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Por trás da plataforma: O Soundcloud no Brasil e o mercado independente

Neste artigo vamos pensar juntos o motivo da plataforma não ter dado certo no Brasil, como deu internacionalmente ou nos países desenvolvidos.

Antes do caos a maresia, assim penso sobre a história do Soundcloud – Plataforma digital Alemã fundada em 2007 por Alexander Ljung e Eric Wahlforss, basicamente construído para profissionais da música que estivessem construindo suas produções, apresentassem seus projetos, buscando ou não a formação de colaborações, pesquisando novas músicas, artistas entre outras coisas que o site trouxe como característica principal, logo, como um “quadro”, ou seja, o espaço para a publicação de música chamando ouvintes e consequentemente público, assim, aumentando o campo de visão e sendo muito bem introduzido na indústria musical – pera, será?

Neste artigo, vamos tentar entender como o Soundcloud se tornou um grande revelador de novos artistas dentro do mercado da música (focando no Hip-Hop/Rap) e também o motivo da plataforma não ter dado certo no Brasil, como deu internacionalmente ou nos países desenvolvidos.

 “Resolvi montar uma playlist com alguns sons nacionais e já tinha ouvido falar do Numa Margem Distante do RET e Mão lee, até que caçando achei seu perfil no Sound e foi um impacto…”

Era 2011, ouvindo Goblin, estava procurando música nova no Soundcloud e resolvi montar uma playlist com alguns sons nacionais e já tinha ouvido falar do Numa Margem Distante, do RET, até que caçando achei seu perfil no Sound e foi um impacto, estava acostumado a quase não ver plays dos artistas nacionais dentro do site e lá ele tinha o máximo de favorites que um artista poderia ter, todos os comentários e o máximo de downloads (100 permitidos na época) já feitos. Ok! Aquilo ficou na minha mente, catei umas músicas e aquilo ficou marcado na minha cabeça, Neurótico de Guerra ainda não tinha sido disponibilizada no Youtube (ainda).

Agora o texto entra em um ponto importante, que é a busca por “Soundcloud rappers”. LP me apresentou esse termo e tudo fez mais sentido quando coloquei isso dentro da pesquisa, pois assim que funciona a plataforma – você pesquisa, acha um artista novo, compartilha – apresenta, amanhã busca algo novo, nem que seja um single, um mísero single, e se renova querendo mais música, e, naquela  fase da adolescência (você pesquisador musical vai se identificar) quer saber o máximo de música possível e pra colar com os amigos que entendem de música ter material novo para apresentar, ou até ciúme das músicas, sei lá o que é isso, mas a questão principal dentro desta linha de raciocínio vai além da pessoa que só faz o download da música, e a partir daqui aqui aprofundamos a história.

 O Soundcloud e o mercado americano

O mercado dos Estados Unidos é amplo e dinâmico, o suficiente para um artista que fez milhões ser colocado na geladeira em duas semanas (ou menos), tudo simples, existe uma “fórmula de mercado” onde as coisas são implantadas e o jogo é distribuído, joga quem quiser, e que vença o melhor, mas, dentro do Soundcloud isso não tem tanta importância, até porque é você quem decide a música que vai compartilhar e o artista novo que vai surgir ou o “hype” que ele irá entrar, parece mais difícil “estourar” dentro desta plataforma né?

Em 2013 Chance the rapper (peça importante neste artigo) deu início a série de mixtapes até chegar a alguns grammys com Coloring Book  2016 – SaveMoney, provando a força de um artista independente, aqui, o mercado se adéqua a você e o jogo vira algo fora da bolha que a indústria cultural prende a maioria dos artistas com as grandes gravadoras e todas aquelas merdas.

“Eis a primeira problemática, mas de rápida solução, o mercado Americano consome música e informação rápida e constante o que tem profundo reflexo em como o americano e o europeu vê a música…

Seguindo esta linha, penso: por que os artistas conseguem deslanchar em uma plataforma dessa? Eis a primeira problemática, mas de rápida solução, o mercado Americano consome música e informação rápida e constante o que tem profundo reflexo em como o americano e o europeu vê a música, busca, discute em fórum, chora quando um artista ou banda antiga termina seus projetos mas tá com o mouse clicando no disco novo de um outro músico, e mais a frente surge o mercado independente, a partir de uma galera que não tá nem aí pro que o mercado está oferecendo e fica satisfeita em saber todas as músicas de um artista que ninguém conhece, mas, esse artista é bom e quando mais pessoas procuram por este, ele deslancha e decide se continua no mercado independente ou cai pra dentro de um contrato, mas aí é outro papo, aqui falamos sobre como a música dentro da plataforma funciona, percebeu? Um DJ vai ficar a noite inteira procurando remixes e tracks novas dentro do Soundcloud e colocando a suas lá, valorizando a identidade na qual o site foi criado.

E o Brasil? Ah, isso é uma história mais interna, uma visão pessoal sobre um mercado nacional que é gigante mas ao mesmo tempo plural, funciona, não funciona, aumenta e diminui para um ou outro e quem consome música mas não pesquisa fica meio vendido sobre o caminho que deve seguir.

A pesquisa musical de cada um funciona como?

Pescando informações com amigos de projetos musicais, Djs e ouvintes de música em geral pude perceber que cada um tem uma visão particular sobre como consumir música e a partir daí passei a olhar pro lado, um primo, uma tia, irmã e outros amigos que não tem nada haver com música e é notável o quanto a rádio influencia a mente dessas pessoas – não tô falando de modo negativo, cresci ouvindo MPB FM e Rádio Cidade e de alguma forma as pessoas esperam, elas querem saber o que tá rolando no rádio pra saber o que é a “música do momento” isso lá fora existe, é um fato, mas o ponto pessoal do texto é que aqui no Brasil o sentido da pesquisa musical ainda é visto em minoria. Algumas pessoas esperam sair algo e algum amigo apresentar dizendo que aquilo é bom e isso acaba refletindo em vários fatores, sociais por exemplo, onde a pessoa não tem internet e o campo de pesquisa fica limitado, mas em uma escala maior  o mercado dita e o consumista recebe e espera algum grupo de sertanejo se apresentar no Faustão (nada contra).

 “Ah, você não conhecia ele quando eu gostava” “o artista tal de antigamente era muito melhor…”

A indústria é um sistema e dentro deste sistema alguns poucos artistas conseguem fazer o que querem e ao mesmo tempo serem vistos por todos, e, quem espera música raramente vai ouvir a fundo aquele artista que emplacou um hit semana passada e sempre vai ficar aquele papo “ah, você não conhecia ele quando eu gostava” “o artista tal de antigamente era muito melhor” Bleeeeh, bobagem, a pesquisa cada um decide como fazer e como introduzir novas buscas, e desse modo, os anos passaram e as notícias sobre a queda do Sound cresceram, depois de matérias como o twitter comprando uma parcela de cerca de 11% da plataforma e informações da Forbes dizendo que o número vinha caindo, até chegar aquela mensagem – falsa ou não – sobre os “últimos 50 dias do Soundcloud”, artistas fazendo backup e tentando entender se era verdade e, eis que Chance The rapper, surge like a ranger e “salva” o site após uma conversa com o dono da plataforma e uma possível doação, projetos e outras coisas, visto que Chance deve muito ao Soundcloud, pois realmente fez parte da construção de sua ilustre carreira, fim de papo e em sua própria página foi disponibilizada a track “Big b’s” com o Young Thug como um presente aos fãs reais do site.

 “Se a negociação entre Chance e o CEO do Soundcloud deu certo ou não, veremos nos próximos passos…”

Hoje, o Soundcloud vive uma época entre o caos e a maresia, o que já valeu milhões pode estar passando por bons bocados e graças a colaboração de artistas que realmente fizeram pela plataforma, os serviços e contas pró permanecem intactos (conta geralmente usada por profissionais da música, diferente de Spotify etc). Conversas como monetização do Soundcloud e os milhões de plays nas contas do Lil uzi, Travis e XXX não param, se ajudaram ou não é um fato que não sabemos mas são artistas que vieram lá daquela conversa inicial deste artigo, fruto de ouvintes que procuram, pesquisam e conseguem achar música boa, os jogando lá em cima no topo dos artistas e ainda sim estando em um “hype” mais alternativo, pois o Soundcloud promove muito da identidade visual mesmo sendo uma plataforma apenas para áudio – afinal as capas falam e se unem a música.

E as notícias sobre o Soundcloud…

Por fim, os números atuais do Soundcloud são incertos, sabemos que com sete anos de existência a empresa chegou ao primeiro bilhão, no final de 2015 boatos sobre problemas financeiros começaram a rondar, parcela de porcentagem comprada pelo Twitter, já em 2016 notícias como a possível monetização dos sons para uma pequena parcela de artistas convidados pela plataforma, entre eles, Future, 21 Savage, Chance The Rapper e outros.

O que sabemos conforme declaração oficial é que, recentemente, já em 2017, 40% dos funcionários estariam sendo mandados embora, e empresas de compartilhamento como o We Transfer, oferecendo cerca de 10 mil dólares para os antigos funcionários, de maneira que eles parassem de procurar empregos e fizessem parte da equipe de inovação do site, pois bem, se a negociação entre Chance e o CEO do Soundcloud deu certo ou não, veremos nos próximos passos, mas deixo aqui um último adendo sobre a questão principal do artigo – Se o Soundcloud faz parte de um mercado para artistas experimentais e público que consome música em grande quantidade, porque o brasileiro não o recebeu da maneira como deveria ser feita? E serviços que apontam “música fácil”,(Spotify,etc) e por mais que o catálogo seja infinito funcionam como rádios dão super certo aqui? Seria o Brasileiro desacostumado a pesquisar música, esperando a arte cair em seu próprio colo? Isso nos levará para algumas questões em que abordarei no próximo artigo: “Arte e mercado: para que e pra quem?”. Até a próxima.