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Cobertura

Edição de 6 anos da Batalha do Ana Rosa

Foto: Camila Cicolo

Batalha de rima é um movimento antigo, com grandes nomes do Rap atual sendo integrantes e oriundos, como Emicida, Criolo, Ogi, Froid, Orochi etc. No Brasil funcionou por muito tempo como a categoria de base de MCs e tem alguns anos que é um movimento único com um público de massa próprio.

Quando digo público de massa, é de MASSA mesmo. A edição #200 da batalha do Ana Rosa tinha muita gente, não dava pra andar, o Baueb não conseguia andar, sem contar o espaço do palco a praça estava totalmente tomada. E isso é muito foda.
Dava pra perceber que nem mesmo os MCs esperavam tanta gente, a maioria falando nos stories que tava abismado. Mikezin tava presente e falou uma frase que resumiu muito: se parar a batalha, tocar o mandelão, isso aqui vira um baile.

Tinha muito fã, no espaço reservado pros MCs e familiares os gritos das batalhas se misturavam com gritos da molecada pendurada nos arredores pedindo foto, pedindo pro Brennuz mandar recado pra mãe, pra tia, pro Zuluzão mandar recado pro primo, pros alunos, criança abraçando. E principalmente, tinha muita união, muito respeito e dentro do possível, com tanta gente assim, tinha muita organização e dedicação de quem fez o evento acontecer. Foi espetáculo.

YouTube x Presencial

É outra coisa. No YouTube o microfone, a câmera, tudo ali posicionado, vira uma arte de cenas. Ao vivo tem muita interferência, não tem como, em duas batalhas um microfone ficou mais baixo que o outro, o gerador ameaçou pifar uma hora, a galera grita, é uma batalha de rua, na rua e não tem como não ter interferências. Dito isso: muito mais foda.

Se você não foi numa batalha, ainda mais essas com muita gente, vá. Todo mundo querendo pular junto, é um espetáculo muito diferente, tem muita energia, mas ainda é sobre sentimento, dá pra ver a diferença de quando um Mc coloca entonação na voz, quando um MC balança a cabeça negativamente e isso afeta a plateia, ou o oposto, quando um MC não chega na rima perfeita, mas entonação ajuda e muda tudo, você se pega gritando. 

MCs

Aí que entra MC. O negócio é muito psicológico e treino mental. Pessoalmente é muito mais interessante perceber isso. Óbvio que o flow do Xamuel ajuda, que a construção de rima do Guri foi decisiva, mas quando o Dubaile desce do palco e tranquilo fala: essa a gente não vai perder, pode deixar. Muda tudo. Você sente. Ele sobe no palco com outro espírito.

E até quando perde. Zuluzão e Baueb, Ravena e Renanzin foram duas duplas muito boas. Na derrota do Zuluzão e Baueb o microfone atrapalhou muito, tanto que o Tavin batalhou logo em seguida e reclamou, mas acho que o Zuluzão conseguiu reverter isso muito bem, principalmente no terceiro, por ter uma entonação forte e rimar sempre alto, mandou muita rima e a plateia tava junto dele, os jurados não e acabou saindo. No Renanzin e Ravena, ele tava com sangue no olho e a Ravena depois que esquentou encaixou muito bem, como sempre, dava pra perceber e só perderam porque ali não tinha jeito de passar, mas mesmo essas duplas que ficam pelo caminho, ao vivo, é bom demais ver, porque na internet acabam sendo muito mais figurantes do que deveriam.

Foto: Camila Cicolo

E o principal caso disso é Saboó e Moita Treta, no ao vivo foi um espetáculo, os dois só de subir no placo já faziam a plateia toda rir, os caras chamam o público, não tem jeito. Sem dúvidas, para mim que tava lá, Saboó foi MVP tranquilamente, ele perdeu em um terceiro onde as coisas acabaram não encaixando direito e ele guardou muito a rima da paçoca, mas se ele acerta um pouco mais, só ia passando e batendo em favorito.

Apollo, Jotape, Magrao, Freelipe, Maria, Tavin, Dopre, Killua, Youngui, Thm, Grafiteh, Sofia, Bask, Guri, WM, Nisque, Spratzz, Dherik, Black Panter, Lil Vi, Kroy, Prado, Barreto, Levinsk, não tem um que não passa energia, é muito bom estar lá, é muito bom se distrair um pouco, voltar e ouvir 2 rimas fodas que cê só pensa: puts, ganhou, acabou, é isso.

Bastidores

Os caras não param de gastar. Toda rima no palco tem uma piada no meio dos MCs. Outro ambiente estar lá, o Youngui virar pra você e falar: “pode me roubar, pode fazer tudo, mas o que mais me dá ódio é perder e depois a dupla não passar de fase (…) se é pra perder, que seja pro campeão.”

Zuluzão tirando onda com a molecada pra tirar foto, Baueb dando esporro na galera subindo na barraca que era da prefeitura, Brennuz dando risada falando que a barraquinha que era das camisetas podia tá vendendo umas cervejas também. Gente dos bastidores ali tudo junto, apoiando o movimento, o clima é muito foda na plateia, mesmo todo mundo sufocado de tanta gente.

Foto: Camila Cicolo

Ver as coisas ruins também, perceber o sentimento da Levinsk por ter perdido a vó recentemente e o quanto isso acaba afetando, mas ela buscar mesmo assim, o Dherik sentindo muito quando perdeu a batalha e depois passar no meio do público e ir pra casa porque tava passando mal.

Por último, mas não menos importante, os vencedores: tava com um clima de pós BDA 7 anos, e o Guri se garantiu nessa energia, repetiu e se provou ser o melhor do Brasil, pelo menos durante a edição, ganhou muito bem cada batalha, de forma indiscutível, foi decisivo tanto quanto o Zuluzão, quanto contra o próprio Barreto (pra mim, a rivalidade da noite). O Bask usou suas rimas de deboche de sempre, mas soube trazer a galera, sabia mudar de assunto e controlar o ritmo da batalha conforme favorecia a dupla, um verdadeiro camisa 10.
Vou terminar meu texto aqui agradecendo ao Baueb e toda organização da Batalha do Ana Rosa que possibilitou viver tudo isso mesmo em meio ao caos da superlotação, nos receberam muito muito bem, dando a oportunidade de curtir um evento muito foda mais próximos dos MCs.

A batalha acontece todas às quintas-feiras na praça ao lado do metrô Ana Rosa, em São Paulo.

Vejam todas as batalhas da edição e se inscrevam no canal da BDAR:
https://www.youtube.com/@BatalhadoAnaRosa

Fiquem com as fotos que transmitem um pouco do que foi o evento:

Fotos: Camila Cicolo