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RND Entrevista: Duzz está, apenas, “Aquecendo a Nave” para álbum que contará com 31 faixas

Em seu novo EP colaborativo com LR Beats, lançado há 9 dias — na penúltima quinta-feira (10) —, Duzz entrega, até o momento, sua melhor, e mais completa, versão. Mesmo sendo um prato cheio de rimas sobre amor, esperança, ódio, drogas, sexo, críticas ao sistema e a si mesmo, Aquecendo a Nave — como o próprio nome já diz — é apenas um aperitivo do que está por vir. O projeto é uma preparação para seu próximo álbum, “Além dos Satélites: Missão Renova“, que contará com 31 faixas e sairá em 2021.

Capa do EP. Foto: Tick Oliveira. Arte: Matt

Quatro faixas foram disponibilizadas pelo artista nas principais plataformas de streaming. Com pouco mais de uma semana de lançamento elas já somam mais de 1,5 mi de visualizações, apenas em seu canal do YouTube. O reconhecimento de Duzz é mais notável a cada lançamento, visto que, o artista conseguiu, pela primeira vez em sua carreira, que duas faixas alcançassem, simultaneamente, o “em alta” do Youtube em suas primeiras 24 horas de reprodução. 

Contra-capa do EP e tracklist.

Duzz explicou que o projeto surgiu dentro de um hiato durante o processo de criação de seu álbum. O artista disse que estava empolgado com o momento, mas foi afetado pela pandemia e por problemas pessoais. Em sua visão:

A vida pessoal estava se misturando com a profissional, e essas ocasiões deram uma retardada muito grande no processo do álbum — Duzz

Com seus fãs ansiosos e o pressionando para o lançamento de um trabalho, em Março, ele se juntou com LR. O músico contou que conheceu o produtor em seu segundo/terceiro ano de rap, e por conta de suas produções anteriores, como a de Edi Rock, e de outros artistas renomados da cena, Duzz já o tinha como uma referência na profissão. Quando os dois começaram a entrar em contato, LR ofereceu ao rapper um catálogo de beats, que, segundo o beatmaker: “só seriam vendidos para gringos”. Dessa oferta, Duzz escolheu 4 beats, que serão utilizados no primeiro álbum de sua carreira, que se encontra em processo de produção há dois anos. 

Após essa troca, os dois concordaram em fazer um EP de quarentena — “Aquecendo a Nave”. Duzz disse que demorou cerca de 6 meses desde a escolha dos beats, até o processo de finalização do projeto. A evolução e a identidade do rapper são visíveis nas 4 faixas. O artista deu declarações sobre como foram os processos de evolução de sua carreira desde o início, de molde do seu EP, para além das rimas, e dos principais impactos durante sua vida, que afetaram sua carreira artística: 

Estudei bastante, quando comecei, não tinha um ‘bagulho’ muito foda, demorei para fazer um som maneiro, reconheço isso. Comecei no interior, sem acesso nenhum, sem conhecimento, sem nenhuma pessoa próxima que fazia rap. Até meus 17/18 anos, eu era muito leigo. Depois que vim pra São Paulo consegui evoluir mais a minha música. Então ‘entrei na brisa’ de estudar a parada, a questão da construção, observei muita coisa, fui colocando isso ao lado do que eu era, do que eu gostava, e fui me descobrindo. Hoje, ouvindo o beat, já consigo fazer um desenho logo de cara, como encaixar a voz, o flow, um efeito a mais. Então, para conseguir deixar o projeto com a minha cara, ter esse autoconhecimento me favorece quando eu escuto um beat, tendo uma maior sensibilidade. Nesse caso foi essencial gravar com o Ecologyk, porque eu não sei os termos técnicos, só passo pra ele o que eu estou querendo fazer e ele consegue encontrar e deixar do jeito que eu estou falando.

Deu pra enxergar o que meu estudo fez, minha família era do interior, eu era o último filho, fui o único que saiu pra capital, tenho 3 irmãos, me joguei atrás da parada. Aí minha mina ficou grávida. Fui pro tudo ou nada, já ‘tava’ com umas 8 tattoos na cara, me internei ouvindo Trap o dia inteiro, pra entender porque tem uns caras que conseguem fazer algo tão ‘foda’, que soa tão bem. Nesse lance de observação, de paranoia, todo dia, fui criando alguns conceitos pessoais, consegui ter uma sensibilidade de bom e ruim. Foram dois anos que perdi muita noite, chorei muito sozinho, tinha muita desvantagem musical, tinha uma lírica interessante mas não sabia como fazer. Tentava colocar voz, backing vocal, pra tentar impressionar, aí minha percepção mudou quando fui gravar com os dois irmãos do Dnasty, que fazem o ‘bagulho’ muito fácil, fazem uma linha, colocam o ad-lib no lugar certo. Eles tem um poder e uma atitude de decisão na criação musical que é absurda, observei aquilo e levei pra mim. Então é vivência e muita neurose. Além da responsabilidade de ser pai, que é muito grande, essa ‘responsa’ pesou muito, fui pro tudo ou nada mesmo, ‘bagulho’ mudou minha vida 100% — Duzz

Ao ser perguntado sobre o que o motivou a fazer algo nesse estilo, com uma “temática extra-terrestre“, e qual a mensagem que ele deseja passar com esse tema, visível tanto no nome do EP “Aquecendo a Nave” e de seu futuro álbum “Além dos Satélites: Missão Renova”, quanto no tema explorado em diversas linhas no projeto lançado no último dia 10, o artista disse: 

Gosto muito de analogia e metáfora, prefiro falar que são metáforas. Não vou ficar pagando de louco, ‘vi uns bichos, ET, fui abduzido’, então falo que foi metáfora (risos). Quero deixar a metáfora de como se a gente estivesse recebendo um ensinamento, de evolução pessoal, de como a mudança do mundo começa a partir de nós, e assim mudamos as coisas ao nosso redor. Então minhas músicas são voltadas a: recebi mensagens, avisos e sinais de que a gente tem que evoluir pessoalmente, tem que ter respeito, conduta, amor ao próximo, que são sementes boas pra gente plantar pro nosso futuro. É o meu jeito de passar positividade para os fãs — Duzz

Após conseguir unir seu estilo, que “bebe da fonte” do Trap, com a identidade “raíz” do Hip-Hop, ao fazer a faixa de boombap chamada:De Volta Para o Futuro, Duzz comentou sobre a estética que predomina a cena atualmente e a importância de reforçar os reais fundamentos da cultura:

Acho que o problema não é produzir Trap, o problema real é o artista esquecer do Hip-Hop, esquecer de uns conceitos básicos da parada, até na questão de respeito mesmo. Vemos uma cena onde é muito mais fácil a galera se separar, apontar o dedo pra cara do outro, ao invés de falar: “o ‘bagulho’ é Hip-Hop, não vou perder minha energia com quem eu não gosto muito e vou investir minha energia em botar um cara da minha quebrada no feat, que tá no corre sincero” — Duzz

Ele também comentou a presença dos dois únicos feats do EP, Abayomi Six OkGucciBoy, que também rimaram na faixa “De Volta Para o Futuro”: 

Conheci o Abayomi de vivência, de estúdio, aí no dia de gravar a faixa com o GucciBoy, meu PC ‘tava’ dando problema, e o Abayomi já tinha ‘me dado um salve’ falando que qualquer problema relacionado a formatação, essas paradas de informática, era só chamar. Daí já dei um ‘salve’ nele, e já como os dois são da mesma quebrada, vieram juntos pro estúdio. O Abay deu um check-up no PC e disse que nunca tinha feito um boombap na vida, então a gente botou ele pra fazer seu primeiro naquele dia, foi uma música fruto de amizade. É muito importante, 2020, só trap, fazer um boombap, lembrar um pouco do Hip-Hop. E quando tive a ideia de fazer um scratch, o Abay me indicou o DJ Jamal, que já chegou com umas pick-up e fez os scratch da faixa — Duzz

Com a inclusão de 4 artistas negros nessa faixa (dois rappers, um beatmaker e um DJ), Duzz expôs sua visão sobre o papel dos brancos no Rap hoje em dia, gênero oriundo da cultura do Hip-Hop, de origem afro-americana: 

Eu sei da minha posição dentro do Rap atual, eu sou um moleque branco, tive muitos privilégios, não tem como negar. Então sei o quanto é importante artistas assim, olharem ao seu redor, e verem o que podem colaborar na parada, pra levar mais longe, fazer ser melhor. A gente é visitante na parada, tem que respeitar o que já tá criado, e colaborar com isso, aumentar essa parada. Como artista branco, nós precisamos ter essa noção, se estamos sendo bem recebidos, temos que colaborar, temos que somar — Duzz

Para finalizar as perguntas sobre o EP, Duzz comentou sobre a ideia do único clipe lançado no projeto, “Metamorfose Avalanche”, em que ele interpretou o Coringa, e sobre as críticas que recebeu: 

Clipe de “Metamorfose Avalanche”

Cheguei nessa ideia a partir do último filme do Coringa, achei ‘cabuloso’ o impacto que a parada dá. De estar fora da curva, mas você tem seus motivos. Na vida, mesmo com todos meus problemas, sempre via um final ‘dando bom’, por todo cenário acabei entrando fora da curva. Como vim parar aqui? Por quê minha música era muito ruim, e talvez hoje ela é aceitável? Ou talvez ela continue ruim para alguns, mas para tantos ela está sendo tão boa.

Já tinha uma ideia de fazer um clipe na pegada do filme, uma cena tipo aquela do Murray, do talk show. Minha ‘mina’ me deu a ideia de fazer igualzinho ao filme, entrar no palco daquele jeito, beijar uma ‘coroa’, e no final, ao invés de assassinar o cara, eu iria colocar o fone na cabeça do apresentador, e aí a música do clipe ia acabar e no fone ia ‘tá’ tocando a faixa 3, “Aquecendo a Nave”, mas ia ficar muito caro.

Tpires não desistiu da ideia, mas quis fazer algo parecido, ou próximo, e aí nessa a gente foi. Há quem diga que ficou cringe, há quem diga que ficou da hora, independente de qualquer coisa, acho ‘do caralho’ eu ter conseguido colocar essa minha sensação de ser eu, estar aqui fazendo o que eu faço e me sentindo as vezes o Coringa, é isso, to fazendo graça — Duzz


Perguntamos ao nosso público do twitter se alguém tinha alguma pergunta pra fazer pro Duzz e, dentre perguntas sobre trabalho, e outras descontraídas, essas foram as escolhidas:

Com certeza, quero lançar umas 3, 4, até 5 antes do álbum — Duzz


https://twitter.com/reiskkkj/status/1306595278506483713

Já peguei uns Tambaqui ‘cabuloso’, o maior acho que foi uns 26/27 Kg. Pai é pescador (risos) — Duzz


Sobre os próximos projetos, Duzz disse que já está começando a escolher os beats, junto com o Leal (Primeiramente), para um EP colaborativo entre os dois e Peu, beatmaker da UCLÃ. O rapper garante que o projeto sairá ainda esse ano e será lançado no canal da UCLÃ.

O artista também comentou qual sua relação com a UCLÃ, e se seu álbum será lançado em seu canal ou no deles, assim como os do Sos e do Sueth, que saíram recentemente:

Minha relação com a UCLÃ é diferente da dos meninos, o álbum vai sair pelo meu canal. Mas a UCLÃ tá comigo 100% do tempo, monitorando o projeto, onde eu preciso de algum auxílio eles chegam, fortalecem. No álbum tem 8 produtores (LR beats, Celo, Peu, Luke…). Como eu estou em São Paulo eu vou gravar com o Ecologyk, tem essa questão, mas a gente (da UCLÃ) vai finalizar o álbum junto, o China vai masterizar as faixas, a gente vai fazer mais uns clipes, é uma mistura de mãos se ajudando — Duzz

Duzz também comentou sobre os feats que estarão no álbum:

Kamaitachi, Rodrigo ZIN, fiz um convite pro Konai e pra AZZY, pra eles entrarem na mesma faixa, Leal e o Yung Buda já estão na mesma faixa, a Thai Flow (do rio). Tem uma música que eu fiz pensando no Sueth. E conheci o Borges pela internet recentemente, ‘nóis’ trocou ideia pela rede social, tenho vontade de mandar esse som pra ele, que tem o Sueth. É 31 faixas e eu quero chamar muita gente  — Duzz

Para finalizar, o artista comentou sua relação com o álbum, já que ele está sendo construído há 2 anos, sua expectativa com o projeto, como está sendo o processo de criação e o que podemos esperar:

Estou fazendo um álbum 100% pensando nos fãs, na galera que já me escuta mesmo. Acho que já tem gente pra caramba que me escuta, sou grato demais por essas pessoas que estão mandando salve positivo sempre, até quando eu bato umas neuroses com coisa que eu nem devia bater, coisa que os outros falam. A gente é ser humano, sou meio emocional também, ‘sensívelzão’ às vezes. O que eu fiz ali, 90% já tá pronto e isso aí foi totalmente pensado no meu fã, as músicas trazem muito do que eu me tornei como artista, mas trazem muito do que eu sei que a galera sempre gostou e gosta. Fui criando a parada pensando nisso e utilizando todo esse conhecimento, esse aprendizado, esse conceito e essa noção que eu ganhei nessa experiência que eu tive toda de querer me jogar e viver o Hip-Hop. Então tudo que eu adquiri nesse tempo, nesse período, tá nesse álbum, as melhores faixas que eu já fiz estão nesse álbum. A minha maior vontade é lançar esse álbum e ouvir da maioria dos meus fãs que eu não errei nenhuma faixa.

Teve beat que ficou na minha mão, tipo, meses, sabia exatamente o flow que eu ia fazer mas não sabia a letra, sabia todo o clima, a vibe, o feeling da música, mas ainda não tinha a letra, aí demorei 3/4 meses e “destravei a letra”. É o melhor que eu fiz até hoje, meu sonho é lançar até o meio do ano (2021), em abril ‘tá ligado’. Estou muito ansioso pra lançar, já to há dois anos fazendo, tem um monte de gente achando que é ‘caô’, que eu não vou conseguir lançar isso. Já tenho 36 músicas escritas, com beats selecionados, beats de amigos, nenhum de internet. 36 “esqueletadas”, 5 lançadas, já gravei mais 6 e faltam 20 músicas, vou voltar a gravação em paralelo a esse trabalho com o Leal, vou começar a gravar essas faixas do álbum. Espero que de Outubro até Novembro já tenha concluído de gravar todas elas pra no começo do ano já vir ‘dropando clipe’  — Duzz

As 5 faixas que já foram lançadas, e estarão no álbum, já somam mais de 28 milhões de visualizações, apenas no YouTube. São essas:


Informações sobre o artista Duzz:

  • Nome: Eduardo da Silva
  • Data de nascimento: 12/09/1995
  • Idade no momento da entrevista: 25 anos
  • Local em que nasceu: Avaré, São Paulo (interior)
  • Selo/Gravadora: UCLÃ
  • Como entrou na UCLÃ: Tpires, produtor audiovisual da UCLÃ, entrou em contato com Duzz, na época em que ele ainda fazia react para o Youtube, procurando um laço profissional. Então ao invés de “vender” o react, ele o “trocou” por uma oportunidade no Prefácio #9, uma das edições do primeiro projeto da UCLÃ, que consistia em dar oportunidade parar diversos artistas rimarem em beats do Peu, com gravações do Tpires. Então, em 3/4 meses a UCLÃ entrou em contato novamente com o rapper para “fortalecer o laço”.
  • Referências no Rap: Dentro do Rap, o artista disse que não tem muita referência musical, mas sim de posicionamento e conduta de carreira, como EmicidaKamauRashidProjota, que começaram a ficar em evidência em 2009/2010, época em que Duzz estava começando a se inserir no mundo do Rap. Ele justificou sua resposta dizendo: “quando eu vou falar de referência eu sinto o peso da parada”.