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RND Entrevista | ‘Talvez um dia o trap seja o maior ritmo do universo’, diz Raffa Moreira

Rapidão. Antes de começar, só queria dizer algo que sai do coração de um dos fãs reais de Raffa Moreira: Raffa, continue irmão. Obrigado.

Perdoado o ataque de “fanboyismo” (rs), vamos aos fatos. Não é nenhuma novidade dizer que a “febre do trap” está em alta (já há um bom tempo) no nosso querido Rap nacional. Em um país onde o gênero tem suas raízes fincadas no boom bap, com a maioria das letras voltadas para o dia a dia da quebrada e suas mazelas sociais, o tão falado trap, um subgênero do rap popularizado em Atlanta, no fim da década de 90 e início dos anos 2000, pode desgraçar a cabeça do fã de rap tupiniquim mais “guardinha”, que, entre entre outras coisas, possui aquele tedioso hábito de contestar todo estilo de rap que não seja o tal “rap de protesto”.

Mas hoje não vamos nos atentar a isso. Com uma chuva de MC’s brasileiros fazendo (ou tentando fazer) trap, espontaneamente alguns se destacam mais que os outros. E bem, para alguém que acompanha a cena não é difícil perceber que um desses destaques atende pelo nome de Raffa Moreira. O trapstar de Guarulhos (SP) possui relevância no game principalmente por conhecer o subgênero “atlantense” como poucos. Raffa demonstra ter total noção do cenário onde o trap nasceu (um alô aos cozinheiros de crack) e como ele deve ser feito.

Dotado de uma visão mercadológica diferenciada, Raffa é muitas vezes julgado por gente que não gosta/não entende o seu som, mas não deixa de conhecer o “personagem”. Muito disso é explicado por conta de seus posts no Facebook/Twitter e suas tretas com a galera do Haikaiss e a marca de roupa/produtora Pineapple Supply. Só não se engane, Raffa vai muito além do hype. Em uma época do território nacional onde “todo dia um MC brasileiro revoluciona a cena (rs)”, Raffa Moreira, é sim, um artista a frente do seu tempo.

No bate-papo abaixo, Raffa detalha um pouco sobre as nuances do trap, fala sobre “pautas burguesas” nas letras de rap, elege as tracks preferidas de sua autoria e deixa um alfinetada a uma certa galera (momento Nelson Rubens). Sem mais delongas, com vocês, o primeiro e único, Raffa Moreira, mano!” Ah, todas as legendas das fotos da matéria são trechos de músicas do jovem Raffa.

Como você vem enxergando a cena do trap no Brasil?

– Legal. Uns caras bons, outros ruins… Está acontecendo, né? Porque é tudo bem novo por aqui. Eu acompanho tudo, escuto o que sai quando o artista me interessa, consumo o bagulho fazendo parte. Mas vale lembrar que nem toda música que tem um “beat trap” é trap…

Fale mais sobre a diferença entre ter um “beat trap” e ser um trap.

– Agora muita gente vai tentar pular na onda… Mas, você sabe… A cena é composta por uns nomes, tipo: eu, Derek, Mc Igu, Blackout, DaLua… Acho que só nós assim que fazemos trap. Os MC’s dessa cena, junto com a LowCliqueBoys de CWB e mais uns caras. Tipo tem MC, grupo, pegando beat trap e fazendo de uma forma genérica… Isso que eu quis dizer.

O que falta pro trap brasileiro chegar a um nível parecido ao trap feito lá fora?

– Não sei… Talvez o tempo passar para a coisa se expandir naturalmente. Lá fora tem muito mais dinheiro envolvido, investidores… Também tem mais gente consumindo. O rap é forte aqui e o trap é uma vertente, uma evolução. Talvez um dia o trap seja o maior ritmo do universo.

Como assim uma evolução, como se o boom bap tivesse ficado para trás?

– Não… Uma hora surge alguém com um beat bem orgânico como o boom bap e rouba a cena de novo… Só acho que é uma ramificação. Mas eu gosto muito mais de trap.

“Raffa, por que cê não estoura? Faz um som tipo Projota” (rs)

Em uma entrevista para a Noisey, você fala que viu o clipe “Yonkers”, do Tyler, e passou a acompanhar a cena mais de perto. Foi ali o ponta pé inicial para chegar ao estilo que você tem hoje?

– Não sei se foi o ponta pé inicial… Mas foi um ponta pé. Aquilo me inspirou e o Tyler me inspira muito sim. Eu já estava programando minha primeira faixa em 2012, tipo… A Odd Future foi foda.

Inegavelmente depois da “explosão Raffa Moreira” o gênero trap ganhou muito mais visibilidade e adeptos, você se considera um dos pioneiros do trap no Brasa?

– Risos. Você acha que eu tive uma explosão? Vários caras já faziam trap. A Six Face Máfia de SP, tipo, vários mesmo. O próprio Makalister dropava uns traps bem fodas ali em 2012…. Querendo ou não fazem 5 anos. É uma “cota”… Não sei se eu sou pioneiro, mas eu fiz de um jeito que eu fui primeiro.

Acredito que você teve, sim. Tipo, pessoas que nem conhecem seu som conhecem o personagem Raffa Moreira, não deixa de ser uma explosão em termos de mídia.

— Essa “fita” é foda. Nego nunca escutou uma música e manda “Raffa, pare irmão…”. Risos. Na verdade, isso é sensacional. Eu gosto da minha fama (ou má fama). Eu sou transparente com meus fãs, as vezes um pouco excêntrico, mas eu não forço nada. Eu sou assim. Tudo o que eu escrevo ou faço é quem eu sou… Pode escutar nas minhas músicas.

Quais são suas maiores influências internacionais e nacionais?

– Yuyu Hakusho, The Pursuit Of Happyness, Chiraq Rappers, Tyler The Creator, Emicida, Djavan e meu pai José Roberto.

“Raffa Raffa Rockstar! Raffa vai te aposentar!” – Rockstar

Qual a sua visão sobre “pautas burguesas” nas letras de rap?

– Se for a nível de “eu alcancei isso”, um nego fudido que cresceu e tem costumes burgueses… Tipo, banheira, champanhe caro. Isso tudo é foda. Agora burguesia filha da puta, tipo burgues de direita? Porra, quero que esses caras se fodam e fiquem longe do trap.

A gente sabe que já é um assunto batido, mas dá pra falar um pouco sobre aquela treta com o Qualy/Haikaiss?

– Ah, bro, melhor não…

E aquela história com a Pineapple?

— Eles me devem dinheiro, não pagaram. São caloteiros. Eu trabalhei e não recebi. Essa é minha versão. Me paga, bro!

Você se autodenomina um “rockstar”, quais elementos dessa vertente você introduz ao seu estilo de vida?

– Eu não sei se eu sou mais um rockstar… Zuêra! Risos. Não sei explicar. Mas as intensidades de certas pessoas fazem dela uma rockstar, ela querendo ou não.

Sua vida nas redes sociais costuma ser bastante ativa. Como você lida com os haters e a importância do hype?

– Acho que a palavra hype vai começar a dar vergonha alheia logo. Eu só uso ela para aloprar mesmo. Se o cara for bom no que faz, ele vai ter destaque. Hype passa. Mas é legal sempre estar sendo comentado. Eu gosto. E sobre os haters eu acho natural. O trap atrai haters naturalmente… Essa merda nasceu com traficantes de crack. Não é todo mundo que gosta de um traficante de crack. A coisa só virou comércio, mas, tipo… Foda-se esses moleques…

“Eles amam o Thug, mas desprezam o Raffa por causa do auto tune que eles não conseguem reproduzir como a todos MC’s do Brasil, que desprezam a evolução por causa da frustração própria” –  Sozinho no Sukyia feat Makalister Renton (Na foto, Derek, da Recayd Mob, a direita)

Qual a sua opinião sobre a ideia de que rap tem que ter cunho social em todas as letras?

– Qualquer coisa é cunho social dependendo do ponto de vista. Mas, sobre fazer umas músicas para tirar uma onda apenas, eu gosto disso. Tipo, escutar doidão… Porém em algum momento o MC tem que ter uma informação contundente. De cunho social ou filosófico, sei lá…

Ainda em cima disso, o que você pensa sobre “trap de mensagem”?

– Eu acho engraçado o jeito que uns MCS escrevem trap… mas, foda-se, sabe? Cada um no seu bagulho. Quem conhece sabe como tem que ser feito. Minha carreira está andando e eu estou adquirindo novos fãs… Então eu to foda-se para essas coisas. O conceito do Drill, que é o subgênero mais violento, é bem complexo para a cabeça do brasileiro, mas é similar a um Juninho da 10 do funk, que canta falando da violência, dos morros do Rio, etc…

Você é um artista com bastante sons na pista, quais são as suas as 5 músicas preferidas?

– O Mc Lan me falou que a minha melhor música é a Free Verse. Mas eu gosto da “Como Eu Te Conheci.” Também Motel, Print Na Briga, Festa em Aracaju… “Pow”, eu escuto minhas músicas sempre. Falando sério, eu gosto de todas.

Como anda a agenda de shows? Consegue se apresentar toda semana?

– Sábado, dia 2 de setembro, em Recife, no Estelita Bar. Sábado, dia 9 de setembro, em Joinville, no Let it Be Pub. Dia 14 de outubro, em Goiânia. E porra, eu não faço show todo final de semana… Mas acho que minha agenda está razoável em relação ao momento do mercado. Só quem está fazendo bastante show mesmo é playboy fazendo som pra playboy… Tipo a… (esse é o momento em que Raffa aplicou o famoso “descubra” e não quis citar nome, preferindo apenas largar no ar). Deixa pra lá isso, né? Eu to feliz. Tenho patrocínios de roupa, o Youtube me paga, Spotify e Itunes também, os shows que eu faço também me ajudam.

E isso é tudo, pessoal. Abaixo você confere as músicas preferidas do Raffa Moreira segundo o próprio. Pega a visão que a aula é grátis.

Como Eu te Conheci:

MOTEL:

Print Na Briga:

Festa em Aracajú:

E a preferida do MC Lan, Free Verse:

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