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Eles estão fazendo história na Zona Norte de SP, conheça o Rancho MontGomer

Eai pessoal, como vocês estão? Todo mundo bem?

No último dia 27 completei 25 anos e eu não poderia estar mais feliz de chegar no 1º quarto do século com esse projeto, podendo conhecer mais e mais produtores e artistas incríveis, com muita bagagem nas costas e que todos precisam conhecer. É muito gratificante ver que a 5 anos atrás, lá no ZonaSuburbarna eu nem imaginava ter uma coluna minha aqui no RND, e me ver hoje, 5 anos após, aqui, me move a continuar escrevendo, produzindo e amando (mesmo que muitas vezes eu tenha um certo ranço), o movimento Hip Hop.

O rap me fez conhecer muita gente, me mostrou coisas que eu jamais imaginei que fossem possíveis, me fez chegar a lugares que antes eu só via de longe, aqui na Internet ou na TV. Me sinto realizada, motivada e com mais vontade ainda de ir cada dia mais além, isso aqui me move, e eu só agradeço a todos os envolvidos.

Voltando a pauta dessa matéria (sinão eu me perco e saiu escrevendo uma auto biografia rs) vamos falar desses meninos que estão estremecendo a Zona Norte e impulsionando o cenário musical do Tucuruvi. 4 meninos e 1 paixão em comum, a música. Nessa matéria falarei de 2 deles, e prometo que assim possível entrevistarei os outros 2 para deixar esse conteúdo ainda mais completo.

Um tem seus 26 anos, é um cara meio enigmático, cheio de ideias, vontades e verdades. Ele conheceu o rap ainda muito cedo, por conta de sua mãe, que mostrou a ele as músicas do Racionais Mc’s. Já na transição da adolescência para a fase adulta conheceu mais a fundo o movimento Hip Hop, se aventurou a cantar, integrou o grupo Mente Avulsa, se tornou Mc e produtor independente e hoje também é referência para muitos jovens amantes do Hip Hop.

O outro, já está na casa dos 30, mas nem parece, ele tem um jeitão próprio, é pai, já participou de projetos do Rap Box e é bem conhecido na cena do rap nacional paulista. Na escola, na fase da adolescência, começou a ter contato com instrumentos musicais e também com o beatbox, o que aguçou sua audição e o transformou no monstro das rimas e batidas que é hoje. Além disso, ele também integra o Coletivo Morlockz, e se aventura como artista e produtor independente.

Ambos sempre foram amantes do rock, mas o rap foi surgindo em suas vidas de maneira espontânea, por conta de amigos, de referências e influências que os fizeram chegar até aqui. O skate também fez parte da vida dos meninos, mas a música que sempre se fez presente, precisava transbordar e transbordou.

Antes um só escrevia e o outro só fazia a parte instrumental, hoje, eles fazem de tudo um pouco, juntos. Eles aperfeiçoaram seus conhecimentos, e estão aqui, reescrevendo suas próprias histórias, se tornando marcas registradas dentro do cenário do rap nacional e dando vida a um projeto diferente de tudo que eles podiam imaginar criar um dia, um espaço que abriga vozes da Zona Norte de São Paulo (e outras regiões), e que já é marca registrada aqui no Tucuruvi.

O que um aprendia era passado aos outros, e o que até então era algo mais individual, virou coletivo, eles uniram forças, vontades, anseios e desejos para dar vida a um sonho, o sonho de viver do que se gosta, o sonho de se viver da música, do rap, do que não é fácil, mas é muito possível.
Eles cuidam da gravação, mixagem, masterização, criação de beats, distribuição dos trabalhos nas plataformas digitais, fazem a divulgação, pensam nos clipes, executam os clipes, e ainda cuidam dos eventos e festas (ufaaaa, vai achando que vida de produtor é fácil rs).

Eles são produtores, Mc’s, empreendedores, 2 homens negros, que já viveram e ainda vivem reflexos de uma sociedade racista, que ainda privilegia muitos e esquece de outros, mas eles não seriam só mais um número nas estatísticas, eles fariam história.

Para quem não sabia o que esperar de toda essa aventura, cantando nas festas dos amigos e sempre ouvindo palavras de admiração e incentivo, eles chegaram até aqui e ainda tem muita coisa pela frente.

Sem mais delongas, apresento a vocês Tadeu Msour e Eloy Polêmico, 2 dos criadores do estúdio Rancho MontGomer:

Fala Memo: O que é o selo Rancho MontGomer? Por que ele foi criado?

O Rancho Mont Gomer é um novo conceito em produção musical e audiovisual, é a essência do Hip-Hop anos 90 em plena São Paulo 2018, localizado na Zona Norte mais especificamente no Tucuruvi. Alguns artistas, beatmakers e produtores se reuniram para dar cara a esse novo projeto, o selo representa uma unidade, uma união através da música, e foi criado com o intuito de tornar o cenário do rap mais competitivo ainda.

Fala Memo: Quem faz parte do selo? Quais trabalhos vocês executam?

Os artistas pilares do selo são Tadeu Msour, Eloy Polêmico, Sergio Estranho, Dj Tadela e Guilherme Manfredo que cuida das burocracias administrativas, mas também trabalhamos com outros artistas como Quarta Dimensão, Emedeze6, Discoholocos, 1LUM3 e Vivi Âmbar.

Em relação aos trabalhos, executamos quase tudo dentro da música, desde a parte de composição e produção como a parte de registro e direitos autorais, vídeo clipe, fotografia e direção de carreira musical.

Fala Memo: Qual o maior diferencial do Rancho se comparado a outros estúdios ?

Acreditamos que o maior diferencial além da localização (próximo ao Metrô Tucuruvi), é também o trabalho em equipe dos produtores do estúdio. Todas as músicas tem detalhes e gostos de mais de uma pessoa o que deixa o trabalho ainda mais único e especial, fora isso, todos os integrantes fazem parte da cena do Rap atual o que acaba facilitando ainda mais.

Fala Memo: O que podemos esperar ainda para 2018?

Vocês podem esperar muita coisa ainda em 2018, a segunda mixtape do Rancho MontGomer com várias participações como Kamau, Matéria Prima, Beirando Teto (Davizera), Atentado Napalm, entre outros. O CD do Tadeu Msour “Arcano Pessoal”, duas EP’s do Sergio Estranho uma solo e outra com um mc de Portugal, duas EP’s do Eloy Polêmico, fora as mixtapes de todos os outros artistas do selo.

Fala Memo: Como vocês entendem e sentem a produção em suas vidas? O que mudou desde o início até hoje?

Tadeu Msour – É o ponto principal do trabalho musical, pois ele pode destruir um som bom como fazer ele ser único e diferente, e tipo a produção musical faz você desenvolver sua musicalidade e ser uma pessoa melhor, me ajudou a entender o que exatamente eu quero fazer dentro da música e assim reproduzir melhor o que está na minha mente e ser melhor como pessoa.

Eloy Polêmico – Eu sinto que produzir sempre foi uma necessidade desde pivete, e hoje eu consigo direcionar essa vontade. Consigo hoje por o que tem na minha mente em ondas sonoras pra que todos consigam ouvir, isso é incrível. 

Fala Memo: Quais suas referências e inspirações?

Tadeu Msour – Tim Maia, Vinícius de Morais, Dimelo, Mos Def, Nujabs, Freed Joaquim, esses são os principais mas a lista é grande kkkk

Eloy Polêmico – Eu me inspiro muito em artistas que exprimem sua personalidade com autenticidade, seja num modelo comercial de produção ou seja ao próprio modo, eu gosto de versatilidade, e eu entendo que versatilidade é algo muito difícil de se atingir. Vemos hoje no cenário inúmeros talentos, mas que não são versáteis, claro, não quero hierarquizar meus valores aqui, mas de todo modo eu me inspiro muito em caras como Talib Kweli, Kanye West, Mano Brown, Pharrell, Jay Z, Pusha T, mulheres como Missy Elliot, Yael Naim, Beyonce, Madonna. E também muitos fora da música como Will Smith, Lázaro Ramos, Camila Pitanga, Paulo Leminski, minha mãe Dona Dagmar, e meus manos do Rancho me inspiram bastante, estes não só me inspiram como não me deixaram desanimar inúmeras vezes.

Fala Memo: Além da produção, quais outros trabalhos vocês realizam?

Tadeu Msour – Como meu amigo Sérgio Estranho fala “sou beatmaker que rima encima dos próprios beats” kkk … mas vamos lá, trabalho com produção musical, tento dar sempre aquele detalhe que a música pede, fazer a letra do compositor casar mais com o clima do instrumental e alguns efeitos doidos que vou testando, deixando a emoção que a música passa ainda mais nítida. Além disso, sou compositor também, todas as letras que canto eu mesmo componho, gosto muito de escrever também, colocar pensamentos pra fora é a coisa mais saudável que tem. Além disso também sou beatmaker, beats são o meu amor, é a parte que eu mais gosto de fazer de todo o trabalho, ele é o início de toda a minha produção beat, letra, mix e master, sem os beats, não sei o que seria o Tadeu Msour kkk

Eloy Polêmico – Hoje eu praticamente não saio do estúdio, então no máximo eu pago de blogueirinho no Instagram hahahaha

Fala Memo: Quais seus objetivos a curto, médio e longo prazo?

Tadeu Msour –  A curto prazo é tirar meu estúdio de casa e fazer com que ele tenha um local físico próprio, a médio prazo ter o meu estúdio bem consolidado e com bom engajamento em várias partes da área da música e com isso a longo prazo montar as minhas oficinas gratuitas de português/matemática, artes e música de forma geral.

Eloy Polêmico – Curto prazo é lançar meu EP novo, médio é não me entristecer em pensar que eu tô gastando muito do meu dinheiro com comida HAHAHHAHAH e a longo prazo, eu quero uma “house de boy”. 

Fala Memo: Afinal quem são vocês?

Tadeu Msour – o Tadeu Msour é um reptiliano rs, sonhador, gosta de trabalhar em grupo, é muito teimoso mas sabe perdoar e pedir desculpas também.

Eloy Polêmico – o Eloy é um cara extremamente paciente e competitivo, uma mistura de James Harden com o Common hahahah.

É meus amigos, a Zona Norte de São Paulo está fazendo muito barulho, e os meninos do Rancho MontGomer são a prova de que estamos vivos, estamos trabalhando e estamos produzindo.

Lembro que conheci os meninos a anos atrás, o Tadeu na época do Mente Avulsa, e o Eloy por conta de amigos da cena do rap que falaram sobre ele, me mostraram alguns trampos e disseram que ele também era da Zona Norte assim como eu. É louco hoje poder entrevistar meus amigos, entrevistar artistas que estão marcando presença na cena atual e que me representam, que representam o lugar onde eu moro, representam projetos no qual diretamente ou indiretamente, tanto eu, quanto outros amigos próximos também fazemos parte. É uma rede, que vem crescendo cada vez mais, expandindo cada vez mais, e descobrindo mais e mais artistas que só esperam por uma oportunidade, uma palavra de incentivo, um “Vem cá, vamos fazer”.

Encontrar outras pessoas assim como eu, que estão nesse corre, que entendem as dificuldades e os perrengues desse meio, mas que mesmo assim dão a cara tapa doa a quem doer e fazem as coisas acontecerem, é o que me faz ter mais certeza de que estamos todos trilhando o caminho certo, estamos todos envoltos dos nossos, sendo mais do que rostinhos bonitos, sendo mais que estatísticas, somos produtores, estamos produzindo, estamos somando na economia criativa do país, estamos girando receita, descobrindo novos talentos, construindo ainda mais histórias para deixar de legado a cultura Hip Hop.

No dia da gravação dessa entrevista, eu tive o prazer de conhecer o Rancho, sua estrutura, de ver os meninos produzindo, gravando, e isso foi gostoso demais. Sai de lá com a cabeça a mil, ansiosa para escrever essa matéria, para falar sobre esses meninos, para incluir a Zona Norte mais uma vez como referência no quesito Rap Nacional e Produção Independente.

Fora tudo isso, entrevistar dois artistas e produtores negros mostra que mesmo com tanto preconceito que ainda existe SIM dentro do Rap, os meninos estão se destacando, estão provando que independente de qualquer coisa eles são e muito capazes, são talentosos, tem visão, são auto didatas, e estão ai para provar para quem ainda tiver dúvida, que eles não estão para brincadeira, e que a cor da pele vai muito além do que vocês podem ver.

Estar com os meninos me ensinou bastante como produtora, sentir o amor e a paixão que cada um deles sente em fazer o que faz, em ser quem são foi o ápice dessa entrevista. Entrevistar pessoas de verdade, pessoas do meu convívio, pessoas que eu admiro, que eu acompanho, que são meus amigos, é o maior presente que eu poderia receber e dividir com vocês.

Valorizem a produção independente, valorizem o trabalho de profissionais como o Tadeu Msour e o Eloy Polêmico, se permitam conhecê-los, se permitam sair da zona de conforto e experimentar coisas novas, vale a pena, muito a pena. Agradeço aos meninos pela confiança, por terem aberto as portas do Rancho, compartilharem um pouco de suas histórias, de sua vida, da sua arte comigo, foi uma puta experiência, a primeira entrevista de muitas, porque esses meninos estão só começando.

Logo mais tem entrevista com Tchelo (Quebrada Queer), Discoholocos, Diego Kairo, Lucas Grone (Quarta Dimensão e Batalha do Tucuruvi), Cibele Lima e Camila Munõz.

Aguardem 😉

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