A aproximadamente 7 meses atrás, mais uma segunda-feira foi agraciada pelo Rap Box. Dessa vez o presente veio lá do Vale do Paraíba, Axel Alberigi a.k.a A.X.L. De Jacareí, veio até a capital paulista pra gravar o registro de “Herança Verde Escuro“, uma composição permeada de questões existenciais que ousa falar sobre o que é inerente ao homem, mas quase sempre passa despercebido, a consciência. “Essa música trata muito da questão do tempo. Vivemos fora do tempo Universal com esse calendário, fora do Tempo da Terra e isso muda nossa frequência. Temos 13 Luas de 28 dias, 13 meses, essa correria não existe, entende? Consigo compreender muito bem também a realidade que é imposta hoje e o que cada um precisa fazer pra se manter aqui. Mas os dias sempre chegam…”, explica.
Na oportunidade, como em todos os outros episódios, o Leo Casa 1 fez a entrevista que acompanha o single gravado no estúdio, e o Axel comentou sobre a vontade de fazer clipe pro registro. O motivo é de uma simplicidade complexa: “O cinema é uma das artes mais completas: som, imagem, cor. Eu gosto de pensar música, como imagens também”, explica Axel.
É inegável, quando um clipe é bem produzido se cria uma atmosfera totalmente única pra composição e foi exatamente isso que aconteceu. A maneira como foi gravado, quase sob uma perspectiva cubista, mostrando a realidade caótica, uma abordagem sobre o tempo e a perspectiva errada que nós temos sobre ele, juntamente com a edição, faz com que cada segundo da parte visual se encaixe perfeitamente no sentimento que a música transmite. O Axel explicou de onde veio essa inspiração: “A primeira parte do clipe retrata a humanidade dentro de uma cela, onde nossa divindade, interna e externa, se mostra apenas pelos reflexos do Sol. Ali tem frames de referências ao filme Pi de 1998.”
Não é brincadeira quando uma produção artística que questiona diversos valores falsos impostos pelo mundo, questiona sua realidade distorcida, questiona elementos da existência e promove o celebrar da consciência ao se lembrar dela te traz isso ao assistir o clipe, é de uma angústia profunda, bonita e necessária. O sentimento não é pouco, a necessidade que isso seja feito muito menos, e o Axel tem consciência disso: “Eu sinto que em algum ponto, o ponto da queda disso tudo que a gente vive, vai ser necessário transmitir uma forma de se viver pra humanidade. Ensinar um tratamento diferente com a Vida, a Vida Universal, para ter esse equilíbrio humano e divino que somos. Busco não julgar a arte que passa por mim e aprendo muito com isso. A responsabilidade é de todos nós.”
Não podia ser diferente, terra muito boa pro rap. Muita experiência nesse corre completando 10 anos de Rua do Flow e 10 anos do primeiro EP “Curta Metragem”. Muita dedicação no processo criativo. Cada uma das partes foi escrita separadamente, o beat foi terminado às 5 da manhã na manhã que ele iria pra São Paulo gravar, às 7, pra deixar com a atmosfera perfeita, criada de maneira intencional, pra que a música atinja seu objetivo em todos os âmbitos.
Quando eu questionei sobre o processo criativo e as possíveis dificuldades de transpassar tanto sentimento pro papel a resposta veio carregada da mesma sabedoria que me atinge todas as vezes que eu ouço Herança Verde Escuro: “O silêncio é um dos trabalhos mais importantes que cada um pode fazer para o bem de tudo, do Planeta, da consciência universal, pra si, pro próximo. A busca de ser uma pessoa melhor sempre, em nossas menores atitudes, nos detalhes, a vida é eterna é só evolução, nossa caminhada é longa. É muito bom poder nesse presente estar me expressando através da arte. Tenho aprendido muito com isso.”
Nós também temos aprendido muito com tudo isso, e enquanto o Axel foca seus pensamentos para o próximo disco eu vou focar o meu em aprender mais sobre o silêncio, a consciência e nosso papel aqui diante do caos. Sintam a pureza dessa arte:
Trecho da música
“Na rua em meio a estátuas de sal/ Me senti um preso em banho de Sol/ Por dentro o Armageddon pessoal/ O mundo de olho aberto é cego, razão principal/ A forma que Deus é visto aqui/ E como um filho seu passou aqui/ Mundo de um livro só, sem entender que há um nó em tudo que está por aqui/ Humano desconectado, bateu cabeça/ Matou floresta, dividiu a crença/ Inventou doença, inventou remédio/ Chance ao dinheiro, construiu prédios, limitou o acesso/ Justiça é processo, que implica todo resto”