Connect with us

Hi, what are you looking for?

Old

Cintia Savóli, Lívia Cruz e a Turnê EuTavaLá

A turnê “EuTavaLá” é uma homenagem a música de Lívia em resposta a um famoso clipe que nem existe mais no YouTube oficialmente, e que recentemente atingiu a marca de um milhão de visualizações.

Recentemente recebemos aqui no Nordeste uma turnê inesquecível com duas das mulheres mais expressivas do rap nacional: Cíntia Savóli e Lívia Cruz. A turnê “EuTavaLá” é uma homenagem a música de Lívia em resposta a um famoso clipe que nem existe mais no YouTube oficialmente, e que recentemente atingiu a marca de um milhão de visualizações. Os shows aconteceram em Salvador, Feira de Santana e Aracaju. O RND marcou presença na capital sergipana e fez uma breve entrevista com elas sobre a parceria, os shows e o futuro da carreira, esta realmente imperdível. Confira:

RND – Como surgiu a Turnê EuTavaLá, e quais as melhores impressões?

C – Por uma sintonia de vida, de ideais e de mãe solteira, a gente criou uma amizade muito grande e desde então sonhamos juntas, a turnê foi a realização de um desses sonhos. A proposta foi fazer shows por todo o Brasil juntas. Iniciamos pelo nordeste, graças ao apoio das queridas Lane Palanca, Camila Mota e a toda equipe da produção de cada show, e principalmente a todos que compareceram, foi realmente inesquecível.

L – Resolvemos começar por Salvador, por ser a cidade de Cíntia e eu senti que foi a melhor escolha ter começado pelo Nordeste, por ter menos shows eu me senti muito contemplada com a troca com o público, ver o quanto que estavam compartilhando e demonstrando muita vontade de estar juntos com a gente nos shows, foi incrível.

RND – Estava no show de vocês em Aracaju e presenciei algo muito importante, a maioria das pessoas na frente do palco eram mulheres, cena que não é muito comum na grande parte dos shows de Rap que já fui, qual a opinião de vocês sobre isso?

C – A palavra protagonismo define essa parada, porque eram mulheres no palco, mulheres na produção e mulheres na linha de frente, como público. O que a gente luta nesse contexto é pelo não-silenciamento que é muito forte, é violento, e ai quando a gente vê essa configuração de mulheres fazendo acontecer e um monte de mulher se sentindo contemplada, o protagonismo define perfeitamente.

L – O nosso objetivo da turnê é a missão de fazer acontecer, por isso que a produção é tão importante. Sobre as meninas em frente ao palco é muito legal, porque a gente percebe que elas se sentem seguras, a gente ficou acuada muito tempo em espaços de Rap e Hip Hop e ainda ficamos. Elas estando seguras também faz com que a gente se sinta segura também, porque muitas vezes a gente se sente ameaçada no show, os caras falam obscenidade ou demonstram raiva por estarmos em cima do palco, e isso gera um desconforto muito grande, então é muito bom quando isso acontece.

RND – A um tempo atrás me disseram que a salvação do Hip-Hop viria das mulheres. Para vocês, qual a relação entre Hip-Hop e o Feminismo?

C – Só se faz revolução quando se precisa reivindicar algo, e como as mulheres estão na posição do oprimido, obviamente a revolução só pode vir de pessoas que querem reivindicar algo que é seu por direito mais ainda não foi dado, então claro que quem vai fazer a revolução são os pretos no sentido de combater o racismo, quem vai fazer revolução contra o machismo e contra o silenciamento que a gente vive, somos nós. Quando a gente fala essas coisas parece tão raso, mas viver isso na pele é muito mais detalhado, e agora chegou um momento que está estourando de fato, porque se a gente fala e outras mulheres se sentem representadas e contempladas com nossa fala, vai alastrando e vai chagar o momento. Os caras tão numa zona de conforto, principalmente se eles forem brancos dentro desse contexto, eles tem recursos, eles tem dinheiro e por ser homens nesse sentido eles estão completamente numa zona de conforto, então a revolução só pode vir das mulheres.

L– O Hip Hop fundamentalmente traz um posicionamento com relação a igualdade, a gente quer ser tratado com dignidade e com igualdade, e o Hip Hop tem muito a ver com isso, da pessoa ter a sua identidade afirmada e reconhecida, então eu não acho que tenha algo mais Hip Hop do que o Feminismo, porque a ideia é essa, a gente só quer isso, ser tratada com igualdade e dignidade, é o mínimo.

RND – Pra finalizar, queremos saber o futuro da carreira de cada uma de vocês, sobre o futuro da turnê e alguma declaração final que vocês ainda não falaram.

C – No momento a gente esta focada em subir o nordeste todo com a turnê, então pra shows eu to focada no sentido do “mais é menos”, porque eu também estou gravando meu CD, eu pretendo profundamente lançar ainda nesse ano, o cara que ta produzindo esta me pedindo paciência porque estamos buscando mais recursos pra fazer uma obra de fato muito bem feita, detalhada, mixagem de acordo, então estou tendo essa paciência de esperar, porque as músicas estão praticamente prontas, faltam só algumas parcerias, das pessoas que vão participar. Então meu futuro é esse, seguir em turnê, lançar meu CD novo, e fazer uma outra turnê de lançamento. Em relação ao que aconteceu ontem, eu quero falar que pra a gente também é surpreendente, porque a gente joga pro  universo e ele devolve, a gente colocou muito amor nisso, a gente acredita muito no nosso próprio trabalho, sabemos exatamente o que a gente ta fazendo, a gente não ta emocionada, a gente não ta brincando com o rap, então ver que nosso trabalho esta rendendo frutos, é muito importante pra nós, é essa dignidade que a gente busca e tem exigido nesse contexto que a Lívia falou sobre o Feminismo dentro do Hip Hop. Essa é a prova de que estamos no caminho certo, acreditar, batalhar e meter as caras e não ficar só se lamentando né? A gente ta voltando pra casa cansada, depois de 3 dias sem dormir, tocando, dando entrevista, estrada e dirigindo, mas eu to voltando 10x mais forte e mais preparada, porque você viu que a missão foi cumprida.

L – Estou sem palavras, foi muito emocionante, foi como Cíntia falou, é um cansaço físico e mental, mas que é de tirar o ar de tão importante o que fizeram por nós e o que nós estamos fazendo acontecer. São coisas que a gente acha que nunca vai acontecer, enfrentamos muitas dificuldades em realizar e a gente fez, e não tem preço, não tem palavras, estou encantada com esse momento, ninguém pode nos parar.