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A tridimensionalidade de Luiz Lins em “Airsoft”

Um dos elementos mais paradoxais da existência é a elaboração de conceitos. Na tentativa de teorizar fenômenos da vida individual e em sociedade, criamos formas de medição e compreensão destes, mas que apesar de toda sua elaboração, ainda não transmitem a totalidade do significado de uma experiência real do dia a dia. Entretanto, a noção de que podemos sintetizar o viver em um conjunto de fórmulas e sentenças é importante para compreendermos nossa capacidade criativa e contemplativa.

A arte nasce através da experimentação desses conceitos em experiências de compartilhamento de sensações. Em si, é um paradoxo, em que algo abstrato cria um significado concreto, que vai de encontro a quem consome. Existem artistas que possuem a incrível capacidade de realizar esse feito de forma exemplar, e que acabam transcendendo a musica (que é o objeto tratado aqui), de maneira propriamente dita. Um dos maiores exemplos que temos no rap nacional (e na música brasileira) é o Luiz Lins. Capaz de criar estes eventos sinestésicos em forma de faixas como “A Música Mais Triste do Ano“, onde o instrumental casa perfeitamente com a letra melancólica e nasce algo muito maior do que um som sobre fim de relacionamento e sim um verdadeiro clássico recente. Ou mesmo na explosiva “Escama“, onde a gente se sente empinando uma moto numa periferia de recife.

No último dia 31 de janeiro Luiz nos presenteou com mais uma dádiva musical. Seu novo som, intitulado “Airsoft“, é uma grandiosa colaboração entre o artista pernambucano, Mazili, FBC e Don L. Porém, como todo bom trampo, ele também possui um time muito profissional por trás do que a gente consegue ver, composta por YagoThema” no lyric vídeo, LázaroCarpeJunior na identidade visual e Rostand Costa na direção criativa.

É difícil definir um direcionamento a respeito do som de Luiz, apesar de ser majoritariamente conhecido por suas músicas sobre amor, seu repertório vai muito além disso de uma maneira muito profunda. Isso não é pelo fato dele tratar dos mais diversos assuntos, mas sim por conseguir criar uma ambientação perfeita para retratar a realidade. O cantor praticamente faz uma representação tridimensional da vida, dando vida aos versos quase de forma concreta, num exemplo perfeito de arte viva.

Isso só é possível graças ao grande talento de LL, mas também por saber organizar suas vivências e posturas. Por exemplo, para este projeto Luiz convidou Don L, rapper cearense e fundador do grupo Costa a Costa, e FBC, que vem de uma grande bagagem da cena mineira como o duelo de Mc’s e o grupo DV Tribo. Apesar de cada um possuir suas particularidades, os três fazem parte da mesma coisa e fazem sua arte baseada em seus atravessamentos e questões.

A música fala sobre vitória, mas de um ponto de vista de quem vivenciou todos os lados de como o crime e o dinheiro agem na vida de um jovem de periferia e como o Hip-hop é algo que resgata e ajuda na formação da identidade e caráter de um artista. Tudo isso é a exaltação de sua própria vida e possibilidades, uma extensão da sua autoestima e poder.

Confira “Airsoft“: