Já começo falando sobre as produções do trabalho: Estão presentes beats pra cima e mais calmos, com características do trap e do boom bap, mas como tamo falando de uma mixtape, essa variedade não é motivo de perda de coesão, já que o objetivo aqui é apenas exibir rap sem muito compromisso com linearidade e pá. A grande maioria dos beats é inédita (com exceção da “Procede pt. 2”, que usa o instrumental da “My 1st Song” do Jigga). Dentre as produções exclusivas da tape, há momentos ótimos, como o uso lindo de samples na “Vai Na Fé”, alem da produção chill da “Refé” e o instrumental agitado da “Sem Medo”. Há, entretanto, situações onde faltou originalidade, como no beat da “Sabe Pai”, que usa o mesmo sample da “Power Trip” do J. Cole e, embora original, tenha usado a mesma fórmula da track gringa.
Ao mic, o Heli tem pontos a serem elogiados e outros que podem ser corrigidos. O cara tem o bom e versátil uso dos flows como seu ponto forte: ele saber usar a “flipada” de forma original e também desacelerar pra dar um contraste que soa bem aos ouvidos. Algo que me incomodou na lírica dele, porém, foi o notável uso de rimas pobres (de verbos com verbos, por exemplo) e de umas frases meio clichê, dessas que ce acha em post do Facebook. Felizmente, isso tá bem mesclado com alguns momentos bons do Brown, onde ele solta umas rimas internas inteligentes e trocadilhos originais. Isso pode ser percebido na “Séloko”, que talvez seja a faixa mais descontraída da tape. Repara nesse trechinho aqui:
Bom, deixe me ir, pique Cartola
Que hoje eu vou de sola
Na saída no infra
trombo uma ninfa, que tio!
se ela passasse na frente do Ray Charles
ele viraria pro Stevie Wonder e falaria: “cê viu?!” (“Séloko”)
Durante toda tape, o Helibrown rima na maioria das vezes sobre temas bem pessoais e introspectivos, mandando versos de incentivo e motivação, o que torna a “ouvida” do trabalho por completo um pouco maçante. Por outro lado, vale a pena destacar as inúmeras participações de nomes como Rashid, Max BO, Coruja BC1, DJ Nyack, entre vários outros. Dentre esses feats, curti pra caramba o verso do já citado Rashid, como também o do Flow e o 1º dentre os dois do Gah MC.
A mixtape é sólida, mas deixa a impressão de que o rapper poderia ter ousado mais, visto que ele apresentou um grande potencial lírico em algumas linhas de várias faixas, mas não mostrou estabilidade nesse quesito. E é isso, mes amis, não desgrudem do blog mais pica que aí vem mais pedra que peito de punheteiro. Até!