O grupo é formado pelos MCs Febem e Flip, além do DJ Sleet, e dá pra garantir que os três brilharam em suas performances. Os dois rappers demonstraram não só muita técnica e versatilidade, tanto nos flows, métricas e temas abordados, mas também uma escrita cheia de sarcasmo e desprendimento com o average rapper que nós vemos ai. Eles têm umas linhas com um humor ácido, bem sujo mesmo, e não se censuram sobre tema algum, tornando as letras bem interessantes. As habilidades individuais de cada um também são facilmente notáveis: o Flip é bastante versátil em esquemas de rimas, e tem talento pra lançar um flow mais cantado aqui e ali (também mandou bem nos refrões, como no da “Acima do Chão”), enquanto o Febem tem um flow bem influenciado pelo trap e umas punchlines sinistras. Eu citei o DJ no mesmo parágrafo dos rappers porque, além de ele mandar benzão nos scratches, ele acaba fazendo também o papel de um 3º MC: ao longo do disco rolam várias colagens, que interagem com as linhas dos rappers. Dá pra perceber isso nitidamente na track “A Peste”.
A produção tá simplesmente de parabéns. Mesmo com a grande influência da “golden era”, nítida até mesmo no nome do disco, não há nada de unidimensional nos instrumentais, muito pelo contrário. Alguns beats dão umas viradas locas, e rola até alguns traps sujíssimos. A influência do trap e do grime é nítida mesmo quando a base segue uma linha mais tradicional: do nada surge um 808, uma bateria diferente, e sem perder a proposta original da música, interessante pra carai. Como ouvi o álbum pelo Spotify, não sei ao certo quem produziu qual track; mas vi uma entrevista dos caras onde eles disseram que nomes como SPVIC e Jaybeats, entre outros, assinaram instrumentais. Dá pra afirmar que todos os beatmakers envolvidos mandaram bem pra carai, desde o cara que destravou o funk e a música black na “Cadillac Dinossauros”, até o que produziu a relaxante “Largando Rhymes”.
O álbum é bastante coeso, as músicas são fiéis à proposta geral, e os feats agregaram bastante: os membros do Haikaiss, os nossos parças do Nectar (que track amigos, puta que pariu, quando o beat começa a virar pro trap o sujeito goza), o fera Jamés Ventura e o rei dos memes Doncesão, pra citar alguns, cumpriram muito bem sua função e nos presentearam com participações de alto nível. Uma parada que eu percebi e não sei se foi proposital foi a organização das tracks: a 1ª metade do CD contém as faixas mais densas e caóticas, e o disco vai se suavizando conforme o final vai chegando. Com certeza o “Goldensgoto” vai ficar no meu repeat por um bom tempo, e entra na minha listinha de fim de ano (nóis vai soltar semana que vem, perde não). E é isso meu bonde, não fechem a aba do blog que vamo soltar mais fogo ao melhor estilo Charizard. Até!