Diretamente de Minas Gerais, a jovem Clara Lima sempre se mostrou um prodígio no hip-hop. Com apenas 16 anos, já era figurinha carimbada nos Duelos de MC’s, sendo, inclusive, a primeira e única mulher que participou do duelo nacional de MC’s. Hoje, Clarinha já é figura consolidada no rap nacional surpreendendo com sua participação no “Poetas no Topo 3“, nas produções da 1Kilo e claro, no DV Tribo, grupo que ela integra ao lado de monstros da cena de Belo Horizonte.
Como foi o começo da sua jornada como MC em BH?
Em Abril de 2014 tive meu primeiro contato com o Rap através das Batalhas de MC, em Especial, a Seletiva Mineira da Liga feminina de MC’s, que foi uma batalha realmente voltada só para as minas. Dai eu já assistia alguns duelos na internet e já gostava de rap, então, quando fiquei sabendo dessa batalha feminina animei de participar. Fiquei muito ansiosa até o dia, fui campeã da seletiva em Belo Horizonte e dai pra frente comecei a conhecer o hip-hop, o rap e viver esse bagulho a cada dia mais um pouco.
Você ganhou destaque nas batalhas de MC’s, gostaria de saber como é para você, sendo mulher, se sobressair e ganhar notoriedade nacionalmente dentro de um modalidade do rap que existem tão poucas minas competindo e é cheio de rimas preconceituosas e misóginas. Isso te dava mais vontade de ganhar uma batalha? E qual foi o MC mais “casca grossa” de ganhar um duelo?
Para mim isso é motivo de resistência, pois quando isso acontece, uma mulher tem notoriedade, quando um preto tem notoriedade, são as portas que se abrem para que venham mais e mais cada vez mais. Acho que é o Chris, bagulho de irmão é foda né? hahahahaha Não tem jeito.
Você começou muito nova no meio do hip-hop, mas sua lírica sempre foi bastante madura em relação a sua idade, a que se deve isso?
Tive uma educação muito boa de Dona Heloísa (minha mãe), que sempre confiou muito em mim. Então, de fato, esse é o principal motivo de eu ser responsável desde mais nova, mas não por cobrança e sim, pelo o que me torno a cada dia, a cada passo que me mostra o valor real das coisas.
Como surgiu o DV Tribo? E como é a relação dentro do grupo?
DV Tribo era uma ideia de um Projeto do Hot Apocalipse e CoyoteBetz, que montaram um grupo, convocando a mim,Djonga, FBC e Oreia. Entre nós, já nos identificamos e convivíamos, a partir de 2015 começamos a sonhar juntos e e conseguimos uma força muito boa da nossa cidade p cena local , rompendo barreira!
Muitos MC’s que surgiram das batalhas de rima tendem a parar de batalhar eventualmente, você pretende continuar cantando rap e batalhando?
De uns meses pra cá já não tenho batalhado e não tenho planos de Batalhas mais. Foi uma parada verdadeira demais para mim, que me ajudou muito na vida pessoal e na minha caminhada. O sentido da vida é ir pra frente. hahahaha Então, lá vamos nos!
Por ser mulher em um ambiente que é, na maioria das vezes tomado por homens, como você lida com machismo que existe no meio?
Sempre fui de acreditar muito em tudo que quero e acho que tenho potencial de fazer e sempre lidei com muita garra, no rap não foi algo tão diferente do que se vive diariamente na sociedade. Então, o Rap foi só mais uma forma de eu mostrar através do que sei fazer e da forma que quero fazer, que sou digna de ocupar qualquer espaço!
E suas influências femininas no hip-hop, quem são? Muitas gurias se sentem bastante representadas por você, que é mulher negra e periférica. Atualmente existe uma discussão muito grande no hip-hop sobre questões raciais e de gênero, como tu enxerga tudo isso e o que na sua visão representa nessa discussão?
Pra falar melhor, minhas influências femininas no Rap são: Floras Matos, Cris SNJ, Tati Botelho,Young Ma e Lillte Simz, que escuto diariamente. Muito bom saber que hoje em dia eu trago uma representação foda pra essa grande minoria, que também me representa de forma recíproca. Então, é necessário que mais negros/pobres/periféricos estejam nas melhores escolas, nos melhores cargos e ocupando os lugares de destaques, pois somos capazes e temos o direito!
Você também foi atriz num curta-metragem que passou no festival de Cannes, como foi o convite? E fala um pouco como foi essa experiência.
A produtora Filme de Plásticos, de Belo Horizonte, já tinha o roteiro para o filme, que conta um pouco da história da Bia, que está formando no ensino médio e não quer prestar vestibular, diferente de toda sua turma. Dai surge alguns conflitos na escola e em casa, mostrando bem esse lado de ter que escolher seu caminho ali, virar adulto.
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Eles me conheceram através das Batalhas de Mcs e foram em uma batalha que eu estaria presente. Contaram sobre o filme, eu aceitei. Assim logo uma semana seguinte, já começamos as gravações. 12h por dia durante 5/6 dias. Uma das melhores experiências da minha vida, uma produção foda, uma representatividade muito foda, quando gravei, não sabia quão grande era isso e quão longe nos podemos ir.
E como está sendo o processo do seu primeiro disco? O que você pode adiantar pra gente?
Foi um processo construtivo muito importante para minha construção. Produção Coyote Beatz e Dj Spaider, tem beat do Fernal (Dogtown), participações Djonga e FBC. Posso dizer que estou muito satisfeita com tudo o que conseguimos. É um trabalho não tão grande, mas trazendo tudo de mim e desses meus 3,4 anos de RAP, os tão sonhados 18 de vida, e os corre nas quebrada.
Transgressão é o não comprimento de uma lei, de uma ordem coisas do tipo saca, quis botar na mesa algumas coisas que corrompem as pessoas e também dão poder, álcool (tira a sanidade), ouro, arma e dinheiro. As letras falam bem um papo reto sobre crime/favela, vivência de vários irmãos, mostrando o lado errado do caminho certo: negócios e rimas.