Pra começar, Black Thought, pra que isso mano? Numa cena com rappers monoflow de quilo e baciada, temos aqui uma aula de delivery, composição e como colocar as palavras certas nos lugares certos e no tempo certo para exprimir uma ideia. O tema do trampo é torrente de pensamento e, de fato, a forma de rimar a que somos apresentados representa isso muito bem. Na track de abertura, o MC da Filadélfia nos carrega com uma narrativa de fatos, que vai ligando uma linha a outra, como uma pessoa contando uma história numa conversa formal.
As participações também estão on point, Rapsody e Styles P mandam versos bons nas faixas que participam e não comprometem, porém, a MC tem um verso mais sólido, apesar dos dois serem colocados no bolso pelo Black Thought (sem novidades aqui), o único refrão no projeto fica por conta da KIRBY, artista da RocNation procurem saber.
Quanto à produção, 9th Wonder foi bem assertivo, não surpreende pela qualidade (não sei dizer se é uma coisa boa), os beats são excelentes e casam muito bem com a forma do MC, porém, 9th não sai de sua zona de conforto, com baterias agradáveis, mas nada novas, e samples picados de soul e funk dos anos 60 e 70, o que, de forma alguma, compromete a execução do projeto que é muito clean.
O grande destaque aqui, sem dúvida, são as barras, e amigos, que barras, Thought é impecável nos esquemas e surpreende demais encaixando rimas onde simplesmente não tem espaço, tipo isso aqui:
“Uh, I said Dostoyevsky meets Joe Pesci
Tired of staring at a glass half empty
Turning me from Dr. Sebi to cocking semi
It got me clutching my machete from the Serengeti already
Wild Styles and Fab Five Freddy“
O trampo tem apenas 5 faixas (espero que o próximo volume venha em breve), aproximadamente 20 minutos e vale muito o play. Streams of Thought surpreende num mar de traps e mumblers, um projeto de boombap em 2018, com boa produção (apesar do lugar comum, como disse ali pra cima), ótimas rimas e referencias construtivas.
É isso aí! Deuces.