Black Alien se despede da Babilônia e saúda o inferno no recém lançado “Abaixo de Zero: Hello Hell”. O disco tem a produção assinada por Papatinho (Cone Crew), que já havia trabalhado com o artista no single “Jah na Contenção”, precedendo Babylon By Gus, Vol. 2.
Lançado dia 12 de abril, o novo disco é composto por nove faixas de pura musicalidade e sentimento, onde o rapper relata em suas letras a realidade vivida em meio sua reabilitação.
Um dos artistas mais importantes do rap nacional desde os anos 90, Black Alien fez história ao lado de outros grandes nomes da cena de Niterói. Criou uma forma completamente nova de fazer rap, com um flow bem característico, referências intelectuais e cinéfilas . Em um cenário onde o rap abordava um único tema, retratando a vida periférica e suas dificuldades, Alien junto ao eterno SpeedFreaks, apresentou todo um novo conceito, rimando sobre o cotidiano do jovem brasileiro da época.
Versos imortais como os de “Mulheres e Crianças Primeiro”, com Speed, “Um Bom Lugar”, ao lado de Sabotage, “Contexto” com Planet Hemp e clássicos como “Mister Niterói” e “Como Eu Te Quero”, garantem uma boa colocação no pódio do movimento hip-hop no país. Black Alien fez escola rimando em inglês, puxando para o patoá jamaicano e flertando com o ragga em grande parte de suas músicas, principalmente no primeiro disco solo.
Muitos enxergam o novo disco como o retorno de Gustavo, porém ele nunca deixou de estar presente. Seu primeiro álbum é um bom exemplo disso. “Babylon By Gus, Vol. 1: O Ano do Macaco”, lançado em 2004, foi um dos trabalhos mais relevantes do cenário nacional dentro do gênero. Mesmo dentro de um hiato de 11 anos a obra se tornou atemporal.
O público esperou atônito pelo segundo disco, que viria a ser lançado em 2015. A insegurança em fazer um disco tão bom quanto o primeiro era evidente, mas para Mr. Niterói não havia obrigatoriedade em fazer um novo clássico e, embora sem pretensão, ele assim o fez. “Babylon By Gus Vol 2 – No princípio era o verbo” é uma nítida continuação do primeiro álbum, mas agora de forma mais sóbria e consciente.
Black Alien continuou despretensiosamente em seu terceiro projeto, “apenas escrevi”, comenta ele. A instrumentalidade está nítida desde a primeira faixa do álbum “Área 51”. “Carta para Amy” emociona quem a ouve e compreende e com “Vai baby” ele consegue a junção perfeita de um love song maduro com um beat envolvente. O artista apresenta um projeto inteiro influenciado pelo jazz, com direito a solo de sax na faixa “Aniversário de Sobriedade”, provando que a parceria entre o cantor e produtor foi certeira.
“Trabalhar com Papatinho é muito bom. Ele é inteligente e gosta muito de música e do que faz. Ele é humilde e ao mesmo tempo impõem tranquilamente sua visão. Se diverte e se interessa por todos os campos do projeto. Gosta inclusive de comentar as letras comigo, o que é raro, prazeroso e gratificante pra mim.” Opina Black.
É perceptível a recuperação e superação às drogas, o tema é abordado constantemente desde o seu retorno oficial em 2015 e se faz fortemente presente em “Hello Hell”. Contudo, ao final da última faixa, “Capítulo Zero”, Gustavo deixa a impressão de finalização de um ciclo quando canta “Ei, Black, irmão, onde é que tu vai?/ Meu cumpade, eu vou embora Babylon, bye-bye!”, como se estivesse adentrando em uma nova fase.
Co-autor – Raphael Caldeira