Paulo Borges, no bate-papo com a revista GQ no JK Iguatemi:
No São Paulo Fashion Week, a gente sempre tem o olho aberto, a porta aberta para as coisas que vão mudando. Eu falo que moda não pode viver de saudosismo, por que a gente trabalha com o novo.
Então, tanto a revista como uma plataforma de moda, como o São Paulo Fashion Week, a gente tem que mostrar os movimentos que estão acontecendo, quer as pessoas gostem ou não. Tem gente que vai gostar, e tem gente que não gostar.
A força desse projeto da LAB vem da história que é do Emicida, que é um rapper, que vem da periferia, que ainda vive em torno da periferia, junto com o Fióti (Evandro), irmão dele. E eles tem uma importância inusitada, cultural, muito forte.
Eu já fui ver shows do Emicida pelo Brasil e não é uma plateia, é quase uma legião. Se ele fala todo mundo se joga no chão. É uma coisa impressionante a força de comunicação.
Olha como é engraçado, tudo gira em torno do comportamento. Eu falo que moda não é roupa. A roupa é um instrumento que você comercializa através de um desejo que você desperta em determinado grupo de pessoas. E aí, eles começaram a fazer camisetas e vender camisetas nos shows. E começaram a vender. E aí fizeram bonés e começaram a vender bonés no show.
E eles fazem muito shows e os shows são com muitas pessoas. Então eles começaram a vender. E daí criaram uma marca chamada Laboratório Fantasma. E isso foi criando corpo, foi criando corpo e em determinado momento eles cruzaram com o João Pimenta, sim eles se encontram com o João Pimenta, e aí o João me liga e fala: “Paulo, cê acha possível a marca do Emicida desfilar no São Paulo Fashion Week?”
Eu falei: “Bom, primeiro, eu nem sabia que o Emicida tinha uma marca”. Como a gente acha que sabe tudo, né, a gente fica por fora. E aí eu fui conhecer, entender o projeto, eu fui ver o que tinha, na verdade. Sabe, a questão também é o que é isso? É uma temática muito forte, muito perigosa. Se ela não for autentica, ela esvazia, vira marketing. E o importante desse processo, que além dele está trabalhando em uma questão muito da moda hoje que é o esporte com o urbano, né?!
Toda essa linguagem. Se a gente olhar para todas as coleções no mundo todo, o esporte está influenciando todas as coleções, até na alta costura a gente tá vendo isso, né?! E eles têm essa questão da rua, do esporte, essa mistura do basquete com o skate; e isso tudo vem trazendo linguagem.
E aí, essa imagem que a gente vê, já é uma imagem política, porquê é uma imagem onde eles trabalham por exemplo, uma parte da LAB, ela não tem é gênero, ou seja, ela serve tanto para homem, quanto para mulher, que um outro assunto muito discutido; e ela vai do número trinta e seis ao número GGG, que ela entende que a coleção é também plus size.
Ela entende que é para pessoas diversas. Ela entende que a coleção tem que vestir o ser humano, independente do sexo, da preferência sexual, da cor. Então é um discursão muito nova para o mundo, muito nova também para o Brasil, que é tão antagônico, porque a gente está vendo um movimento extremamente conservador tomando conta do país. Ao mesmo tempo, a rua está do lado oposto. É inacreditável isso assim. Quem tem seu país indo para um lado e o povo, a classe artística, os intelectuais do outro. É como se fosse duas avenidas completamente diferentes. Onde isso vai dar, a gente não sabe.
Mas a LAB é fenômeno assim. Esse último desfile, foi o terceiro desfile deles, esse último foi excepcional, por que a gente via a força da plateia e as pessoas se levantaram na fila final. Então virou um corredor, foi uma loucura. Realmente muito forte. Tem vários recados aí.
Fonte: Finíssimo