Connect with us

Hi, what are you looking for?

Old

Cultura Hip Hop traduzida em LIBRAS

Evento dedicado ao movimento hip hop em Goiás amplia acessibilidade para transmitir 6ª edição em formato Lives

Após 2 anos de paralisação em virtude da pandemia, um dos maiores eventos de Hip Hop no Estado de Goiás está de volta em formato virtual. A galera já está mais do que acostumada em assistir lives, mas esta terá um diferencial importante para o movimento: Acessibilidade! Todo conteúdo (LIVE) terá intérprete de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) com a professora Cida Costa Reis (foto de destaque) e isso garante que pessoas surdas possam participar e apreciar o evento. A Semana da Cultura Hip Hop já está na 6ª edição e as ações culturais vão acontecer até o dia 26 de março de 2022, a partir das 20h, no canal do Programa Hip Hop em Cena.

As transmissões terão apresentações culturais de música RAP, acompanhada de performance de DJs, Break-dance/Street Dance (dança de rua), Batalhas de MCs (rimas de improviso) e mural de grafite. Esse evento é voltado para o fortalecimento de iniciativas de artistas, grupos/coletivos e comunidades praticantes dos diferentes elementos da cultura Hip Hop do Estado de Goiás e foi contemplado no Edital da Lei Aldir Blanc 2021, realizado por meio da Secretaria Estado de Cultura / SECULT-GO, Secretaria de Cultura – Governo Federal.

Surdo-Negro

É a primeira vez que este evento garante esta acessibilidade, direito garantido pelo decreto nº 5.626/ 2005 que regulamenta a Lei nº 10.436/2002 conhecida como a Lei da LIBRAS. De acordo com a intérprete Cida Costa, só em Goiânia são mais de 27 mil surdos, uma comunidade formada por pessoas que também consomem música e querem ter essa acesso ao entretenimento. Mas ela alerta que são poucos os artistas e produtores com essa preocupação da presença de um intérprete em apresentações.

Dentro do nosso país, a língua oficial é a língua portuguesa. Mas também tem as línguas indígenas e ainda a língua de sinais. Muitas vezes a gente estuda inglês, espanhol e nem tem contato direto com essas pessoas de outros países. Já os surdos estão aí nas ruas, estão nas escolas e estão nos locais que a gente passa. Se tivermos um pouquinho de sensibilidade e observar mais, por onde você passa é possível encontrar um surdo, eles estão dentro da sociedade“, alerta Cida.

Cida Costa- professora, jornalista e intérprete em LIBRAS

Ao lado da problemática relacionada ao Surdo que sofre preconceito e perdas significativas de seus direitos e da cidadania de modo em geral, destacamos uma questão grave que é o Surdo que é Negro. De um modo geral, a pessoa quando ela é surda já enfrenta um obstáculo social, e quando a pessoa é surda-negra, Cida aponta que o preconceito de Raça antecede ao de limitação auditiva.

A ausência de estratégias de inclusão de surdos no entretenimento, na saúde e em boa parte dos órgãos públicos preocupa a intérprete. Pra ela, deveria ter cursos de capacitação de Língua de Sinais dentro dos hospitais, para os médicos, para as enfermeiras, recepcionistas, também nos bancos e escolas. Cida afirma que não é obrigação dos surdos andar com um intérprete, nem todos tem condições financeiras para isso. É a lei que tem que garantir essa acessibilidade para os surdos.

Cida lembra que a própria história dos surdos no Brasil e o acesso a educação de qualidade também é mercada por privilégios, sobretudo financeiro. O INES – Instituto Nacional de Educação dos Surdos, que é um castelo enorme em São Paulo, foi um incentivo criado por D. Pedro II para que pudesse dar toda assistência e educação ao seu familiar surdo e por isso ele fundou esta instituição.

Então, se olharmos para questões de raça e classe, o que acontece é que a maioria das pessoas com uma condição financeira menor tem mais dificuldade de acessibilidade. Nem todo surdo pode pagar um intérprete para acompanhá-lo, apesar de haver políticas públicas para que o aluno tenha esse suporte nas escolas por exemplo“, explica Cida Costa.

Outra questão observada por Cida é que quase não se vê intérpretes negros no Brasil. Ela é uma das poucas representantes neste papel em Goiás. “Sou muito feliz em estar representando meu povo neste importante papel“, diz.