Na ultima quinta-feira (5), Rashid deu uma entrevista ao deepbeep, e formou sua dbmixtape, onde os artistas entrevistados fazem uma mixtape com sons que marcaram suas vidas.
Na entrevista Rashid revela que está é sua ultima mixtape, que pensa em gravar um DVD e quer estudar música para lançar seu primeiro álbum.
Confira a entrevista abaixo ou no link da deepbeep.
Por Stefanie Gaspar
Fotos Ana Shiokawa
Como você começou a se envolver com o rap?
Como eu era moleque, eu não tinha dinheiro pra comprar disco, nem sabia o que era disco. Ia na casa dos primos e ouvia alguma coisa pelo rádio, tipo Fim de Semana no Parque. E aí você começa a decorar a letra, querer rimar igual. Na Zona Leste eu morava na rua da minha escola, então a gente já saia da aula cantando Racionais e ficava na rua rimando, todo dia.
Pra gente que ouvia praticamente só rap nacional o importante era a identificação com a figura dos caras, com a linguagem deles, a realidade que eles cantavam… esse cara aí sou eu, é o que eu pensava. Foi isso que me levou a fazer rap. Eu colocava as roupas e ficava rimando na frente do espelho. É um clichê, mas é verdade.
Com quantos anos você começou a fazer rap?
Com 12 anos eu comecei a tentar escrever, mas sem muita pretensão que fosse dar certo. Teve uma época que fui para Minas Gerais e encontrei uns amigos que também gostavam, o que me fez começar a gravar. Eu ligava o fone de ouvido na entrada do microfone do rádio e gravava nas fitas, ficava gravando pedacinho do beat das músicas que eu gostava pra poder rimar em cima. Computador era um negócio que eu não sabia o que era. Eu gravava e levava pra rua pros moleques rirem.
Foi o rap também que me obrigou a ler. Os veteranos sempre dizem que rappers novos precisam se informar, precisam estar no topo das coisas. Um moleque de 13, 14 anos não fica lendo na calçada, mas me obriguei a fazer isso pra poder ter repertório pra rimar – daí foi de livros da igreja, já que minha mãe é evangélica, a poesia e literatura. No começo era tenso, eu dormia lendo, apagava, demorava três meses pra ler algo besta. Mas deu certo. Quando voltei para São Paulo participar das Rinhas, da Batalha da Santa Cruz, eu percebi que fazia diferença na hora de improvisar. Quanto mais eu lia, mais eu ganhava. A competitividade entre eu, Projota, Emicida e os outros moleques vinha disso, de querer ler absolutamente tudo e saber tudo pra poder rimar melhor na hora do freestyle.
Você agora lança sua quarta mixtape, Confundindo Sábios. O que vem por aí nesse trabalho?
Estamos fechando os últimos detalhes, mas em geral a mixtape já está consolidada há algum tempo. O nome surgiu de uma parada bíblica. Todo o meu conhecimento veio da Igreja – não faço rap gospel, faço rap secular, mas tudo que aprendi veio dali, da minha avó. Existe um versículo na Bíblia, em Coríntios se não me engano, que diz que Deus usa as coisas loucas para confundir os sábios.
Esse título me surgiu na cabeça também por tudo que tem acontecido no rap de 2009 pra cá, com a ascensão de Emicida, Criolo, Projota, Cone Crew… acho que é uma forma de traduzir o que tem acontecido. O rap sempre foi visto como fora da cena musical em geral, e hoje não é mais isso. Como assim o que eu faço não é música? O disco do Criolo abriu muitas portas, porque colocou em evidência que a principal influência do rap nacional em geral é a MPB, é a música brasileira como um todo, com Chico, Caetano. Por isso também fiz questão de colocar na dbmixtape sons de Adoniran Barbosa, Cartola, Alcione… quero que as pessoas entendam que o rap é música e vem de uma longa tradição. Muita gente não aceita, mas o rap está chegando confundindo as pessoas.
A mixtape também chega em um momento importante socialmente para o Brasil, com muita gente melhorando de vida com uma melhor distribuição de renda e uma conscientização política por meio das manifestações. Tudo isso passou pela minha cabeça na hora de compor.
De que forma esse novo momento político mudou a cara da mixtape?
Depois de tudo que aconteceu, de ir na primeira manifestação contra o aumento das passagens, eu cheguei até a mudar letra de música em cima da hora. Achei que era necessário, que o momento pedia. Não existe como fugir desse tipo de temática. O poder público precisa ter medo da gente, saber que alguma coisa vai mudar.
Antes das manifestações eu também já tinha composto uma música mais política, chamada Hostil, falando de Pinheirinho, dos incêndios criminosos nas favelas, a especulação imobiliária, eleições… enfim, é inevitável passar por todos esses temas.
E depois de Confundindo Sábios? O que vem por aí?
Agora eu queria parar um pouco, estudar música, pesquisar bastante e deixar de lado as mixtapes para finalmente pensar em um álbum. Álbum é completamente diferente de mixtape, precisa ter um outro tipo de narrativa, é um trabalho mais complexo. E ano que vem também quero gravar um DVD, mas ainda não sei como vai ser esse trampo.
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