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Conheça o lado trash do grupo Poesia163

Responsável por um show de bater cabeça desde a intro até o salve final, Poesia163 é formado pelos MC’s: Diaká e Thex e pelo beatmaker Bêra, todos residentes da Zona Sul de Curitiba.

Nesse ano o grupo já lançou um EP intitulado “Tra$hGang” e agora estão de volta com o clipe do single “Level Up“.

Troquei uma ideia com eles e você pode conferir logo abaixo, após assistir o clipe:

Ainda nesse ano vocês lançaram o EP Trashgang e logo após o lançamento desse EP tivemos a saída de um membro. O que mudou no Poesia163 desde o EP Trashgang até o LevelUp e com essa nova formação?

THEX: Desde o início do grupo tivemos esse lance de ser “sujo” nas linhas e nos beats tabém, “CARMACITY” que é nosso primeiro som reflete muito essa ideia. E assim seguimos, porém com essa “nova formação” conseguimos canalizar mais ainda toda essa ideia de “trash”, que mostra realmente o que nós somos e o porque estamos aqui

DIAKÁ: Desde a saída do TK até Level Up, tem uma palavra que define esse período, “introsamento”, durante esse tempo nós procuramos acima de qualquer coisa nos ouvir, conversar, dialogar sobre todos os ambitos sociais, psicológicos e estruturais da vida, com isso a nossa música tem refletido mais que tudo a nossa união, nossas brisas, nossas crises e tudo que vivemos, e também as novas visões de tudo que rodeia e adentra o rap.

Principalmente no refrão da música percebemos uma influência dessa galera da nova geração do trap como Lil Pump e afins, falem um pouco sobre as referências de vocês na construção da LevelUp.

THEX: Na construção de Level Up senti as referências na pele, ouvindo muito Black Alien, Sabotage, Marilyn Manson, R.A.T.M, E FUNK, muito Funk, PP da VS, Menor do chapa, entre outros… O próprio Diaka é uma influência muito grande pra mim. Não tenho preconceitos musicais e acredito que musicos devem ser assim, absorver tudo que há de bom em cada estilo, isso sempre me ajudou muito na composição de minhas letras.

DIAKÁ: Pela minha parte, a minha letra reflete muito do que estava vivendo, praticamente em tempo real, senti que era necessário falar aquilo, naquele momento, mas claramente fui muito inspirado pelo movimento cloud da gringa, porque a musicalidade é absurdamente incrível, com extremas variaçoes no flow, no tom e etc. $uicideboy$ sonoramente falando é o que mais me chama atenção.

A música tem um lance sobre originalidade, autenticidade, identidade própria. O lado sujo ou “trash” seria o resumo de tudo isso? O que seria o “lado trash”?

DIAKÁ: Lado trash é o resumo de tudo isso, tudo que vemos, ouvimos e sentimos reflete no que chamamos trash, o lado trash é o lugar onde só quem viveu pode saber qual é, é o lado onde tem propina, onde tem biqueira em distribuidora de bebida, lado trash é o lado onde tem lama pra pobre numa esquina e asfalto pra condominio na rua do lado, é o lado onde falta saneamento, estrutura na escola, mas nunca faltou amor em meio a guerra, é resumidamente toda a sujeira que eles tentam camuflar.

O audiovisual tem todo um enrendo por trás, parece que existe uma timeline de acontecimentos nas entrelinhas, contem um pouco sobre a ideia, conceito e processo de produção do clipe.

DIAKÁ: O roteiro foi montado embasado em todas vivências que tivemos, por anos corremos na chuva, sem ninguém pra contar que não seja nós mesmos, e mesmo assim fomos atrás e tentamos bater na porta do rap de maneira humilde, porém toda essa panela entre os eixos, o público e etc não quiseram “nos ouvir”, por isso, surgiu a necessidade de meter o pé na porta e mostrar que estamos vivos.

O “163” do nome do grupo tem relação com o artigo 163 do Código Penal que é sobre destruir, inutilizar ou deteriorizar coisa alheia que no resumo seria o vandalismo. Qual é a ideia por trás dessa escolha de nome? Qual é a causa da luta de vocês?

THEX: Esse nome quer dizer mais sobre o que viemos. Aqui no lado sul de curitiba, como em tantos outros lugares, quem faz RAP é marginalizado, criminalizado, oprimido e desacreditado. Viemos pra mudar todo esse contexto e quebrar esses paradigmas que a sociedade inventa sobre tudo que ela discrimina. Falamos sobre sentimentos, e nem sempre esses sentimentos são o que as pessoas gostam de ouvir, e sim oque elas precisam ouvir. Não que sejamos os donos da verdade por aqui, porém tem muita mentira rolando, e viemos pra desmascarar tudo, incomodar ouvidos, provocar reflexões contrárias a que todo mundo segue. Destruir e vandalizar com as nossas ideias todo esse cenário forjado, nem tudo é tão bonito assim, e nem tudo é tão triste! Nossa luta é por coisas reais, contra tudo que é omitido, contra tudo que é fake, contra as opressões, físicas e psicológicas que cada um de nós carregamos. Apenas sejam o que vocês são, o pecado é uma maneira de nos controlar. É por isso que viemos.

DIAKÁ: Poesia Vandal define tudo isso, é a ideia de destruir tudo que já foi feito, todos os princípios religiosos fundamentalistas que são extremamente de interesses da elite, toda a crosta de ideologias falsas, de modas inúteis como gastar 400 reais numa peita da Supreme mas não dar uma flor pra mãe no dia das mães, é o desejo de tocar na ferida e mudar algo, da maneira mais suja. Não viemos pra seguir regras, nem criar, viemos pra implantar duvidas, por isso o 163.

O grupo já ganhou certa notoriedade na cena local, como vocês se sentem sabendo que uma galera se identifica com o trabalho de vocês e isso serve como inspiração pra muitas pessoas? Qual é o peso dessa responsabilide?

DIAKÁ: Eu acho que é a responsabilidade mais foda que eu já tive, literalmente. Penso muito antes de soltar qualquer linha, penso o que posso provocar com tudo isso, então mantemos a postura dentro e fora de campo, porque sabemos que somos espelho pra muitos que estão passando por muitas coisas que passamos também, pra todos que acompanham a gente, a gente fica profundamente grato de estar podendo proporcionar nem que seja uma sensação boa em quem nos ouve, a gente gosta de dizer que transmitimos energias de liberdade nos nossos shows, porque o bate cabeça quase sempre deixa alguém com o peito mais leve, então basicamente é isso. Estamos pouco a pouco realizando esse sonho.

Quais são os próximos passos do grupo? Vem EP novo, colaborações, clipes?

DIAKÁ: Vamos lançar algumas faixas em collab com alguns comparsas de outros estados, algumas singles e vamos dropar uma mixtape em 2018 que ja estamos projetando. Então vamos estar no ouvido de voces de segunda a sexta, porque o ritmo de trabalho tá a milhão.