Todo ano milhares de listas são importantes para definir o futuro musical do mundo: a top 100 da Billboard, o Grammy, o Ammy, o VMA, as mais ouvidas do Spotify, a lista musical do site da Red Bull e a lista das 10 músicas mais cantaroladas do mundo.
Mesmo com tantas listas dos sites mais badalados (com o perdão do termo brega), nenhum lugar consegue ser mais influente na hora de decidir se uma música vira um hit e se um hit vira um clássico do que o som de carro.
Nos anos 80 e 90, todo mundo era influenciado pelas músicas que tocavam nos carros e quando menos esperava, já tocava no seu cérebro. Virava chiclete porque você ouvia tantas vezes que você cantava sem perceber, sem nem saber o nome da música, já tinha decorado cada palavra e cada batida.
Fazendo um paralelo nada a ver, é como a frase “Feito pra você”. Quando você vê no comercial já sabe que é do Itaú, você pensa: “nossa, que genial, definiram um banco em uma frase”. Mas não. É uma bosta, serve pra qualquer coisa.
Ipanema. Feito pra você.
Chevette. Feito pra você.
Maria Mole. Feito pra você.
Dança de zumba da dona Velma. Feito pra você.
Essa arte de repetir até ser bom é dominada pelo marketing. Cada vez mais repetir no anúncio do Youtube a mesma musiquinha, o mesmo slogan, a mesma frase, é uma tática velha e atual, assim como foi com “Feito pra você”. E funciona, porque gruda.
Quantas mil vezes você não se pegou conversando com alguém e essa pessoa falou uma frase aleatória tipo “desempenho nota 10” e você já completou cantando cinco minutos de música dos Racionais?
Os Racionais souberam fazer isso, não só com a tática de marketing de conversar diretamente com os ambulantes, de montar uma estratégia de venda. Mas como de saber que isso faria com que a música estivesse nos CDs dentro dos carros.
O CD se tornou obsoleto, assim como radinho da imagem que ilustra esse texto, mas essa tática de repetir até ser ouvido não. E um carro que passa em milhares de portas ainda é a ferramenta mais guerrilha que qualquer músico pode ter para ter seu som eternizado em favelas e chegar em milhares de pessoas.
A única coisa que mudou com a evolução das mídias e do streaming é o fato dos carros terem aparelhos muito melhores tocando música e que a música da favela não é mais o RAP e sim o funk, fazendo desse carro de som, ou do som do carro, um evento.
PS: o que não é ruim também, não me levem a mal. A cultura está em diversos ritmos, eu com certeza absoluta não vou ser o criminalizador do funk, muito pelo contrário, escuta mais que tá pouco.
PS2 (que não é Playstation 2, mas é sobre algo tão antigo quanto): esse é um texto infinito, poderia citar desde rádio do GTA até diversas pessoas que começaram no RAP ouvindo alguma estação. Mas obrigatoriamente um texto que fala sobre som de carro e RAP deve citar o Espaço RAP, um programa de rádio que demonstra no nome sua importância para a cultura. Se você não conhece, pesquise sobre.