Em meio à enxurrada de “escuta meu som aí, mano”, “fortalece aí ouvindo minha rima nova” e “confira o novo hit do MC Fulano”, ainda consigo encontrar bons novos nomes no Rap nacional. Exemplo disso é uma dupla de São José dos Campos (interior de SP) que conseguiu chamar minha atenção com um vídeo simples, beat torto, letra nervosa e performance e levada neuróticas. A música se chamava 4:20 e os responsáveis eram o grupo Síntese, com quem troquei uma ideia pra saber um pouco das “várias fita na mente” desses dois jovens que vem sendo apontados como promessa da novíssima geração rap do Braza.
– Quem é o Síntese? Quando vocês começaram a se envolver com o Rap?
O Síntese é uma dupla. Léo (MC) e Neto (BeatMaker/MC).
Por volta de 2007 ocorriam semanalmente rodas de freestyle em encontros de vândalos e pixadores na cidade e a gente frequentava. Daí em diante o interesse cresceu, começamos a fazer também e colar mais nos eventuais movimentos de Rap que aconteciam na época.
– Comentem sobre a produção do vídeo da música 4:20. Vocês esperavam essa repercussão? Algo mudou pro Síntese depois que o vídeo foi liberado?
A ideia do web-vídeo era fazer com que parecesse um recorte do nosso dia, uma intervenção no cotidiano naquele lote comum de espaço, porém de significado pra nós, porque sempre estamos naquela praça. Esperávamos mais a repercussão local que aconteceu, de quem já vem acompanhando o que a gente tem feito por aqui desde as cópias da DemoTape (2010) e a Promotape (2011) que a gente fez com a mesma ideia de ser um projeto mais para as pessoas daqui. Mas de fato, o vídeo chegou em alguns lugares que não esperávamos mesmo. Não, nada mudou. O vídeo só possibilitou que mais pessoas tivessem oportunidade de conhecer a mensagem.
– Quando vi o título da música 4:20, achei que se tratava de mais um rap enfumaçado, mas a faixa tem uma letra bem sóbria e até politizada. Porque a música leva esse nome? Foi intencional esse contraste entre título e mensagem?
O título foi o horário em que a música foi composta, e a partir disso o jeito que decidimos começar a escrever a letra. Na verdade não foi intencional. Alguns interpretam assim não só pelo título, mas devido ao reggae que rola no começo. Mas esse trecho só foi colocado porque é a original que sampleamos para fazer a base. A música não faz menção nenhuma à maconha, a associação só é feita por quem enxerga o registro de maneira rasa, porém alguns ainda analizam o contexto com atenção.
– Quando conheci o som do grupo, o que me chamou atenção logo de cara foi a sonoridade diferenciada nos instrumentais e o clima tenso nas letras e levadas. Vocês já começaram a fazer as músicas nessa intenção ou foi algo natural?
Fazemos o que pede a intenção das propostas de cada coisa que fazemos. Esse ímpeto é inevitável no que a gente se propõe a fazer, o que a gente acha que deve ser falado pede uma seriedade maior no tratamento, de fato.
– Quais artistas, grupos ou bandas (ou demais manifestações artísticas) influenciam o trabalho de vocês?
Nossos amigos nos influenciam muito, nossa família, principalmente quem não é envolvido com arte. Nos influenciamos musicalmente por muitos caras daqui, como os músicos do Coletivo Estoril, os manos do Distúrbio Verbal, nossos parceiros do Sementes da Tribo, o Marginal, o GiRap, entre outros.
– São José dos Campos parece ser uma cidade frutífera em rap, quais outros nomes vocês destacam aí da região onde vivem?
Destacamos o Marginal, MC de milianos daqui e os nossos amigos do Distúrbio Verbal. Guardem esses nomes.
– Citem cinco discos que vocês mais têm ouvido ultimamente.
Sarksmo e Choco – Para Além da Capital (2006)
Noel Ellis – Noel Ellis (1983)
O Rappa – Acústico MTV (2005)
Monte Zion – Força, Vida e Luz (2002)
Black Alien – Babylon By Gus (2004)
– Vocês estão trabalhando em algum material? Disco, músicas novas… o que vem do Síntese pra 2012?
Estamos com muitos projetos pra esse ano. Em março sai mais um vídeo, e em abril a MixTape “Sem Cortesia”.
Fonte: altnewspaper (Um dos melhores sites do país)