Fala, bonde! Menino Huss trazendo mais um trabalho do rap nacional pra pauta! O escolhido dessa vez foi o álbum recém-lançado do grupo carioca 3030, o “Entre a Carne e A Alma”. Após um belo debute com o “Quinta Dimensão”, os caras caíram no gosto de muitos ouvintes, e um novo CD era esperado. Já que as músicas tão na rua, vamos à resenha!
Em se tratando da parte lírica, tenho pontos positivos e negativos a destacar. A pegada subjetivista e heterodoxa dos rappers Rod e LK, cujos fãs já estavam acostumados, persistiu. Não notei, entretanto, muita ousadia e agressividade lírica por parte deles. Tal fato, além da sonoridade um pouco repetida entre versos de diferentes faixas, tornou o trabalho um pouco maçante. O vocalista Bruno Chelles, em contrapartida, dá uma aula de refrões e introduz elementos do R&B e da MPB nas tracks de uma forma impressionante, sendo destaque em várias tracks. Mesmo com os deslizes já citados, há faixas onde os cariocas surpreendem ao mic, como na sincrética “Ogum” e na minha fan favorite “Rir Pra Não Chorar”, da qual pude retirar, entre outras boas linhas, estas do LK:
É clínico o quadro a cooperação com o bem é um dever
Tanto quanto a não cooperação com o mal devia ser
Já dizia o líder Luther King
E outra não fode, hoje eu entendo o que é viver sendo ferro Freud (“Rir Pra Não Chorar”)
A produção é com certeza o destaque maior do álbum. Os beats são majoritariamente produzidos pelo LK, e há diversos instrumentos orgânicos incorporados às faixas, desde o clarinete, passando à guitarra e até sanfona. Percebe-se bem a mescla proposta com outros gêneros musicais, e mantém-se uma atmosfera bem chill out durante todo o trabalho. A variedade de instrumentos dinamiza as produções, e nesse quesito, as tracks “Luz em Todo Morro” (que me remeteu muito às musicas do Jorge Ben) e “Horizonte do Barraco” (que tem uma drumline hipnotizante e uns synths maneiríssimos, além de um killer clarinete) são os meus destaques.
O conceito do álbum, que se explicita logo no título, poderia ser melhor aproveitado. O início e o fim do CD até agregam alguns temas esotéricos, mas no “recheio” do álbum a maioria absoluta das faixas trata apenas dos temas mundanos, e dá uma ênfase inusitada as favelas. Minha crítica aqui não vai à temática por ela mesma, mas sim pelo desvio do enredo originalmente proposto pelo grupo. Senti que o 3030 evolui bastante musicalmente, mas deixou a desejar na parte lírica e também conceitualmente, tendo como parâmetro o disco anterior, no qual as faixas eram mais ligadas ao tema proposto e os MCs apresentaram mais conteúdo em termos de punchlines, variação de flows e diferenciação de métrica.
Ainda assim, é um trabalho que vale a pena ser ouvido pela maneira clara com a qual os três membros expuseram seus pensamentos, como também pela produção que englobou elementos múltiplos da música brasileira, criando uma sonoridade bem agradável, que inova e homenageia ao mesmo tempo. E é isso, não feche a aba do blog que aí vem mais review pesada nesse 2º semestre que promete! Até!