Delatorvi e LR Beats disponibilizam seu disco colaborativo de trap “A Vida de Emmett Till” numa data muito importante para quem conhece a história do garoto de Chicago. Lançado na noite de 28 de Agosto, o rapper e o beatmaker tentam fazer com que você abra livros de história com o lançamento do EP “A Vida de Emmett TIll“, de uma forma especial. Nesse dia, completam-se 62 anos da morte do garoto que ficou conhecido pela injustiça racial que levou ao seu assassinato bárbaro e consequentemente fez com que sua história se tornasse símbolo de luta pelo direito dos negros nos EUA, Rosa Parks, por exemplo se influenciou no que aconteceu com Emmett para negar-se a ceder o lugar para um branco, em tempos de caos e segregação racial nos Estados Unidos.
Como forma de renascimento e em busca de um impulsionamento a construção de identidade racial via o não silenciamento da luta pela equidade, é dessa forma que essa dupla tenta te tocar. De que forma? Citando várias referências históricas dentro de um ritmo dançante e ao mesmo tempo, forte politicamente falando. As participações de Well, Blackout, Vic, Aori, Naej, Kyle Santo$, Raffa Moreira, Will Diamond e Kessidy Kess/DaLua confirmam isso. A grande pergunta é: A tal “liberdade”, de fato “existe para os negros num mundo onde os fatos demonstram que o silenciamento às manifestações ainda é algo muito questionado? Segundo os artistas, o Brasil ainda vive um tabu ao falar sobre racismo/boicote/estética e esse disco de trap foi a forma em que eles encontraram de acrescentar música e empoderamento racial dentro de um só projeto. O disco está disponível no canal do youtube do rapper e dentro de uma semana estará em outras plataformas como Spotify e Deezer, além de ser liberado para download gratuito no soundcloud.
Faixa a faixa
Faixa 1: “Reparação Histórica” (Part. Well)
Com um prelúdio passando pela Fátima Bernardes falando sobre o lendário dia da posse do mandato de Barack Obama, primeiro negro ser presidente dos EUA e também pelo sample de “Blues Para Emmett Till” de Vinícius de Morais. É assim que o disco se inicia na faixa “Reparação Histórica.”, com um refrão definidor e versos que desabafam a vontade de liberdade de fato, real.
https://www.youtube.com/watch?v=spnrFwV2BMM
Faixa 2: “Axé” (Part. Blackout & Vic)
Linhas agressivas, diretas e definidoras: Os negros pedem espaço e mais respeito na cena musical que foi criada pelos mesmos. A banalização do mesmo tem tornado-se frequente agora que o rap atingiu acessos mais elitizados e não sejamos hipócritas: precisamos falar sobre isso. Black Daddy deixou bem claro o que pensa sobre nas linhas e a estreante VIC veio com um refrão de arrepiar. Representatividade preta.
https://www.youtube.com/watch?v=64kOjFBpdu8
Faixa 3: “Melô Anti KKK” [Flores e Anágas] (Part. Aori)
Delatorvi convocou o lendário Aori, um dos pioneiros das batalhas de rap para fazer essa faixa, que soa bem sarcástica com relação ao dito pelos mesmos “uso de cotas para negros” em algumas bancas que vem surgindo dentro do rap. O lado lucrativo é claro, vem mais rápido para quem investe mais e seguindo a lógica brasileira, sabemos quem se beneficia com isso. Se não houve diálogo sobre, não haverá questionamento e se não houver questionamento, cada vez menos os negros terão espaço no ritmo que os próprios fizeram com que se tornasse tão grande dentro da indústria. O sample de funk deixa o bagulho abrasileirado. Não digam “KKK” pra qualquer elitização racista disfarçada de “igualitária” dentro do movimento.
https://www.youtube.com/watch?v=gffP2CcC2XA
Faixa 4: “Chicago Kids” (Part. Naej & Kyle Santo$)
Como um pedido de paz as crianças, uma homenagem direta a Emmett e aos garotos que vive em Chicago e ao mesmo tempo, citando o Brasil como “10 cidades de Chicago” com relação ao genocídio negro, o trio Delatorvi, Naej & Kyle Santo$ fazem um desabafo sobre a mania da sociedade que vive ao relento do padrão não conseguir absorver tão bem o perdão aos homens negros como é com relação as pessoas brancas. Um reflexo do que aconteceu com a absolvição dos assassinos de Emmett e o descrédito a palavra de Mamie Till, que sempre disse não acreditar no que acusaram o seu filho.
https://www.youtube.com/watch?v=mtNdNaZXCNg
Faixa 5: “Sensual Skrr” (Part. Dalua)
Uma relaxada nas ideias. Sempre bom falar sobre o que sente. E um jovem negro se apaixona, quer vivenciar coisas prazerosas, como qualquer pessoa. Numa pausa para a luxúria, Delatorvi convocou Dalua e o mesmo acabou trazendo uma sessão de nostalgia com um timbre único traznedo a referência de Snoop Dogg ao som, nem precisa de dizer que ele rimou com os dedos né? Skrr.
https://www.youtube.com/watch?v=ZqOZZ8dMH64
Faixa 6: “Thiaguinho & Rodriguinho” (Part. Raffa Moreira)
Sempre cômico, Raffa Moreira chegou com uma melodia diferenciada relatando uma fronteira entre sensação e crescimento. Com um nome em referência a duas lendas da música negra no pagode, Thiaguinho & Rodriguinho tem um refrão que joga como prioridade o orgulho da representatividade e protagonismo. Aprecie o primeiro single e última faixa do disco.
https://www.youtube.com/watch?v=WU5vL-xCGiQ
Ficha Técnica
Delatorvi x LR Beats – A Vida de Emmett TIll
Produção Executiva: Pxsse e Ante Hype
Lyric Vídeos: Bob Bastos
Instrumentais: LR Beats (Com excessão de “Sensual Skrr”, do Will Diamond)
Mixagem e Masterização: Rodrigo Locaut
Gravações e Pré-Mix: Affonso Morais (Estúdio Gunter)
Músicas gravadas entre março, abril e maio de 2017