LAHuss: Ao mic, esse gordo é surpreendente. As punchlines dele usando referências nada ortodoxas no gênero me deixaram impressionado. Falando de flow, ele também varia bastante, usando de levadas viciantes em diversas faixas, como na “Calma Calma” e na “Bolando nas King Size”. Curti demais a métrica, bem flexível; e algo que soou como diferencial é a maneira como ele brinca com a sonoridade e a pronúncia de algumas palavras que passam a rimar e/ou encaixar melhor nas métricas e nos flows. Dá pra observar isso no refrão da “Abastecendo os Deejays”, e por falar nela, ai vai um trechinho pra mostrar a proficiência lírica do Raphão:
Sim! Alaafin, o rei sucessor
Manda vir pra mim no estilo exportador
Tem fazendas de rap com MC reprodutor
É tempo de colheita tô passando meu trator, licença
Porque não tem batida light
Avisa pro cliente que aqui é top quality
O som busca em casa tipo serviço de valet (“Abastecendo os Deejays”)
As produções do disco também tão num nível altíssimo. Embora elas estejam em torno da música negra, os beatmakers conseguiram beber de várias fontes: desde o funk, passando até por solos de guitarra. Há uma mescla entre beats sampleados e outros limpos, e também uma boa dose de instrumentos orgânicos. A já citada “Calma Calma” e a “Talento É Trabalho” contam com os beats que mais me agradaram. Além disso, destaque pras faixas instrumentais curtinhas, que vão conectando o álbum, que tá bem coeso musicalmente: tracks como a “Eu Gosto” e a “Vinheta 3” chegam até a se comunicar na transição de uma pra outra.
Kray: Surgindo com uma das surpresas do ano, “Eu Gosto” é uma excelente estreia do Raphão Alaafin, que muitos devem conhecer do recente verso em “Mandume” do Emicida ou da suas faixas promocionais – “Cuidado! Tem Guardinha no Rap” ou “Talento é Trabalho”, está última com um clipe que reúne inúmeros nomes da cena nacional Raphão não é o típico MC. Suas músicas não seguem as estruturas mais tradicionais, verso/refrão/verso/refrão/verso ou ainda as tradicionais 16 linhas. Todas as faixas tem elementos únicos: versos longos, versos curtos, refrãos longos, músicas sem refrão ou refrão de uma linha. Tudo isso é claro com uma levada de dar inveja a muitos MC’s por aí. Sem contar que muitas faixas contém scratchs, samples e variações nas produções, o que torna tudo mais singular.
Falando de produção, o disco possui muita influência de jazz, um pouco de afrobeat e, obviamente, referências ao rap, tanto nacional quanto internacional. Algo que reflete nas letras, ajudam a construir a estrutura única de cada faixa e criam a atmosfera do álbum. Entendo que a temática do Alaafin era se apresentar para o público, mostrar seus gostos, mostrar sua perspectiva de certas críticas que a cena recebe (como o controle de assuntos para as músicas de rap) e acima de tudo se divertir. Sobre esse último ponto, diferente de muitos álbuns que tem ido por uma linha mais série, Raphão literalmente se diverte com as produções animadas e punchlines ou trocadilhos engraçados. Uma excelente estreia, com grande chance de ser citado entre os melhores do ano.
LAHuss: Em relação ao disco como um todo, ele tá bem lapidado e executado. As temáticas variam, desde a visão do Raphão sobre os conservadores do rap, às aspirações dele no jogo, tendo espaço até pra love song, mas nada clichê nem repetitivo. Os feats, como o KL Jay nos riscos e a Lurdez da Luz, chegaram somando bem. As poucas falhas no transcorrer do trabalho são facilmente apontáveis (a duração prolongada da “Rap Sim, Rap Não”, que torna ela chata no final, por exemplo), mas não atrapalham em nada o andamento total. O álbum chega como quem não quer nada, parecendo despretensioso, mas chega um ponto que ce já tá envolvido e curtindo a vera. Belíssima obra, e é isso! Não fechem a aba do blog porque tamo soltando mais pedra que os pokemon do Brock. Até!