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Moderno mas com muita rima, ‘Roho Tahir’, novo disco de RT Mallone, é a alma pura do rap

Hoje saiu mais um ótimo trampo do artista promissor RT Mallone, e esse novo projeto se chama “Roho Tahir“, que significa alma para a palavra “Roho”do Suahíli, e “Tahir” signigica pura no egípcio. Ou seja, o álbum é simplesmente a sinceridade pura do artista, de peito aberto, sem máscaras. No disco “Roho Tahir” o artista mostra de onde veio. Único rapper a conseguir sair da bolha de Juiz de Fora, assinando com a Artefato, gravadora de São Paulo, o disco reflete e aborda sobre sua cidade, sobre suas conquistas, medos, amores e dificuldades.

O visual de “Roho Tahir” ficou por conta de uma dupla de peso. O fotógrafo João Victor Medeiros, de Juiz de Fora e o ilustrador Gabriel Hislla, de São Luiz. Ambos conseguiram transmitir de forma fidedigna a ideia que nem mesmo o próprio RT conseguiu explicar, o conceito de realeza da quebrada, onde a jaqueta é seu manto, mas mostrando que em sua história o rapper já era rei desde novo.

O disco teve instrumental de Everton Beatmaker, Muxima, Lucas Borges de JF, ABNR, Nauak e Heron Francelino de SP. A produção musical foi assinada por Negus, CEO da Artefato.

“Rohor Tahir” contou com participação de grandes nomes da cena do Rap, com o próprio Negus, uma das grandes referências da carreira do rapper, Isis Orbelli, jovem artista que tem uma voz aveludada e linda de se ouvir e Jé Santiago, que só afirma ainda mais que esse disco tem tudo pra ser um dos melhores do ano.

Mallone é um dos artistas do cenário nacional que mais deveria ser valorizado pelo público. Sua capacidade de apresentar múltiplas facetas ao expor seu íntimo nas letras é o que faz ser um dos melhores do jogo, ainda mais quando comparamos “Roho Tahir” com seu predecessor, “Vendedor de Sonhos“, que figurou nas listas como um dos melhores trampos de 2018. Mesmo longe de todo hype da cena, como um bom MC, RT sabe de seu valor e papel no hip-hop e assume essa responsabilidade nesse novo trabalho. Querendo ou não, seu nome já não toca apenas em Juiz de Fora e ele já foi notado pelos grandes do rap nacional, como Emicida e Tássia Reis.

É muito bonito ver essa ascensão gradativa de um MC tão talentoso, ainda mais quando ele sabe transparecer esse sentimento de progresso para as letras de uma forma tão bem feita. Enquanto em sua mixtape, lançada no ano passado, a preocupação era a demonstração da ansiedade de soltar-se de algumas amarras impostas que o impediam de dar sua vida à música, “Roho Tahir” já possui uma perspectiva diferente. RT não é mais o Vendedor de Sonhos que ficava preso atrás do balcão da padaria, e sim um jovem negro empoderado que está vivendo seu sonho.

Das várias comparações que possam ser feitas, esse novo álbum soa como “DAMN” do rapper norte americano, Kendrick Lamar, que é uma forte influência de RT. Trabalhos onde há um equilíbrio entre vários elementos, a saúde mental diante de uma sociedade racista, o empoderamento através da arte, a responsabilidade do MC como representante de uma cultura e seu compromisso com quem faz parte de sua caminhada. Parece muita coisa, mas assim como o K-Dot, Mallone é um grande rapper, então transformar sua vivência em rima é uma tarefa fácil, ou pelo menos eles fazem parecer.

Ser alguém” é participar de vários crescimentos e evoluções, enquanto encontra e passa por diversas experiências. RT sabe disso e soube passar todas essas mudanças para seu novo álbum, sem esquecer quem ele é e de onde veio. “Roho Tahir” é alma pura, é arte pura e é puro hip-hop.

O artista ainda nos concedeu uma entrevusta exclusiva onde ele conta um pouco sobre o processo de criação deste grande trampo. Confira abaixo:

RND – O que significa Roho Tahir e por que a escolha desse nome? O que isso significa para você (RT Mallone) ?

RT Mallone – Roho = Alma (Suaíli) / Tahir = Puro (Árabe),
“Alma Pura” e derivados disso foram adjetivos que recebi muito durante a infância e adolescência. O que mais tarde viria a ser o significado por trás do vulgo “RT”. Escolhemos esse nome pro álbum por ser um disco que trata de pertencimento, de orgulho, nada mais apropriado do que isso. Pra mim ser puro não se trata simplesmente de ser bom, mas de não ter interferências na fórmula.
Nesse álbum eu deixo exposto lados do personagem que geralmente escondemos por julgar negativo, como egocentrismo, materialismo e vaidade, medo de se apegar, medo da morte, ódio etc. Eu acho que todas essas características me compõem tanto quanto as qualidades, e esse álbum trata disso de uma forma pura, natural e brinca com o lance do “ponto cego“, logo, as pessoas vão ter mais dimensão dessas coisas a medida que forem ouvindo o álbum e tentando olhar pro personagem de outras maneiras.
Esse trabalho, foi a chance de me reinventar quanto artista sem deixar de ser eu mesmo, apenas me olhando por outro ângulo.

RND – Como foi o processo de criação do álbum?

RT Mallone – Gravamos duas faixas no final do ano passado, que seriam apenas singles, mas elas estavam tão amarradas que pensamos porque não explorar mais esse conceito. Em janeiro eu já tinha os outros versos, criando e lapidando alguns refrões na hora da gravação mesmo como o de “Sangue de Rei” e o de “Ponto Cego” que foi interpretado pelo Jé Santiago mais tarde.
O Negus comprou a ideia do album comigo desde o começo. E entrou de cabeça nisso junto com toda Artefato. Eu liguei o Everton Beatmaker pra colar comigo com ideias pra duas faixas, eu sabia que ele se encaixaria pela qualidade e pela proximidade que temos (ele é meu dj a 3 anos). O Muxima foi o mesmo rolê, temos uma sintonia enorme desde que trabalhamos juntos na faixa “Rotina” e no “Muxima EP” em 2017. Eu já havia gravado a “Sem Chance” no beat do Nauak e a “Okay” no beat do Abner quando parti pra ideia do album, ambos de SP e vinculados a Artefato. – O Lucas Borges é de JF e foi uma das pérolas desse trabalho.
A faixa “Cura” é a nossa primeira parceria, eu me apaixonei pela pesquisa de sample dele, era exatamente o que eu estava precisando pra me inspirar a fazer essa track. A outra pérola foi o Heron com o instrumental da “Contrato“, que gravei com a minha parceira Isis Orbelli, que pra mim era a única pessoa possível pra me completar nessa faixa (ela fez o verso dela em fucking 20 minutos eu amo essa mulher). O Heron recebeu as vozes pra criar a base em cima, já preso a um conceito estético pré definido, mesmo assim, nos presenteou com um dos melhores instrumentais que já tive em mãos.

A fotografia desse trabalho ficou toda por conta do meu irmão João Victor Medeiros, que é outra parceria minha de anos, válido lembrar que ele trabalho na arte da minha mixtape “Vendedor de Sonhos” e assinou a arte da minhas singles “Sol de Dentro” e “Nego” . Na sequência, o Negus foi gênio ao ligar o Hislla pra fazer o design gráfico, magicamente ele pegou todo o conceito criado por mim e pelo JV e lapidou até chegar na obra prima que chegou até vocês. Pra finalizar, o audiovisual foi resultado da parceria entre a Artefato e a 3 Reis Filmes, que colaram em Juiz de Fora, e deram vida as palavras desse álbum. Esse disco é uma junção de gente foda, nasceu pra ser clássico! Mas, a pergunta que não quer calar é: Quem é o Rei agora?

Confira “Roho Tahir”, de RT Mallone: