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Análise completa do último álbum do Síntese e entrevista com o Neto

Há exatos 2 meses do lançamento do valiosíssimo álbum “Trilha para o Desencanto da Ilusão”, apresentamos uma análise faixa a faixa do disco e uma entrevista com o Neto.

Já se faz exatamente dois meses que o álbum saiu, e ainda tem muita ficha que não caiu, em diversos comentários do vídeo, das ruas, de todos os lugares, tem partes que passaram em branco, e não vai ser só nessa análise que vai dar para entender tudo, pesquisa pelo mundo, abra sua mente do obscuro, essa é a intenção de cada música produzida, te dar luz como ponto de saída de um túnel de ignorância, dê relevância a cada detalhe que passou, não á atoa que vários versos acabam virando tatuagem no braço de quem entende.

E como arte que toca, vai tocar cada um de um jeito, por mais que minha interpretação seja feita com base no que eu escuto e o que a letra passa, tentando não levar nada em conta, é impossível não trazer o que eu vivi para ela, então discordar e debater a sua interpretação, ter outra interpretação, pra mim é sinal de evolução, e aqui eu apenas deixo o que eu acho, para você criar a sua e evoluir com o som.

‘Meu caminho’

Se revela no caminho, estrada de puro ninho, fazendo da parada a voz do povo um hino. Começando seus versos a capela, acenda a sua vela que começa a celebração. Na primeira música do álbum, Neto fala sobre o que é a música, como ela é a vida, os sonhos. Pedindo permissão para cruzar o caminho do seu ouvido e entrar na sua mente, mas não pela porta da frente, toca na sua mão e te convida para a unção, dê a benção, talvez seja essa a razão de continuar de toda essa canção, te convencer que se perder é o melhor caminho pra se acender.

E acende a chama da vida, em toda as suas rimas e batidas, o amor continua uno, pelo próximo, pela vida, por sonhar, e assim ele começa, a primeira mensagem é um pedido de entrada para a mudança e a conquista, um caminho que vai da sua orelha até a sua mão, pedindo para que ela se feche em um abraço no próximo e se agarre a cada palavra dita, como sinal de salvação.

Um verso que me instiga pela intenção ou não da poesia em seu total, é o terceiro, nele Neto diz “Alma sã pras mente louca“, ele pronuncia ‘Alma sã’ de forma rápida, virando quase um ‘a maçã’ e em algumas culturas a maçã é símbolo de espiritualidade, será que no terceiro verso Neto já oferece a espiritualidade pras mente louca? Se não foi proposital, eu ficarei surpreso, pois essa música e todo o álbum é isso, oferecer mensagens que mudam a vida espiritualmente de quem escuta.

‘Ritual’

Quando eu era mais novo, costumava frequentar a igreja, e lembro que toda vez antes de começar a missa, vinha uma cartilha informando o que ia acontecer, se a cartilha fosse a do disco, essa seria a hora da oração.

Só que nessa oração as mãos nãos se juntam, se erguem e balançam, ao ritmo da batida que é lançada no coração, e o ritual começa, sem pressa, batida de reggae, rima lenta, aguenta. Rimas fortes que vangloriam samples e a busca pelo beat perfeito, a essência musical, a apreciação do RAP não mais apenas como um passa tempo, mas como a grande arte do século XXI e um rap pesado, a busca fonográfica chegou a um sample de “Groundation” e combinado com o flow do Neto, o resultado é sem cortesia.

Siga suas dicas, cada frase desse CD é uma referência, busque saber o que é cada palavra que não entender, são aulas que não podem passar sem se saber, e como em todo outro ritual espiritual, o saber caminha lado a lado com a mudança, e sem saber o que é Mzuri Sana, a mensagem que o Ritual trança perde o seu gingado.

‘Mistério’

Agora que a paz chegou, é hora de descer, ‘alado from hell’ e levantado por uma batida clássica do Slim Rimografia, aliás ‘rimografia aliada’, a porrada vem de todos os lados, referências africanas como o jongo, dança de roda brasileira com referências do grande continente. E como uma roda, Neto atropela nas palavras, killa bee de Wu Tang Clan, referência a SJC, a sua história, Gestério se mostra eleito, bate no peito e peita quem não respeita.

Mas é sem maldade tru, se você escuta, segue a luta, inspira e respira, respeite a conduta. Papo de quem já desceu e voltou, viveu, viu e ouviu coisas que fazem mais um homem do que o Nilo o rio, descer e voltar, ter a capacidade de se fazer lição para homem grande escutar e até mesmo tatuar, com frases que não esqueçam e marquem a pele e a vida de muitos, essa é a música, isso é o que é falado em altos pulmões, em meio a fumaça, que a luta é com muita raça, para que você faça de você o seu melhor.

‘Lá Maior’

Pessoalmente escolhido por Neto, os samples do Black Alien demonstram a admiração, até mesmo dito em entrevista que em breve você lerá, colocar como referência Black Alien fez o Síntese tomar diversas decisões musicais.

O sentimento dessa música é que ela foi uma das últimas e primeiras a serem feitas, quase que construída por todos os cinco anos de produção. Lá Maior é citada na “Ritual”. Ao microfone espírito dos novos tempos, como diria Black Alien em “Babylon By Gus”, é através do microfone que Neto narra a queda do castelo e como a babilônia está no ano de 2000 e crise, a fragilidade do ser, de pular do penhasco, se levantar e se erguer, chamar JAH com sua energia espiritual e não dever ao mal, aproveitar cada ensinamento e mensagem para construir uma melhor passagem e evoluir.

‘Babilônia Pt. 2’

Ter direito ao remix de KL Jay faz os scratches soarem até como se Grand Wizard Theodore estivesse remixando a sua música, com direito até a samples do Racionais.

E continua a obra, a segunda parte da descrição, depois que cair no chão, do penhasco construído pela multidão, se esvai a esperança e constrói essa lembrança da fuga para a cidade de Canaã.

Na segunda parte a vida imita a arte e conhecer a selva é parte das trevas mas a luz encontra um caminho na escuridão. Feito Gideão testando a sua capacidade de observação, beba a fonte do saber sem deixar de ver a quem possa te atormentar. A referência se faz forte, em um dos grandes que lhe estendeu a mão, e quando fala da “adolescente de corpo quente, atraente, atrevida que empresta sua vida“, se faz lembrar da “confeiteira que oferece seus doces a meia noite“.

É uma música de detalhes, como é a primeira parte dela, e deve ser escutada assim, como um aviso dado, para não ficar largado, dormir no veneno é um passo pequeno, dica de quem já pulou do abismo e voltou de braços abertos, batendo no peito e correndo.

‘Desconstrução’

No mais ‘sintéticos’ dos mundos, Neto canta música criada por ele e pelo Léo em 2012. Contra a lógica que persegue a Babilônia (dinheiro) e foge do espiritual, seguir esse mundo vira algo gutural e atemporal, pelas profundezas de sua voz, canta esse novo ritual de admirar César na moeda e não se reservar a sorrir, amar e respeitar, tendo na vigilância, no ato de observar seu comportamento em prol e pró o próximo.

Uma frase que me impressiona nessa música por diversos pontos, é a seguinte: “Sodoma, Gomorra/ Que morra!/ vislumbro/ É o que grita quem doma”. O primeiro ponto é a quebra poética do compositor, Sodoma rima com doma lá no fim, Gomorra rima com morra, a vírgula faz a pausa no verso do meio e deixa tudo na métrica perfeita, rimas realmente exemplares. No significado Sodoma, Gomorra são partes da Bíblia que citam pecados, normalmente relacionados ao excesso, seja ele carnal ou de qualquer viés, e que foi ‘punido’ por Deus, e logo depois, vem a frase de quem possui o ouro, “Que morra!” é o castigo no pelouro de quem se subjuga e não julga o preço da moeda, Babilônia vira treva e o chicote estrala nas costas de quem é domado, e tomado pela humilhação, a frase do ourudo tem poder de colocar tudo a valer nada.

‘Giramundo’

Uma das músicas mais emocionantes e íntimas do álbum, dedicada para o seu irmão, tutor e mentor, quem guiou no começo e fez parte dos tropeços, cada vez que levantou, se ergueu e voou alto, Giramundo é uma das minhas favoritas, pela história que ela passa. O Síntese é um projeto de levar ao maior número de pessoas a mensagem de esperança e esse projeto foi idealizado por Gestério Neto e Leonardo Irian, irmãos antes de tudo, e depois amantes da música e do próximo.

Leonardo por problemas pessoais não conseguiu até hoje continua junto do Neto neste projeto, e sem o teto ainda tem murro de arrimo, Neto continuou na rima o sonho dos irmãos de São José dos Campos.

Essa música é antes de uma homenagem, uma declaração, não só de amor entre irmãos, mas para valorizar o próximo, valorizar o que se vive, o que se sonha e o que te faz feliz, não só feliz, mas vivo, porque até onde escorre lágrimas, existe vida“.

‘Vive Aqui’

Todo dia uma vida, todo dia uma chance”, mais uma música do Neto cheia de frases dignas de cravar seu corpo com uma tatuagem e que cravam na sua mente uma mensagem que te expande, renasça, reviva, refaça, sinta, “não plante o futuro nesse chão duro“, a luz que ilumina é inverso do escuro, o caminho da vitória é sempre o mais duro, não desista, ande, lute, insista, que a vista é mais bela do lado de quem conquista.

Crime é quando você me define, ao definir você me nega, ou melhor, você me pega pra você“, esse pra mim é o melhor verso da música, (se não do disco), é forte como deve ser, como o Síntese é, e canta a capacidade da diferença entre examinar e julgar, a definição, o cumprimento vazio que se engloba alguém, ser apenas aquilo que é definido, é botar limites, parar de forma brusca a evolução.

‘Gotas de Veneno’

A capacidade lírica e metafórica dos compositores desta música em fazer da água tantas coisas e sendo apenas uma palavra, é incrível, transformando a água em símbolo de poder que aceita ficar por baixo, a água em limite, como gota d’água, afogar sob mensagens, nadar nas tempestades, prevejo até recordes de metáforas de uma palavra só em uma estrofe, algo artisticamente foda.

Saia dessa seca e beba dessa fonte, nade nessa imensidão, faça desse mar sua redenção, escute cada onda bater em seu caís, não caia em tentação, mar de ilusão é rente ao chão, voe ao som da trombeta do capitão e faça do seu navio alazão, com capacidade de compreensão elevada, sinta a arte do Neto como porta de entrada, ou melhor, como Iemanjá abençoando cada palavra.

Novo dia

Mais que uma nova chance de recomeço, de um dia após o outro, é a esperança, o riso após o choro, a vida por inteira, de amor após ódio, uma nova chance para entender, a vida brotando.

É uma música romântica no sentido de ideal, de esperança, de amor, brincar de viver e sentir a vida, a felicidade, música para erguer a cabeça e seguir em frente, muito síntese, plural na mente, rito de paz e renovação.

Religare

Só a palavra já representa um mundo de significados essenciais para essa música, advinda do latim, a palavra tem dois significados seguindo dois períodos, ambos cabíveis para a música, o primeiro é “reler, revisitar, retomar o que estava largado”, já o segundo é “religar, atar, apertar, ligar bem”, e o que é essencial entender nesse nome, é que ele é aceito por alguns, como termo de onde surgiu a palavra religião.

A música usa a palavra quase como uma oração, no verso “sem lembrar: religare“, a palavra se cabe exatamente com o segundo ato, e é quase como um choque de realidade, “quando se esquecer, se religue“.

A pergunta é: se esquecer do que? Neto começa a música falando na época em que sentava na beira do cais, sem menos e sem mais no que prosseguir, olhar o navio partir e dizendo “por quê? Para que?” e despertar, enxergar as cores e antigos valores, que te fazem perceber, ser portal da vida e participante dela, ser água nesse fluído e fazer da vida não um copo, mas uma cachoeira que te trilha, não possuí-la, mas deixar ser levado e testemunhar como é a correnteza.

Escute essa música pensando naquilo que deixou de fazer, ou que fez sem esperanças, agarre o ar que te circunda, com a paixão de quem sabe que tudo que existe foi criado a partir de um sentimento fino e nobre, descubra o valor desse sentido.

Alvorada

Como outras músicas do álbum, essa música é sobre recomeço. Uma frase que resume bem a canção é “Quem não renasce em vida é um aborto”.

É sobre outro ponto de recomeço que traz a música, de crescimento, busca por renovação pessoal, saber que se estagnar é morrer, e por mais certezas que você tenha, nada é tão certo, ter um novo ponto sobre tudo que acredita, e se renovar, trocar de pele e buscar a medida que te traga a paz.

E que isso é possível para todos, neste exato momento o Sol está nascendo, estrelas nascendo, crianças sorrindo, o mundo gira e o brilho continua, e nenhuma capacidade de crescimento é maior que a sua, brilhar é saber que o seu potencial é de renovação e que nada é absoluto, nem mesmo você e sua opinião.

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E depois dessa opinião separada por cada música, releia o disco, faça a sua própria leitura, não vá pelo react, trabalhe a obra mentalmente, seu poder de interpretar e não de ganhar tudo mastigado, exercite sua capacidade de entender e lidar com as coisas, isso que faz de nós seres racionais.

“Tenho pra mim que o texto, o teor, a mensagem do Síntese, é um dos bagulhos mais importantes do Rap, e mais relevantes da música do Brasil” – Neto

Depois que fizer a releitura, volte e escute a opinião de quem importa, Neto nos cedeu uma entrevista e ninguém melhor do que o criador de tudo isso, para dar seu ponto de vista sobre a sua obra.

Inglês é a língua de maior alcance mundial e sua música tem uma mensagem que ajuda a todos que precisa de uma mão, qual foi a intenção de colocar trechos em inglês em alguns versos?

Neto: Influência muito forte do Rap gringo. Fiz muito inspirado no verso em inglês da Mr. Niterói, também. Aquela parte foi uma colagem de referências, uma colcha de retalhos do que eu gosto e do que influenciou o meu estilo.

O ser humano é evolução constante. Você no projeto do seu álbum desde 2008, o que você mudou nas suas letras e como acha que melhorou as músicas desde 2008 até hoje?

Neto: Acho que fazer música bem, anda lado a lado com ouvir música bem. E fora isso ainda tem toda a parte da evolução pessoal. Na medida com que a gente vai crescendo, a gente vai mudando os interesses, as ânsias, vai chegando em música que tem a ver com o jeito que a gente tá em cada época. Acho que hoje em dia a gente faz com mais responsabilidade, mais musicalidade e mais coisa na cabeça. Quanto mais o tempo passa, mais fica difícil fazer música falando o que é preciso dizer em cada agora. Exige muito mais cautela. E fora isso, tem a coisa de a gente estar no meio do Hip Hop, a nossa vida ser essa vida noturna do meio de atuação do Rap e existe um desgaste natural de tudo e uma necessidade de se dar vida para outros sentimentos também. Então, creio que além de me aprofundar e amadurecer a tese de Rap do Síntese, acredito que pluralizei mais o meu leque criativo.

Ganjaman é um ídolo como produtor musical, como é para você representar tanto e ter tanta gente boa junto acompanhando sua caminhada?

Neto: Pra mim é uma grande satisfação. Tenho pra mim que o texto, o teor, a mensagem do Síntese, é um dos bagulhos mais importantes do Rap, e mais relevantes da música do Brasil. E é com esses mesmo que eu sempre sentí que tinha que estar junto. É uma realidade que eu sempre mentalizei, e tudo aconteceu naturalmente. Me sinto honrado de ver isso acontecer e encabeçar esse movimento de ideal tão puro que tem tanta gente boa colocando energia.

O nome do álbum me interessou muito, com ‘Desencanto da ilusão’ eu entendo a quebra de um paradigma que guia as pessoas para um rumo errado. A trilha que é o álbum, leva para onde?

Neto: A trilha é o caminho pessoal de cada um, a senda espiritual de cada ente. É a pêia! É um mergulho no inconsciente, representado pela floresta, pelo mar, como se fosse a atmosfera que é cada alma. É um caminho peito a dentro que traz uma postura no caminhar mundo a fora. Um novo tratamento com a vida e uma nova percepção da realidade. E é um durante, um ciclo que infinitamente se renova.
Depois de vagar na Babilônia em busca de Canaã, ví que o fio da vida emenda aqui, e o trabalho é o amor. O único mandamento. A Síntese.

No processo de lançamento da música você que misturou ansiedade com certo perfeccionismo, como foi para você controlar e lidar com isso?

Neto: Foi foda. A ânsia de querer compartilhar com as pessoas é muito grande, mas a vontade de tratar a música e o trabalho do Síntese da melhor maneira me falavam alto também. Tô na fase de elevar o Síntese para um trabalho mais profissional, pra assim chegar em mais ouvidos, pra assim chegar em mais corações. Bom que consegui lançar esse ano, e encerrei esse ciclo que eu já tava percorrendo a algum tempo. Agora é trabalhar, fazer o disco crescer, em Janeiro tem as cópias físicas, cantar as músicas pelo Brasil e levar a energia de transformação e cura interna através do Hip Hop espiritual, filosófico e psicológico do Vale do Paraíba. Agradeço a todos que entendem a proposta do Síntese, e um salve a todos que diariamente vem dar um salve que foram transformados pela mensagem do Síntese.

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