Nos últimos tempos, existem algumas pautas sociais que estão sendo levadas para debates, entre elas as lutas contra o machismo, gordofobia e homofobia. E por mais que esses assuntos estejam em alta”,nunca é exagero falar mais sobre, afinal, o espaço da mulher ainda é muito desigual e temos muito para percorrer.
Nascer como mulher em um universo onde o machismo é estruturado há séculos, já é um desafio, e sendo mulher, gorda e lésbica, esse desafio se multiplica ainda mais. O motivo é claro: mesmo com todas as lutas diárias, vivemos em uma sociedade com padrões de beleza, relacionamentos e personalidades já impostos, e fugir disso é considerado uma “afronta”, simplesmente pelo fato de querermos ser quem realmente somos.
Não é a toa que a depressão é considerada a doença do século; a falta de amor e empatia é um dos gatilhos para isso. Mulheres que não sentem-se representadas nos filmes, capas de revista e videoclipes, diariamente são inferiorizadas por não seguirem os padrões estéticos dessas digitais influencers que escancaram suas vidas “perfeitas” nas mídias sociais, fazendo com que as demais, tenham vergonha dos seus corpos, e afastando cada vez mais a auto aceitação.
Por isso precisamos falar sobre a importância da representatividade na mídia, ainda mais no cenário cultural, que é um grande influenciador social. O que isso pode impactar na vida de alguém? Você se reconhecer em um artista ou uma música diminui a sensação de solidão. A partir disso, você começa a perceber que existem outros e outras como você, e a vida começa a ter mais sentido.
Envolvidas com o Rap desde a adolescência, Issa Paz e Sara Donato compõem o grupo Rap Plus Size, protestando em suas rimas os padrões estéticos, o machismo, gordofobia e incentivando a auto estima da mulher.
“Nos encontramos através do rap, depois que Sara lançou um som e Issa foi parabenizá-la, a convidando pra cantar em um projeto que ela organizava na zona norte de SP. Depois disso nos tornamos amigas e passamos a compor juntas sempre que nos encontrávamos, dai, surgiu a ideia de criar um álbum colaborativo, que virou mais do que isso, e nos formamos como duo e hoje viajamos o Brasil”, contam.
Inspiradas por artistas como Dina Di, Racionais, Sabotage e em artistas atuais como Bivolt, Souto MC, Karen Santana e Djonga, as maiores influências para compor são suas vivências diárias. Cada uma com sua personalidade diferente, o processo de criação de Sara muitas vezes acontece sob improviso, “costumo dizer que funciono sobre pressão. Já terminei várias letras dentro do estúdio”, explica. Já a Issa, costuma escrever baseando-se em uma linha de raciocínio ou algum certo tema para ser abordado.
Quando questionadas sobre o cenário atual do Rap nacional, a dupla afirma que é visível a expansão do gênero, porém explicam a controvérsia que pode gerar, “isso faz com que o Rap acabe circulando por diversos espaços, ocupando e subvertendo meios que antes eram inacessíveis para nossa cultura, ao mesmo tempo isso abre portas para apropriação cultural do Hip-Hop e distorção dos valores aonde se criaram resistência e luta negra e periférica. Entretanto, promove mais debates e isso é saudável até certo ponto. Mas ainda temos um longo caminho pra percorrer e muitas portas para serem abertas.”
Issa e Sara, que já passaram e ainda passam por diversas situações de machismo fora e dentro do Rap, dizem tentarem não se abalarem, pois sabem que seus trabalhos podem ser usados como armas para combater tais situações, inspirando e encorajando outras mulheres a também lutarem por seus direitos, como na música “O Pano Rasga”, onde a agressão em mulheres, o machismo e o racismo são denunciados. Na letra, as MC’S que cantam “Não adianta passar pano, que o pano rasga. Protetor de pilantra, é pilantra da mesma laia”, explanam situações que deveriam ser denunciadas e são acobertadas pela própria população e até mesmo por autoridades.
Na participação da polêmica cypher “Machocídio”, com Luana Hansen e Souto MC, o Rap Plus Size também ressalta a misoginia dentro do cenário do hip-hop, onde respondem em suas rimas, alguns ataques citados em músicas de outros MC’S.
Nos versos da faixa “Toda Grandona”, lançada em junho pelo canal da youtuber Alexandrismos, a dulpa mistura o funk e o Rap, onde promovem a auto-aceitação da mulher gorda. “Rebola, joga, empina. Respeita o corpo das mina. Revolução começa no ato de se aceitar Ser gorda não é ruim, e cês tem que respeitar”.
Para Issa e Sara, é muito emocionante a idéia de serem consideradas referências para suas fãs, que se identificam em cada composição. “Nos sentimos mais fortes e muito felizes por saber que nossa música salva, resgata e transforma vidas, nosso objetivo sempre foi esse”, concluem.
RapPlus Size no Youtube.