Explorando o máximo da experimentação musical, o projeto “expedidor” é comandado pelo gaúcho natural de Imbé, Lucas Bellator . Tendo iniciado sua caminhada há exatamente um ano atrás, o músico produziu dois EP’s, com uma pegada bastante voltada para o emo/rock alternativo e para o lo-fi, são eles o “lunch beats” e o “solo“. Dessa vez ele chega com seu mais novo trabalho, o EP “CAFÉ FLOPS“, demonstrando suas influências do rap, que de certa forma sempre estiveram presentes em sua música, porém, dessa vez expostas de uma maneira mais evidente. Apostando em rimas e fortes sintetizadores, este é um ponto de evolução muito interessante e original do projeto.
Quando tratamos este EP como um progresso artístico, não falamos apenas de uma produção feita com mais “qualidade“, mas sim por explorar de forma mais ampla um conceito trabalhado em “lunch beats“, seu trampo anterior. A primeira sensação quando ouvimos “CAFÉ FLOPS“, além de um estranhamento caso seus ouvidos não estejam acostumados com algumas ideias musicais e líricas experimentais, é o minimalismo com que os elementos que formam a obra são inseridos. Com arranjos e uma ambientação muito puxada para algo mais groovado e sampleado, com influências de vaporwave e hip hop conceitual como Madlib e Freddie Gibbs, a gente percebe o quão disruptivo pode ser o rap.
É muito simples colocar este EP em uma prateleira denominada de “hip-hop alternativo“, o que não deixaria de estar certo, mas também é impossível deixar de admirar a roupagem diferenciada do trabalho ao classifica-lo de forma tão simples. No meio do rap, onde muitas vezes assumir uma postura “forte” é um meio de auto afirmação da arte do MC e do seu próprio “eu“, aqui temos uma exibição muito legal de vulnerabilidade. Não apenas por mostrar sentimentos, mas por principalmente brincar bastante com a persona do que é ser rapper.
“Pra trabalhar nesse emprego de rapper você tem que ser mau!” (Emicida na música “Cananéia, Iguape e Ilha Comprida“)
A faixa “estricinei freestyle” é um ótimo exemplo desta ironia e desconstrução da figura do MC. Combinando um instrumental que parece servir como trilha sonora de uma fase de video game e as rimas são como evoluções do personagem do jogo, tudo feito de forma aparentemente despretensiosa, mas que não deixa de lado uma carga de seriedade muito grande. Entender que o rap tem espaço para todo tipo de forma e conteúdo, é entender que a arte é infinita e aberta para todo tipo de público e personalidade. Lucas compreende bem este aspecto e nos dá uma aula de estética que percorre nos ricos e leves 7 minutos do EP.
Além de todos estes elementos, o ponto mais alto do trampo seria sua própria simplicidade. Apesar de muito diferenciado, o EP é extremamente acessível e direto, mostrando facilmente onde quer chegar. O mais legal de tudo, é ele ser um respiro ao meio de tanta coisa igual que tem sido feita na cena do rap nacional. Então abrace “CAFÉ FLOPS“, disponível nas principais plataformas digitais: