Quando um rapper está na função, ele tem que ser o melhor do mundo pra ele mesmo e para o ouvinte. Isso significa dar o melhor de si. Lembram do que Kendrick Lamar fez na track de Big Sean? Lembra de Eminem em RAP GOD?
As críticas que tenho recebido são frutos de falta de conhecimento. Lógico que não estou desprezando ninguém. Acho Poema Liricista bem melhor que eu. Acho que o Planeta Máfia está fazendo sons bem melhores que os meus ultimamente, com um estilo único. Mas eu não vou chegar no RAP BR pedindo licença, não tem espaço pra mim, eu preciso criar um.
Nasci nas batalhas, eu escuto rap português, angolano, e, principalmente americano. Eu não vou ouvir um rapper dizendo que é o melhor e ficar chateado. Eu sei do que ele está falando. E minha música não é só ego trip, tenho muito som profundo também. Ou seja, baseado nisso, eu sou o rei das minhas próprias linhas. Sou o melhor rapper do meu mundo. E Mano Brown não preciso falar que ele é o Deus do RAP NACIONAL.
RND: Qual é o próximo passo pra depois de “O Aprendiz”? Alguns críticos de internet estão comentando que você conseguiu achar o ponto ideal pro seu rap dentro desse CD, o que você tem pra dizer sobre isso?
Chinaski: Tenho a segunda parte da mixtape “O Aprendiz” guardada. Vou deixar ela guardada. Realmente a aceitação dessas canções me fez perceber que meu público estava com saudade do Chinaski do meu primeiro EP. Agora vou fazer isso com mais qualidade. Tem um disco do meu grupo Chave Mestra todo em trap guardado também. Mas no meu solo vou fazer uma parada mais conceitual. Acho que o excesso de gente fazendo trap tá fazendo com que os sons passem muito rápido. Mas sempre vou fazer tudo que tiver afim. Tem um trap pra sair com Valente. Tem um boom bap com Makalister Renton. Tem sons com os amigos do Dcortesia, Orla Clan, Planeta Máfia e banca, A Banca Z, Pixote Manja, L.O, Mr Cínico, Poema Liricista, Chipan, Sagaz etc… Esse ano é o ano de gravar com a galera daqui, fortalecer nosso game que está cada vez mais bonito. Além de gravar com Mc’s de brega funk, principalmente com meus irmãozinhos Danilo Cometa e Léo da Lagoa. O brega funk é um gênero musical feito para à noite, que só existe aqui em Pernambuco. Cultura de favela. Faz parte de mim antes de eu conhecer o rap.
RND: Vendo o rap como veículo de informação e cultura, como você enxerga a atual cena do rap brasileiro e como você se insere? Pra você, o que é ser um bom rapper?
Chinaski: Sem muito arrodeio, o caminho é esse: ganhar dinheiro. Seja o trap, o rap de mensagem ou o que for, o caminho é ganhar dinheiro. Sempre haverão estilos diferentes e isso é ótimo. Insiro-me onde tiver dinheiro. Meus irmãos vendem crack, porque não posso vender minha música? Pra ser um bom rapper tem que estudar o hip hop. Estudar mais do que julgar. Tentar entender e se preocuparem criar uma identidade áudio e visual própria. Ser original e não invejar ninguém.