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Resenha EP: ‘Devito Está Triste’

No primeiro semestre de 2017, foi lançado o EP “Devito está triste”, o título é auto-explicativo e já apresenta bem o que o aguarda.

O trampo conta com 3 faixas, Penumbra, Marasmo e Redenção. Cada uma com sua intensidade, melancolia, mensagem e vibração, que unificadas, geram um dos melhores trabalhos do ano. No post de hoje, constará uma análise sobre a faixa que abre o trabalho.

Desde o título, se nota que a faixa será sombria, ou melhor, habitará no entorno do que há de mais assombrado. O instrumental profundo e simples tocado no começo, tece logo o clima íntimo e voltado ao interior, linkando o interior do artista ao do ouvinte.

Logo em sua primeira linha, a faixa já explicita a podridão de tudo que a inspira, relatando que ‘entidades estupraram meu cérebro, agora não tenho presente, passado e nem futuro’. O som flerta diretamente com o que há de místico, tal como filósofos gregos tentando justificar aquilo maior que eles.

Nas linhas seguintes, te tornando ainda mais próximo, o artista te lembra da infância (retratada na arte da capa), remetendo a grandeza desse sentimento que o aflige. A paranoia e o desespero são citados, em parte como exemplo da insegurança, em parte como metáfora pra demonstrar o abalo psicológico que as relações interpessoais podem ocasionar.

Após um uso genial do recurso de demon voice, o clima se mantém, porém em uma nova perspectiva. Talvez o artista em meio ao diálogo já não queria mais estimular a negatividade em quem o ouve, mas, por outro lado, DeVito pode estar simplesmente tentando se iludir a fim de evitar um final trágico, tanto para a vida, quanto para a faixa.

A nova perspectiva ainda triste vai rumo ao contentamento, citando situações de maior sofrimento que a que o cerca, em meio a mais um flerte com o divino, o artista finalmente nota a função do rap e do mic em sua vida, o salvando de um possível abuso de drogas.

Um verso em específico, tal como um tapa na cara de alguém em um estado depreciante, por problemas psíquicos ou em alucinação devido a uso de psicotrópicos, acorda o ouvinte forçam a refletir e principalmente sentir o que foi narrado na faixa. O verso, além de uma métrica e entrega melódica apurada, é extremamente forte, podendo inclusive ser o cartão de chamada do som.

“Enquanto as nuvens me observam // Com suas metralhadoras de karma me obrigando a ser bom // Sinto melancolia mas é esquizofrenia // Porque sei que as leis da física são o que me atrofiam // Pois tenho a alma maior do que o corpo //E toda noite ela escorre pelo meu rosto”