Lançado no final de outubro, Masters of The Sun Vol. 1, novo álbum de estúdio do grupo californiano The Black Eyed Peas, tem gerado reações mistas por parte do grande público, principalmente por ser o primeiro trabalho com a formação original (sem a Fergie) desde 2000, com o álbum Bridging the Gap. Mas o que mais tem chamado a atenção é a mudança do estilo do grupo, largando de vez a pegada pop e futurista dos últimos anos. Agora will.i.am, Taboo e apl.de.ap apresentam 12 faixas com um discurso militante anti Trump, contra a violência e a favor do amor ao próximo (ainda sobra espaço pro bom e velho braggadocio, é claro) embalado pelo boombap.
Para alguns essa mudança foi drástica, mas o que muitos talvez não sabem, é que o Black Eyed Peas nunca largou esse discurso, nem mesmo com hits como “I Gotta Feeling” bombando em todas as rádios ao redor do globo. São sete álbuns de estúdio no currículo e em todos tem pelo menos um par de músicas conscientizando a galera, o que acontece é que essas nunca estouraram. Clássicos como “Get Original” com Chali 2na, “The Apl Song”, “Union“, “One Tribe” e “Someday” são a prova de que o BEP manteve a sua essência ao longo de mais de 20 anos de carreira. Não à toa o seu primeiro grande hit foi “Where Is the Love?” e o mesmo ganhou um remix com vários artistas relevantes em 2016.
Os comentários mais comuns sobre o projeto pedem o retorno da Fergie ao mesmo passo que comemoram a saída dela, causando uma divisão entre os fãs. A questão é que a própria saiu do grupo no começo do ano e, realmente, ouvindo o novo álbum ela não faz tanta falta. Tem no mínimo 6 vozes femininas presentes, todas diferentes à sua maneira e casando tão bem com a sonoridade do trio quanto a Fergie casaria. O que realmente faz perceptível a ausência da cantora são as apresentações ao vivo, músicas como “Let’s Get Started” e “Shut Up” não são as mesmas sem ela. Mesmo quando ainda havia dúvidas do público sobre a permanência da única mulher no grupo, foi lançado o single “Constant part 1 & 2“, com participação do pioneiro Slick Rick, onde o líder will.i.am confirma que a formação passara de quarteto para trio:
I’m givin’ you somin’ new, somin’ to tweet about / Don’t be upset when B-E-P out / Ain’t no quartet, they just three out / There’s the trio, one amigo / Filipino, and a negro / Around the globe that’s just how we go / Ain’t no stopping, ain’t no ego / – will.i.am em Constant part 1 & 2
Além do boombap, outra comparação que podemos fazer com o Black Eyed Peas dos anos ‘90 e ‘00 são as participações especiais. Nomes como Posdnuos (De La Soul), Ali Shaheed Muhammad e o falecido Phife Dawg (ambos do A Tribe Called Quest), Nas, CL, Slick Rick e Nicole Scherzinger (The Pussycat Dolls) marcam presença no novo disco. No passado eles já tiveram colaborações com nomes como Wyclef Jean (The Fugees), Justin Timberlake, Mos Def, James Brown! É incrível a química do trio com qualquer artista que eles convidem, como se todos fossem apenas amigos fazendo música (em alguns casos é justamente isso mesmo).
O álbum critica fortemente o atual governo dos Estados Unidos, indo da divisão da sociedade entre conservadorismo e progressismo, como na faixa “YES or NO“, até o desarmamento civil, como na faixa “BIG LOVE“, que inclusive virou single e ganhou um dos videoclipes mais pesados, e com uma enorme carga emocional, do grupo, quiçá da história da música.
Ouça Masters of The Sun Vol. 1, novo disco do The Black Eyed Peas e tire as suas próprias conclusões: