Fala, meu bonde! Como prometido, eu, LAHuss, to de volta nessa semana, e hoje to trazendo a review de um trabalho nacional, pra manter a tradição. E o escolhido foi a mixtape do grupo carioca Nectar, entitulada Seguimos na Sombra. Os caras são do bairro do Catete, de onde saíram muitos dos destaques dessa nova geração do rap RJ, como o Filipe Ret. A pegada deles, entretanto, é bem única, e mescla elementos do boom bap com a musicalidade e a originalidade das ruas cariocas.
Em se tratando de lírica, os caras mandaram muito bem de uma forma geral. Cada membro se destaca em uma habilidade diferente exigida ao mic: o CHS abusa de wordplays e punchlines fantásticos, enquanto o BK tem uma métrica e um flow que dão inveja, e também sabe brincar bem com as palavras. O Bril traz em suas letras o cotidiano das ruas, e pra isso manda muito bem no storytelling, embora seu flow soe estranho em algumas tracks, como na “Esquinas em Guerra“. Aí vai um trecho do CHS na Medusa, exemplificando o que foi dito sobre a inteligência do grupo com a caneta em punho.
A Lapa é meu coliseu: guerra de hebreus, cristãos e ateus
Os lucros da guerra não são só seus
Nem Deus nem Zeus na era de Hades
Tudo que resta vai pelos ares
No quesito produção, o beatmaker Jonas fez um ótimo trabalho. Já na track que abre o trabalho, a “Nectasalamaleico“, nota-se seu talento quando se escuta o funk carioca mesclado ao boom bap, de uma maneira bem interessante. Em outras como “Pedra“, ele demonstra sua habilidade ao escolher e usar os samples, criando a atmosfera sombria que permeia a tape. A faixa “Hino“, que encerra o trabalho, empolga e inova com seus inusitados riffs de guitarra no refrão.
Sobre os temas apresentados, dá pra destacar bem a mistura que eles conseguem fazer entre temas introspectivos e a realidade das ruas do Rio. A track “Rio da Ilusão” traz o cotidiano e os devaneios de quem vive no crime, e a Intervenção aborda o dilema das drogas pesadas e os esquemas que a permeiam. Uma faixa que me chamou bastante atenção foi a “Lugares“, onde os rappers versam sobre nostalgia e outros sentimentos que vivem de uma forma bem metafórica, que te faz pensar.
A mixtape conta apenas com dois feats, que acrescentam bastante: Pedro Qualy, do Haikaiss, participa na já citada “Medusa“, enquanto o Sain, filho do D2, dá as caras na “Osíris“. Em sua estreia, a galera do Nectar mandou bem, sendo que eu destaco como pontos negativos apenas os já citados momentos em que o flow não agrada, como também a necessidade de uma variação maior entre as tracks, tanto na parte da produção como nas letras. E a minha semana não acaba aqui: aguardem que ainda vem mais review por minha conta!