O Zudizilla lançou seu álbum tem um mês e uns 20 dias e já acumulou mais de 700 mil streamings. Isso por si só já é bem impressionante, mas se você soubesse que ele compôs todas as músicas em 2017? Junto com seus outros dois álbuns e que tudo de moderno que ele faz, como sua variação sonora, surfar por diferentes estilos musicais, foi pensado 6 anos atrás?
Sua variação musical passa principalmente por saber usar sua capacidade vocal, deixar seu timbre mais rouco quando necessário, para impor a emoção que precisa, encaixando entre os instrumentos e na melodia em muitos momentos. E em outros, fazer um flow mais rápido, como quem cospe verdades, tudo dependendo do tema em que fala, passando muito por sua realidade, por questões raciais. E em um terceiro momento, o outro do outro, uma voz mais cantada, num misto de love song com jazz.
Love song muito bem acompanhado pela Melly, que tem uma voz que arrepia até o solado do tênis, absurdo. Outro convidado foi o Galo de luta, quem encaixou muito bem no boombap e demonstrou que sua presença não é só de palco, ele tem uma áurea que arrasta multidões, é impressionante. Sobre a parceria com o Fúria, eu confesso que não conhecia tanto o artista, mas God Bless é uma música muito boa para ter tão poucas views, vai lá dar uma olhada, sabe aquela música que tem o clima perfeito pra quando você não tá tão animado assim? No show tem muito sobre insistir, ouvir o Zudi gritando repetidas vezes Deus abençoe nosso corre foi incrível. O homem sabe o que faz.
Ele conduziu um show de um jeito muito forte, usou toda a banda, gritou para o público fazer barulho (mesmo segundo ele, o SESC pedindo que não fizesse isso), puxou um Alright do Kendrick, criou atos no meio do show, onde cantava as músicas do disco antigo, convidava amigos, trocou de roupa para marcar a transição do álbum, é difícil até entender como funciona a divisão desses atos, a lógica que ele constrói o show, mas isso é o que faz ser bom, a curva de emoção se mantém sempre no topo.
A estrutura do SESC Pompéia ajuda muito pra isso, o público do Zudizilla também, pareciam fiéis, seguidores mesmo, não só no instagram, com certeza aquele não era o primeiro e nem o segundo show para boa parte da galera ali presente e como o palco é relativamente baixo e não tem nada entre o palco e o público, as pessoas deixavam você circular com certa tranquilidade, tanto que dá pra ver nas nossas fotos, a gente tava olhando no olho do artista.
Passou muita emoção, deixou muito suor pingando no seu boné que jogou pra platéia, ia de um lado pro outro do palco, cantando junto com uma banda que fez tudo no palco formada por Pé Beat na bateria, Wesley Camilo no teclado e Rob Ashtoffen no baixo/ guitarra.
Pra encerrar, tem uma coisa que só quem repara de verdade sente, o Zudizilla é MUITO técnico, perfeccionista mesmo, e ele fala isso. Primeiro quando ele disse que ficou dias sem dormir preparando aquele show, junto com sua banda e é perceptível. A base de qualquer rap é que a sílaba tônica encaixe na batida, falando palavras sem ser do Professor Pasquale, que a sílaba mais forte, que ele fala com mais força na palavra, encaixa certinho com a batida, e ele não erra, absurdo, a bateria bate no tempo, a guitarra, o teclado, tudo, parece que todos os instrumentos estão esperando ele rimar. E o segundo ponto que explica esse esmero nos detalhes, quando ele cita suas amizades, suas referências, Kamau, Emicida, DJ Nyak, produzido pelo 808 Luke, ele faz com muita qualidade e anda com os melhores, é só questão de tempo pra estourar cada vez mais e mais.
Mais registros que passam como foi especial esse show: